Vem aí o 12 de outubro, o dia dos pequeninos. Esta coluna, portanto, é dedicada às crianças, elas que serão as herdeiras de um mundo fabricado por nós, adultos e senhores das rédeas e dos poderes que comandam a civilização do agora. E o sentido da coluna de hoje, meu leitor, é dos mais importantes e elevados, porque propõe uma estrada de mão dupla: na pista de ida indicaremos belíssimos livros infantis aos pequenos, ao passo que na pista da volta exortaremos os adultos a retornarem às crianças que foram para um criterioso exame de consciência.
Tratemos, primeiro, dos pequenos. A indicação de boas obras é o desiderato fundante desta recente coluna literária, concebida para fazer crescer e frutificar a alegria dos livros, esta felicidade que é minha, que é sua, que é de todos nós. Fizemos aqui uma breve compilação de preciosos livrinhos infantis, todos confeccionados em caprichadas edições:
I – A maior flor do mundo (José Saramago): o Nobel português, que julgava não saber escrever para crianças, deixou-nos esta doce fábula e, ao final, confidenciou seu desejo: “Quem sabe se um dia virei a ler outra vez esta história, escrita por ti que me lês, mas muito mais bonita?”;
II – Se os tubarões fossem homens? (Bertold Brecht): disse o famoso dramaturgo alemão que “pensar é um dos melhores prazeres da raça humana”. Esta sua historieta sobre tubarões (os fortes) que dominam tiranicamente os peixinhos (os fracos) evoca pensamentos ligados à justiça no mundo;
III – O gato e o escuro (Mia Couto): o premiado moçambicano traz esta história contra o medo. Da mesma forma que “uma criança converte o mundo inteiro num brinquedo”, Mia brinca com a língua portuguesa de um jeito que só ele consegue fazer;
IV – Rosa Maria no Castelo Encantado (Erico Veríssimo): um conto de fadas que (re)une famosos contos de fadas deste homem que é uma referência cardeal da literatura brasileira;
V – As rosas inglesas (Madonna): este é o primeiro de uma série de 5 livros infantis escritos pela popstar Madonna. Este, que trata da inveja de forma comovente, angariou ótimas críticas;
Agora, uma palavra aos adultos. A criança que você foi se orgulharia do adulto que você se tornou? Você se esforça para deixar um mundo saudável para a geração do porvir? Já perto do fim da vida, disse José Saramago: “Tentei não fazer nada na vida que pudesse envergonhar o menino que fui”. Eis aí um bonito modo de medir o nível da sua ética em tudo o que você faz na sua vida pública e privada.
Motivos para incentivar a leitura de livros infantis:
1 – É o óbvio ululante dizer que a leitura enriquece a vida humana. Só há ganho no campo dos livros. E quanto mais cedo, melhor;
2 – Os livros infantis costumam abordar ludicamente sentimentos elevados da humanidade: amizade, solidariedade, fraternidade, respeito ao meio ambiente e a todas as formas de vida, senso de justiça, etc. Há muitos adultos que abandonam esses valores, e sobre isso novamente citamos um rico pensamento de José Saramago: “E se as histórias para crianças passassem a ser de leitura obrigatória para os adultos? Seriam eles capazes de aprender realmente o que há tanto tempo têm andado a ensinar?”;
3 – Confira no histórico de obras de seus escritores favoritos se lá constam livros infantis. Não raro escritores(as) que amamos os têm no currículo e nem sabíamos disso. Além dos já citados, lembramos de Victor Hugo, Elena Ferrante, Afonso Cruz, Clarice Lispector, Carlos Drummond, Miguel Sousa Tavares…Descubra outros e nos conte.
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