Algumas pessoas, quando recebem notícias que não lhes agradam, descontam sua raiva ou frustração no mensageiro. Só um bom tempo depois elas, ao se acalmarem, perceberão que este foi apenas o portador da mensagem, não o criador da situação que as desagradou. Assim acontece às vezes com a Imprensa, criticada por informar sobre um fato que ela não gerou, não teria poder de alterar ou evitar.
A pandemia é um fato, com todo o seu cabedal de transtornos às atividades, para não falar das centenas de milhares de indivíduos mortos e dos milhões que ainda estão em hospitais ou com sequelas a serem tratadas. Deixar de informar sobre ela e suas consequências só deixará as pessoas mais desinformadas ainda. Claro, existem ovelhas ruins no rebanho da imprensa, como em qualquer atividade humana, e também aqueles que se aproveitam da queda na obrigatoriedade do diploma para não só exercer esta profissão como ainda tentar (com sua irresponsabilidade) levar todos os jornalistas para a vala comum da mediocridade.
Mas existem também as pessoas que tentam perceber aonde tudo isso nos levará. Que acompanham as informações, filtram para separar o que não tem qualidade, analisam os fatos e buscam extrair daí o cenário mais possível de acontecer. Não são paranormais ou profetas, apenas pessoas que tentam caminhar à frente da multidão para conhecer o caminho que todos estão trilhando, ver o que será encontrado lá na frente e avisar sobre isso para que todos se preparem. Mais ou menos como os batedores que vão na frente da tropa fazendo o reconhecimento do terreno, nas manobras militares.
Um crítico anônimo – Digo tudo isto por causa de uma mensagem em que um anônimo, que teria perdido recursos com a chegada dessa pandemia, me endereçou numa rede social. Para ele, um jornalista não poderia criticar um comerciante porque ele pode ser o patrocinador do jornal, e se ele não ganha não tem anúncio. A pessoa que comete tal raciocínio, quase propondo a censura econômica aos jornalistas, pareceu acreditar que se estes se calassem a sua empresa prosperaria. Talvez, mas seria bom para a sociedade esquecer os aspectos morais da questão, a ética do jornalista?
Não quero gastar o tempo dos leitores com o raciocínio de pessoas que se acham acima de todos e ainda acusam os jornalistas de arrogantes por não pensar como elas. O que sempre mostrei nestas colunas, e o tempo vai confirmando, é que um trauma como o do Covid não permitirá que tudo volte ao antigo normal: as pessoas e empresas já incorporaram novos hábitos e cuidados, e principalmente aprenderam que as mudanças comportamentais, mesmo intempestivas, custosas e forçadas, tendem a ser benéficas e – por isso mesmo, vieram para ficar. Até porque, depois de tanto investimento em adaptações, ninguém vai querer jogar no lixo essa nova e vantajosa estrutura – ao contrário, a tendência é ampliá-la.
Quem quiser, pode ficar parado no tempo, lamentando os prejuízos, procurando culpados – entre eles os mensageiros. Enquanto isso, os mais espertos verificam de onde sopra o vento, agradecem pelas brisas novas que chegam, se adaptam ao tempo novo e aproveitam o pioneirismo para conquistar os novos nichos de mercado que surgem a cada dia – e, claro, tomar os espaços que os antigos empresários, inertes ante as novas demandas da sociedade, preferem desprezar (e perder).
Dicas para os espertos – Sim, o comércio precisa mudar suas práticas, e quem mudou já está se equilibrando e investindo no crescimento, se é que já não encontrou novas minas de ouro para explorar. Os centros comerciais, já dei a dica, têm a oportunidade de se alinharem com as indústrias e grandes empresas, para explorar o segmento de demonstração de produtos, algo semelhante ao que já é feito em espaços restritos pelas grandes feiras setoriais do pavilhão paulistano Anhembi e seus sucessores e adaptando aos novos tempos o que a Feira de Utilidades Domésticas (UD) fez por mais de 50 anos (até 2002).
Muitas empresas descobriram as vantagens do teletrabalho e já anunciaram que a tendência não tem volta. Uma pesquisa em 17 países, inclusive o Brasil, feita em junho pela empresa de cibersegurança Fortinet, indicou que cerca de 30% das empresas já decidiram adotar o novo sistema em definitivo para um mínimo de metade de seus funcionários. Empresas como YPF, Petrobrás, Jaguar Mining… E eu vivi para ver uma paralisação de trabalhadores por quererem a continuidade do teletrabalho, o mesmo que eu já fazia em 1980, quando quem não compreendia achava ser apenas vagabundagem – embora eu produzisse e distribuísse dessa forma uma gama de colunas e páginas de material especializado para inúmeras publicações do Brasil e do exterior.
Donos de mercadinhos, profissionais de design de interiores, arquitetos, urbanistas e construtores imobiliários e todos os meus demais 17 leitores (Zêgo, onde estiveres, saberás que lembrei da tua expressão favorita…) têm recebido nestas colunas exemplos do que está sendo feito em outros lugares do Brasil e do mundo, anotações sobre como serão as próximas demandas de seus clientes… sugestões enfim que podem aplicar em suas atividades, para captar os ventos das mudanças cada vez mais próximas.
Este mensageiro lamenta “cada morte” ocorrida no mundo pela pandemia (não é apenas um número que vai mudando na tela a cada instante!). Lamenta mais ainda a insensibilidade daqueles que apenas olham para seu umbigo e criticam quem faz algo. Mas continuará em sua missão, enquanto os leitores assim quiserem.
Sede brasileira da Yacimientos Petroliferos Fiscales, a argentina YPF, que anunciou em setembro ter aderido definitivamente ao teletrabalho
Divulgação/YPF
Relatório da Fortinet mostra que a mudança veio para ficar
Imagens: captura de tela/Fortinet
A Jaguar Mining Inc., instalou em Belo Horizonte, no dia 1º de outubro, o seu espaço de “coworking”, ajustando-se à nova tendência do teletrabalho
Divulgação/Jaguar
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