Em 2008, tivemos uma das maiores crises financeiras da história, com os Estados Unidos sofrendo uma grande represália devido a chamada "bolha imobiliária", com os imóveis tendo recebido um aumento muito superior ao seu valor real. Quando essa "bolha" estourou, veio a desconfiança no mercado, empresas diminuindo investimentos, bancos dificultando empréstimos e demissões em massa. Com isso, o caos estava instalado e é nesse contexto que Amor Sem Escalas tenta se encaixar, lançando sua atenção ao mundo corporativo e tendo como tema principal o enfoque em personagens especializados nessa função: demitir. É um filme bem simples, que ganhou uma atenção maior do que necessária na época de seu lançamento, mas que agrada pela maneira simples que desenvolve sua história, sem apelar para momentos dramáticos apenas para emocionar o público.
No filme, Ryan Bingham (George Clooney) tem por função demitir pessoas. Por estar acostumado com o desespero e a angústia alheios, ele mesmo se tornou uma pessoa fria. Além disto, Ryan adora seu trabalho. Ele sempre usa um terno e carrega uma maleta, viajando para diversos cantos do país. Até que seu chefe contrata a arrogante Natalie Keener (Anna Kendrick), que desenvolveu um sistema de videoconferência onde as pessoas poderão ser demitidas sem que seja necessário deixar o escritório. Este sistema, caso seja implementado, põe em risco o emprego de Ryan. Ele passa então a tentar convencê-la do erro que é sua implementação, viajando com Anna para mostrar a realidade de seu trabalho. O filme é dirigido por Jason Reitman, que inicialmente começa seu filme de maneira irônica mudando ao longo da trama para um lado mais trágico, com seu protagonista passando a fazer diversos questionamentos sobre si mesmo e o tipo de vida que leva. Mostrando um maior amadurecimento em comparação a seus trabalhos anteriores, o diretor já ilustra com elegância, a familiaridade de seu protagonista com as viagens: repare como ele retrata o sujeito arrumando sua bagagem como se fosse um especialista em artes marciais, o que é ajudado pelos efeitos sonoros e pela ágil montagem.
O roteiro, também assinado pelo diretor, contém pitadas de um humor sarcástico, que é característico dos filmes do diretor, porém prefere focar mais na relação de seu protagonista com os demais personagens, criando um interessante estudo de personagem que aborda questões como família, lealdade e casamento. Os diálogos inteligentes, irônico e afiados, criam uma narrativa de ritmo agradável, permitindo que os questionamentos que o protagonista começa a se fazer se tornem mais naturais, o que torna o filme mais melancólico, o que o torna vulnerável e mais humano ao olhos do público. Mas, Amor Sem Escalas derrapa feio em sua irregular narrativa, com alguns clichês irritantes e pavorosos, como na cena do desabafo do protagonista em um lugar público ou quando tem que lidar com uma crise de seu cunhado.
Sempre carismático e cada vez mais remetendo aos grandes galãs do passado, George Clooney (que sobressai em seu talento justamente por escolher seus papéis a dedo), consegue manter um equilíbrio exato entre drama e comédia. Clooney ofere camadas ao personagem, transitando com eficácia da frieza inicial à posterior vulnerabilidade, mostrando que no fundo é um homem com frustrações e falhas. Já Vera Farmiga, é a versão masculina do protagonista: inteligente e com uma postura firme e independente, a atriz também consegue se destacar.
Amor Sem Escalas passa longe de ser um grande filme, mas ganha alguns pontos graças ao interessante estudo de personagem que se propõe a fazer e por finalizar uma história que, inicialmente parecia despretensiosa, com um corajoso desfecho, que é triste e um tanto trágico ao retratar com sensibilidade grandes questões e decepções em nossa vida.
Curiosidades: A crise econômica mundial mudou completamente o tom do filme, já que o exibido em cena é mais realista do que se o filme tivesse sido feito anos antes, com a economia fortalecida.