O que muitos esperavam fosse uma crise passageira, com começo, meio e fim, vai se tornando algo quase permanente. Depois de imobilizar as pessoas em suas casas, a pandemia parece imobilizada, nos tristes números que parecem não despencar nunca. Quem desejou juntar o Carnaval com o Natal seguinte, agora se arrepende e começa a pensar que vamos acabar juntando Carnaval com Carnaval – sem micareta no meio.
Para enfrentar esta situação, as pessoas já buscam soluções mais permanentes, como prevíamos. Não mais o improviso destinado a durar alguns dias, mas uma mudança em costumes, formas de trabalho, estudo e lazer. Formas de comprar e vender produtos e serviços. O “novo normal” começa a tomar forma.
Impactos – O mercado imobiliário é parte deste processo, como alerta o consultor e especialista Rafael Scodelario, que também aponta para as oportunidades: “Com o distanciamento social, enquanto muitas pessoas ainda estiverem trabalhando de suas casas, também deve haver queda de preços e transações entre os imóveis comerciais. Ainda neste nicho, devemos observar uma queda nos preços de aluguel, seguida pela depreciação dos preços de compra e venda, já que com aluguéis mais baratos os imóveis comerciais também se tornam menos atrativos enquanto investimento”.
Ele continua: “Para o segmento residencial, que também sofrerá impactos negativos, a queda no volume de transações e preços deve ser menos acentuada, porque a necessidade básica de moradia sustenta mais firmemente a demanda residencial, em especial no mercado de locação.”
Atrativos – Rafael aponta: “Neste aspecto, pode surgir um primeiro tipo de oportunidade: para fins de investimento (compra de um imóvel para fins de rendimentos do aluguel), imóveis residenciais devem se tornar relativamente mais atrativos do que os comerciais durante o período de crise. Se na crise atual os preços do mercado de aluguel residencial se mostram de fato mais resilientes do que os preços de outros ativos (imobiliários e financeiros), certamente há espaço para mais investimentos nestes novos fundos e tipos de imóveis, a retornos relativamente mais altos do que em investimentos alternativos”.
Pós-crise – Ele cita haver uma espécie de consenso entre especialistas de que o distanciamento social deve mudar as relações de consumo da sociedade, não apenas causando uma diminuição relativa no volume de transações presenciais durante a crise, mas também permanentemente, devido aos traumas que o quadro atual de contaminação deve deixar.
A própria maneira como imóveis serão transacionados dificilmente será igual à forma como era antes da pandemia: “Já existem tecnologias a serem aproveitadas, como aplicativos e ferramentas de avaliação ‘online’, visita virtual, ‘show-rooms’, registros imobiliários virtuais, dentre outras. Observar tais tecnologias mais disseminadas e funcionando no mundo desenvolvido também traz uma perspectiva otimista para o mercado imobiliário brasileiro”.
Conclui: “Esgotar cada uma das possibilidades que a crise traz, neste momento, é praticamente impossível. Muitas delas ainda devem surgir durante o decorrer da pandemia e seus reflexos. Outras não são tão fáceis de se enxergar agora. Por isso é preciso estar atento, informado, ter coragem e visão clara para não as desperdiçar. E algum otimismo, em meio ao caos”.
Expo – Vale relembrar que em colunas anteriores comentamos sobre o negócio dos centros comerciais, salientando um outro aspecto das mudanças: com as pessoas cada vez mais comprando pela Internet, as lojas de cara manutenção precisarão se remodelar, e uma sugestão que demos é que elas se transformem em vitrines totais, apenas com demonstradores, sem equipe de vendas. Seriam patrocinadas pelas diferentes marcas, pelos fabricantes, tornando-se uma versão perene das antigas feiras anuais de apresentação de produtos e tendências de mercado.
Cada produto, com seu QR Code, para o visitante da loja obter ainda mais detalhes via celular e formalizar a compra direto com o fabricante. O lojista, transformado em gestor da exposição, passaria a ter um ganho fixo pago pelo(s) fabricante(s), e a administração do centro comercial – transformado em ‘expo center’ (para manter o padrão anglófilo que alguém um dia acha mais elegante…) – alugaria o espaço não mais ao lojista, mas diretamente ao fabricante.
O público iria ao ‘shopping center’ para fazer um lanche, se divertir no parquinho ou no cinema e aproveitaria o passeio para ter contato direto com as novidades. Algo assim.
Um dia a pandemia vai diminuir. Mas deixará suas marcas na locação e na venda de imóveis residenciais e comerciais
Imagem: reprodução/MF Press Global
Novos hábitos dos consumidores mudarão também o mercado imobiliário.
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