Nestes últimos dias resolvi ouvir alguns discos da afinadíssima Astrud Gilberto, artista baiana que está radicada nos Estados Unidos há muito tempo e é a cantora brasileira que mais vendeu discos, que fez maior sucesso e fama no exterior e infelizmente, quase anônima aqui no Brasil.
Ela completou 80 anos em 2020, no dia 29 de março e chegou na cidade do Rio de Janeiro com apenas 8 anos de idade. Na adolescência morou na Avenida Atlântica em Copacabana e se tornou muito amiga de Nara Leão e também frequentava as reuniões musicais que aconteciam no famoso apartamento dela com a turma da Bossa Nova.
Astrud com apenas 20 anos de idade se casou com o também baiano João Gilberto e em 1963 foi morar com ele nos Estados Unidos.
Um destes discos que ouvi recentemente foi muito marcante para a história da Bossa Nova e marcou sua estreia como cantora.
No ano de 1963 ela participou das gravações do disco Getz/Gilberto lançado pela gravadora Verve, que reuniu o saxofonista de Jazz Stan Getz, o principal propagandista e intérprete da Bossa Nova com o violonista e cantor João Gilberto e o pianista Tom Jobim no piano, contando com as participações especiais de Tião Neto no contrabaixo e Milton Banana na bateria.
O disco era um desdobramento natural da famosa noite da Bossa Nova no Carnegie Hall, que apresentou a força e o beleza da música brasileira para o mundo. Foi gravado apenas 4 meses depois daquela noite memorável.
E no momento da gravação, diz a lenda, Astrud que estava num canto do estúdio acompanhando as gravações, foi convidada para cantar em inglês e sua participação divina em “The Girl From Ipanema” abrindo o lado A e em “Corcovado” abrindo o lado B, foram suficientes para transformar a sua vida e com estas lindas gravações, capazes de inspirar a vida de todos nós. Foram 8 músicas gravadas no total.
Assim aconteceu, quase por acaso, a estreia profissional da cantora Astrud Gilberto, que havia cantado em público apenas uma única vez ao lado do futuro marido, João Gilberto no histórico show da Bossa Nova, “Noite do Amor, do Sorriso e da Flor” em 1960 na Faculdade de Arquitetura da UFRJ.
Curiosamente o disco foi lançado um ano depois das gravações por decisão do competente produtor Creed Taylor, que resolveu retardar o lançamento para não saturar o mercado, que estava cheio de lançamento. Sábia decisão. O single com as duas foi eleito o Disco do Ano no Grammy de 1965. "The Girl From Ipanema" é considerada a segunda canção mais gravada de todos os tempos, perdendo apenas para "Yesterday", dos Beatles."
O disco “Getz/Gilberto” também foi vencedor de 3 prêmios Grammy – “Best Album Of The Year”, “Best Jazz Instrumental Album” e “Best Engineered Album”, desbancando nomes de peso da música.
Astrud e João Gilberto se separaram no final de 1964 e ela continuou na música fazendo uma turnê ao lado do saxofonista Stan Getz e depois disso continuou na carreira de cantora e gravou vários discos importantes e de grande qualidade musical nos Estados Unidos, comprovando seu raro talento e sua grande estrela.
Astrud atualmente vive reclusa nos Estados Unidos e é muito arredia a mídia e a imprensa e a última vez que entrou em estúdio foi com o cantor George Michael, com quem gravou “Desafinado” em Londres no ano de 1996.
Embora não tenha se aposentado oficialmente, em 2002 ela anunciou que estava tirando um tempo indefinido das apresentações públicas. Tem se dedicado as artes plásticas e é muito engajada na luta contra a crueldade aos animais.
Seja na Bossa Nova ou no Jazz, Astrud Gilberto é uma verdadeira referência do Brasil que deu certo através da música. Seu jeito de cantar é único e sublime. Nossa eterna reverência!