Amós Oz, israelense nascido em 1939 e certamente a maior voz literária daquele país, consolidou uma carreira notável. O premiado escritor teve sua extensa bibliografia traduzida para mais de 30 línguas e seu nome é sempre lembrado entre os leitores. Dizia José Saramago que os escritores não deveriam ficar trancados em suas “torres de marfim” a contemplar sua própria obra, porque há um compromisso social mais largo quando se escreve. Amós Oz nunca esteve trancado: dedicou-se a ser voz ativa pela paz no truncado conflito Israel-Palestina. Há uma bela foto de José e Amós Oz pregada na Fundação José Saramago, em Lisboa.
Como curar um fanático é o ensaio mais conhecido de Amós Oz. Um pequenino livro, para se ler num par de horas. A excelente edição brasileira traz, em suas 100 páginas, uma palestra (Em louvor às penínsulas), dois ensaios (Como curar um fanático e Entre o certo e o errado), um artigo (Acordos de Genebra) e uma entrevista. Todos os escritos são recheados de pensamentos divertidos, muito inteligentes e envolventes. A ideia central é a tolerância, porque “o fanático só sabe contar até um; dois é uma cifra grande demais para ele ou ela”.
Como se cura um fanático, aquele intolerante que não admite uma visão plural e vive numa escuridão assustadora? Para o autor, há duas chaves que podem destrancar o coração limitado do fanático: o humor e a literatura. Amós dirá que “o humor [não o sarcasmo] é a capacidade de perceber que, não importa quão justo você é, e como as pessoas têm sido terrivelmente erradas com você, há um aspecto na vida que é sempre engraçado. Quanto mais correto você é, mais engraçado você fica”. Por sua vez, a boa literatura “é a capacidade de fazer abrir um terceiro olho em nossa testa. Que nos faça ver coisas antigas de um modo novo”.
Amós Oz faleceu em 2018.
Motivos para ler:
1 – O fanatismo é um tema comum àquilo que é humano. Ele se torna um problema quando invade determinados campos da vida e passa a prejudicar pessoas: torcidas que se digladiam, políticos que só acenam para os seus seguidores fanáticos, seitas religiosas que expropriam seus fiéis, Estados que inventam inimigos etc.;
2 – O livro é curtíssimo. Lê-se numa hora. E seu conteúdo, riquíssimo, irá certamente despertar boas coisas em você. O custo-benefício/tempo é enorme: uma altíssima literatura facilmente acessível;
3 – Se você não conhece Amós Oz, pesquise sobre seus livros. São todos excelentes. Certamente escreveremos sobre seus romances por aqui. Amós Oz é craque. E vicia.