Vende-se apartamento novo, a 50 metros do VLT, perto de farmácia, supermercado, escola, padaria etc. Lá atrás, eu buzinei que um “novo normal” estará emergindo desta pandemia. Pois é, tive a confirmação agora, ao acompanhar uma entrevista de lideranças dos corretores imobiliários para a televisão.
Claro que eles comentaram sobre a queda nos negócios nestes últimos meses (67,5% sobre os resultados normalmente esperados para o período). Claro também que eles explicaram como estão fazendo para se adaptar a este período de isolamento social, em que os negócios precisam ser feitos via Internet, e não dá para levar as pessoas a visitarem o imóvel, até pelas restrições à circulação de pessoas e veículos nas ruas.
Ferramentas foram desenvolvidas para que o cliente em potencial possa fazer uma “visita virtual”, passeando num ambiente tridimensional pelo interior do apartamento ou da casa em perspectiva de negociação. Isso está permitindo a continuidade do trabalho dos corretores, mesmo em meio à crise sanitária mundial.
O detalhe é que, na medida em que profissionais e clientes começaram a mexer com as ferramentas virtuais, também começaram a gostar. A descobrir que um novo método de trabalho é possível. E mais, que é muito conveniente, econômico, ágil e prático.
E agora, que já têm a experiência com o manejo dos programas, já investiram tempo – talvez também algum dinheiro – nesse aprendizado, por que haveriam de abandonar tudo e voltar às velhas práticas? Claro, não vai ser 100% de mudança, mas qualquer percentual já significa muito.
Perto de tudo – Mas, há uma outra mudança. Na conversa, isso não foi aprofundado, mas para bom entendedor um pingo no ‘i’ é uma frase inteira.
Vejamos: se as pessoas, sem sair de casa, já estão fazendo cada vez mais compras de tudo pela Internet, com entrega em domicílio, e em percentual crescente de casos conseguem também fazer todo o trabalho em suas próprias casas, para que elas precisam de Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), metrô e outros transportes passando perto de casa?
E se as empresas conseguem em poucos minutos fazer as entregas das encomendas, que importa se há farmácia ou supermercado na vizinhança? Se cresce o aprendizado via Internet, que diferença faz se a escola está distante apenas um quarteirão ou se tem sede física do outro lado do mundo?
Novamente: claro que não será todo mundo a pensar assim, mas convenhamos que nestes novos tempos o argumento da proximidade, de estar no centro de tudo, perde muito a força. Lembram quando o chamariz era estar perto de clubes sociais? Hoje, o clube está no mezanino ou na cobertura do próprio prédio.
Então, o perto de tudo precisa ser substituído por argumentos em favor do teletrabalho: que por exemplo um cômodo do imóvel esteja preparado para a instalação de um escritório doméstico (‘home office’), com sossego (para não vazarem sons estranhos…) e apropriado para a pessoa trabalhar inclusive com vídeo (sem crianças passando no fundo da tela). A decoração de interiores entra aí, no planejamento de um local em que o fundo da imagem vista seja adequado às necessidades do cliente (sem aquelas bibliotecas de livros comprados por metro para dar impressão de intelectualidade, por favor!).
Além do espaço no próprio apartamento, é um bom argumento que a edificação tenha um espaço de trabalho compartilhado, inclusive com oficinas de trabalhos manuais e execução de pequenas peças, como já comentei recentemente.
Enfim: será nessa nova linha que os argumentos de venda precisarão ser desenvolvidos. Claro que, antes, os construtores também precisarão levar isso em conta ao desenvolverem os novos projetos imobiliários.
Não pretendo ensinar o pai-nosso aos… Cada um deverá examinar suas possibilidades e conveniências. Preparem seus novos discursos… e bons negócios!
Argumento da boa localização era importante para as vendas em julho de 1919. E hoje?
Imagem: site Novo Milênio
Em 1829, “toda a comodidade para os transportes em canoas” fazia sentido. Hoje, morar perto do metrô ou VLT é importante para você?
Imagem: site Novo Milênio
Entrega em domicílio era muito comum em 1912, quando saiu este anúncio no ‘Indicador Santense’ de Laércio Trindade. Isso facilitou muito quando as famílias começaram a deixar o Centro de Santos em busca de ar melhor no Embaré
Imagem: site Novo Milênio