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Resenha da semana: Gênio indomável

18/04/2020
Resenha da semana: Gênio indomável | Jornal da Orla

O cinema é realmente algo surpreendente. Em 1997, dois jovens e desconhecidos amigos escreveram o roteiro de Gênio Indomável, filme que se tornou um dos maiores sucessos de público e de crítica da época e ganhou dois Oscar naquele ano. Extremamente jovens na época, os dois amigos explodiram para Hollywood como duas grandes promessas: são eles Matt Damon e Ben Affleck, que são amigos de infância e conseguiram criar um texto tão forte e impactante, introduzindo complexos questionamentos filosóficos e transformando sentimentos impossíveis de serem explicados, em poesia. Os dois criam uma jornada cheia de vitalidade e essencialmente poderosa nas relações em torno de seus personagens, onde abordam temas como perda, sobre o medo das mudanças e sobre desafios, cativando com seu enredo e emocionando com seus personagens. Uma verdadeira pérola e um de meus filmes favoritos que terei o prazer de escrever agora no Jornal.

O filme se passa em Boston, e nos apresenta a um jovem de 20 anos (Matt Damon) que já teve algumas passagens pela polícia e servente de uma universidade, revela-se um gênio em matemática e, por determinação legal, precisa fazer terapia, mas nada funciona, pois ele debocha de todos os analistas, até se identificar com um deles. Após passar por alguns diretores e pular por diversos estúdios, o projeto caiu nas mãos do diretor Gus Van Sant. Corretamente, o diretor confia no roteiro e em seus atores deixando a câmera o mais perto possível deles, entendendo que não necessita de nada mirabolante ou extraordinário para que o público comprasse a história e se envolvesse com aqueles personagens. Diretor sensível e experiente, Van Sant comanda o filme com uma grande naturalidade em cada cena e que nos faz refletir sobre amizade, amadurecimento e como uma simples conversa pode ser confortante e inspiradora para muitas pessoas. Gostaria de citar, no mínimo, duas grandes cenas dirigidas pelo diretor que, mesmo tradicionais em seus enquadramentos, são bem marcantes (e tenho certeza que será para vocês também): a primeira, se passa em um parque onde acompanhamos o diálogo cheio de verdades e feridas entre o personagem de Matt Damon e seu psicólogo, interpretado por Robin Williams. A segunda, e melhor delas, se passa quando os dois discutem sobre os traumas na infância de Will, onde acaba em uma frase forte e significativa: "Não é sua culpa". A cada repetição da frase, os dois personagens se aproximam e a câmera aproxima o espectador dos dois, tornando aquela situação cada vez mais íntima e intensa.

O roteiro é extremamente bem desenvolvido e possui uma coleção de diálogos e situações marcantes, repleto de personagens humanos, cheios de camadas e com arcos surpreendentes. Ciente da força de sua narrativa, a equipe técnica evita chamar muita atenção fazendo um discreto trabalho, com uma fotografia que busca realçar os tons dourados, realçando o quão valioso é o dom do personagem principal. A trilha sonora ressalta o tom melancólico do filme com lindas composições instrumentais. 

Matt Damon tem um desempenho memorável como o genial e emocionalmente descontrolado Will, usando a agressividade como seu mecanismo de defesa e falando sempre de maneira rápida, porém sempre com clareza e convicção. Mas, o grande destaque fica para Robin Williams, que nunca esteve tão bem, com uma atuação contida, minimalista e irretocável de um personagem com grande força dramática. Williams está perfeito e transmite todas as camadas de seu personagem com uma honestidade impressionante. O amor que sente pela sua falecida esposa é um dos mais verdadeiros e emocionantes da história do cinema.

Gênio Indomável é um dos melhores filmes da década de 90, lançou ao estrelato uma dupla de brilhantes atores, conta com uma segura direção principal e um excepcional roteiro que, pode até mudar a vida de muitas pessoas, dado seus marcantes, inspiradores e belíssimos discursos. 

Curiosidades: A Miramax Films, produtora de Gênio Indomável, apenas autorizou o início da produção do filme após a confirmação da participação de Robin Williams no elenco.