Marco Santana
O novo coronavírus é uma espécie de freio de arrumação na humanidade. Impõe, sem nenhuma margem para negociação, uma nova realidade imediata. Mudanças de comportamentos, visões de mundo, quebra de paradigmas, revelações… O assunto certamente renderá uma profusão de teses acadêmicas e ensaios baseados no mais puro achismo. Aqui vai o meu:
Relações humanas- na marra, o coronavirus evidenciou a singularidade do convívio presencial. O "vamos marcar um café" e o "a gente combina alguma coisa" passou ter outro significado.
Tecnologia- sepultou definitivamente a ideia de que somos escravos dos avanços tecnológicos. Ao contrário, a tecnologia é uma poderosa ferramenta para enfrentar adversidades, mudanças bruscas e traumáticas.
Valores morais- É em momentos de crise que a essência humana se revela. Lembra o filme “Titanic”? Houve quem tentasse ajudar os outros; a orquestra que continuou tocando, resignada; e os covardes que buscaram exclusivamente salvar a própria pele. Guardadas as devidas proporções, é igual. Há quem se preocupe em preservar a própria saúde e dos seus, os que temem pela coletividade, e aqueles que consideram que “algumas mortes são um risco aceitável pelo bem da economia”.
Ciência- Também na marra, quem questionava a importância da pesquisa científica acabou sendo desmentido pela realidade. Discordar de evidências obtidas por especialistas após árduo estudo não é liberdade de expressão, mas obscurantismo, preconceito e arrogância. Em resumo, ignorância plena.
Saúde- Lembrou a importância de regras básicas de saúde, como lavar as mãos, e hábitos que evitem o desenvolvimento de doenças crônicas como diabetes, hipertensão e problemas respiratórios.
Economia- Os liberais defensores do “estado mínimo” e que “a mão invisível do mercado” regula e equilibra as relações econômica simplesmente foi destruída. Os fatos demonstram que, em um momento crítico, as megacorporações se eximem de participar de qualquer processo de recuperação e ainda cobram a participação do estado para resolver a questão. Os defensores da “livre iniciativa”, “empreendedorismo” e outros conceitos que soam bonito aos ouvidos ficaram completamente sem chão ao perceber que este modelo de organização econômica não inclui uma rede de proteção social aos que caíram no canto desta sereia. E deixou,mais claro do que nunca, a força dos grupos de interesses, que desde sempre praticaram a politica do "farinha pouca, meu pirão primeiro".
Casa- Conceito central das medidas de contenção da pandemia, o “Fique em casa” ganhou um significado ainda maior. A casa, o lar, é o espaço mais íntimo do ser humano e a maneira como a pessoa reage ao isolamento compulsório revela muito sobre si. Está bem consigo mesma? E com os familiares? É um ambiente acolhedor ou simplesmente espaço para se alimentar ou pernoitar? Sem as atividades profissionais e de convívio social, realiza atividades para si? São prazerosas?
A pandemia revela algumas certezas mas também abre muitos questionamentos. E alguns deles ainda não foram formulados.