Um roteiro vital para os arquitetos e engenheiros projetarem edificações em áreas de inundação, reduzindo os riscos e acelerando a recuperação dos imóveis, foi recentemente criado na Inglaterra, sendo oportuno conhecê-lo quando se verifica que os fenômenos climáticos na Baixada Santista são cada vez mais intensos e bruscos. E não é só aqui.
Considerando que no Reino Unido uma de cada seis moradias está em risco de inundações (prevendo-se que a quantidade de casas atingidas dobre nos próximos 30 anos) – e que 40% dos negócios não reabrem após uma inundação severa -, a Construction Industry Research and Information Association (Ciria) publicou um código de práticas para resiliência a inundações de propriedades (Property Flood Resilience – PFR). Compreende seis padrões, cada um com vários requisitos e objetivo específico: avaliação de risco; pesquisa de propriedade; desenvolvimento de opções; construção; comissionamento e entrega; operação e manutenção. Bom lembrar que resiliência é a capacidade de retornar à forma original após uma deformação ou adversidade.
Os princípios do PFR podem ser aplicados a edificações novas ou existentes: o código fornece orientação sobre reparo corretivo após uma inundação, mas seus padrões podem ser usados para melhorar a resiliência a inundações de uma propriedade em qualquer estágio. Sua criação foi financiada e endossada pela agência ambiental inglesa e pode ser baixado do site do Ciria, que promete ampliar as informações nos próximos meses.
Muito mais – Segundo um dos criadores do código, Edward Barsley (fundador do The Environmental Design Studio), as medidas propostas vão muito além de limitar ou impedir a entrada de água em uma edificação. O que já não seria pouco: lembram por exemplo de que não adianta colocar uma barreira na porta se não estiver bem ajustada ou existirem outras formas de a água entrar.
Podem incluir providências como tornar o interior à prova de umidade/recuperável; adicionar um andar e reconfigurar o térreo (e aí entra uma revisão nos códigos de uso e ocupação do solo), elevar os níveis do piso, levantar a estrutura ou mesmo torna-la flutuante (!). Ele acredita que devem ser adotadas estratégias proativas de planejamento para que, quando chegar a hora, o plano de PFR esteja pronto e em vigor e a propriedade possa ser melhor reconstruída.
Autoridades e custos – Barsley recomenda que as autoridades locais analisem as projeções de inundações, garantindo que os projetos funcionem sob condições climáticas futuras e não apenas com base em séries históricas.
E lembra que esses cuidados têm forte influência nos custos de seguros e no valor das propriedades. Tanto que no Reino Unido existe o Flood Re, iniciativa conjunta do governo e das seguradoras que ajuda a manter os prêmios de seguros acessíveis nas áreas propensas a enchentes. O próprio código de práticas da Ciria foi patrocinado pela importante seguradora Aviva, junto com vários departamentos governamentais.
Em entrevista a Neal Morris, Barsley disse esperar que essas iniciativas “ajudem o setor de seguros a incentivar a adaptação, e começarmos a ver a resiliência sendo recompensada”.
”Casa de Todas as Estações”, criada pelo The Environmental Design Studio & JTP, venceu o concurso ‘Casa Resiliente’ do jornal inglês Sunday Times. Imagem: The Environmental Design Studio & JTP
Numa inundação, a parte habitável fica protegida acima das águas, havendo passagens ligando todas as moradias. Imagem: https://www.t-e-d-s.com/the-home-for-all-seasons
Interior da Casa de Reparação Resiliente a Inundações da BRE, uma colaboração entre empresas e fornecedores para mostrar como seria uma residência desse tipo. Foto: https://www.architecture.com/knowledge-and-resources/knowledge-landing-page/learn-the-principles-of-flood-resilient-buildings#