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Johnny Alf – Um dos criadores da Bossa Nova

29/02/2020
Johnny Alf – Um dos criadores da Bossa Nova | Jornal da Orla

O pianista, cantor e compositor Johnny Alf também pode ser considerado como um dos legítimos criadores da Bossa Nova e foi, sem dúvida, um dos músicos mais importantes do nosso país.
Alguns anos antes de se falar em Bossa Nova, nos anos de 1953 e 1954, ele já se apresentava no bar do Hotel Plaza no Rio de Janeiro e seu estilo de tocar nitidamente influenciado pelo Jazz (ele ouvia muito George Gershwin e Cole Porter), atraía vários fãs, na maioria músicos, que se acotovelavam para assisti-lo.

 

Na sua lista de fãs de carteirinha, João Gilberto, Luiz Bonfá, João Donato, Luiz Eça, Sylvia Telles, Claudete Soares, Alaíde Costa, Lúcio Alves, Carlos Lyra entre outros nomes conhecidos. Até o nosso saudoso maestro Antonio Carlos Jobim se rendeu ao talento de Alf, com ele aprendendo muito sobre harmonia musical.

 

Seu estilo marcante de tocar foi determinante para a formação da levada característica da Bossa Nova.
Suas composições “Rapaz de Bem” e “Céu e Mar” (revolucionaram os rumos da MPB nos quesitos melodia e harmonia), “Ilusão à Toa”, “Fim de Semana em Eldorado” e as minhas preferidas “Disa”, “O que é Amar” e “Eu e a Brisa”. Ele indicou o caminho que todos deveriam seguir e naturalmente preparou o terreno para que isso acontecesse. Depois de uma temporada em São Paulo (1955), ele voltou a se apresentar no Rio de Janeiro, já na fase da Bossa Nova (1962), no Beco das Garrafas, onde as boates Bottle's, Baccarat e Little Club reinavam absolutas.

 

Tive a honra e o privilégio de assistir a Johnny Alf aqui em Santos nas suas frequentes visitas ao Bar da Praia, um dos espaços culturais mais importantes que a nossa cidade já teve, do querido amigo Eduardo Caldeira e que até hoje deixa saudades. Naquele palco, Alf fez shows memoráveis, tendo inclusive inspiração para a composição que homenageou o bar e que chamava “Bar da Praia”.

 

Só lamento que Johnny Alf não tenha tido em vida o merecido reconhecimento do seu incontestável talento e pela sua real influência, tanto para a Bossa Nova como para a Música Popular Brasileira.

 

E para provar sua grandeza e importância, cito novamente o nosso saudoso maestro Tom Jobim que o apelidou de “Genialf”. Perfeito e sublime.

 

Johnny Alf abriu o caminho da Bossa Nova, e todos aqueles músicos geniais, que o sucederam, trilharam na clareira aberta por ele e construíram a história do gênero, que hoje é patrimônio de toda a humanidade.

 

 

Johnny Alf – “Olhos Negros”

 

Um dos discos que mais gosto de Johnny Alf é este lançado em 1990, para o selo BMG/RCA, e que contou nas 12 faixas com as participações especiais de Gal Costa, Roberto Menescal, Chico Buarque, Zizi Possi, Emílio Santiago, Caetano Veloso, Sandra de Sá, Gilberto Gil, Leny Andrade e o trompetista Márcio Montarroyos.

 

Foi uma rara oportunidade que estes grandes nomes da nossa MPB tiveram para reverenciar a obra musical de Johnny Alf, regravando algumas das suas principais composições.

 

Ele tocou piano e cantou ao lado de seus grandes amigos de forma única e definitiva.

 

O detalhe curioso deste disco é que ele foi gravado depois de uma ausência dos estúdios de mais de 10 anos, e por esta razão considero este trabalho como uma verdadeira celebração à boa música e um dos trabalhos mais importantes da sua carreira de mais de 40 álbuns.

 

Não deixe de ouvir “Ilusão à Toa”, “Dois Corações”, “Nós”, “Rapaz de Bem”, “Olhos Negros”, a minha preferida “O que é Amar” e mais “Eu e a Brisa” e “Bar da Praia”, feita em homenagem ao saudoso bar de Eduardo Caldeira.

 

Johnny Alf foi um dos precursores da Bossa Nova ao lado do pianista e cantor Dick Farney e do cantor Lúcio Alves, e acima de tudo era um homem bem discreto, quase solitário, carinhoso e que deixou um legado musical maravilhoso.

 

 

 

“Rique Pantoja & Chet Baker”


 

 

O pianista, arranjador e compositor brasileiro, Rique Pantoja, radicado há muitos anos nos Estados Unidos, teve a honra de gravar e se apresentar e gravar por várias vezes ao lado do genial trompetista e cantor Chet Baker.

 

Um dos momentos mais marcantes desta parceria foi o lançamento aqui no Brasil, no ano de 1987, pelo selo WEA, do belo trabalho que leva o nome dos dois.

 

Na verdade, o disco começou a ser pensado quando eles dividiram o mesmo palco na edição do ano de 1985, do Free Jazz Festival, nas cidades do Rio de Janeiro e São Paulo e ali nasceu uma afinidade musical que os levou naturalmente para os estúdios das cidades de Roma, Rio de Janeiro e São Paulo, onde os “takes” foram gravados.

 

Além de Pantoja e Baker, participaram das gravações Michele Ascolese na guitarra, Mauro Senise nos saxofones e flautas, Sizão Machado e Marco Fratini no contreabaixo, Bob Wyatt e Roberto Gatto na bateria, Silvano Michelino e Stegfane Rossini na percussão.

 

Do repertório, destaco as 6 faixas do disco “Cinema 1”, “Saci”, “Arborway”, “So Hard To Know”, “Te Cantei” e “Depois da Praia”.

 

Vale lembrar que Rique Pantoja e Chet Baker já haviam se encontrado em estúdio no ano de 1980 em Paris, quando gravaram o repertório brasileiro instrumental ao lado do The Boto Brazilian Quartet, outro disco, sensacional.