Dez anos depois de me receber em sua casa no Polo Norte, o Papai Noel concordou em dar mais uma entrevista exclusiva. Não foi fácil. O Bom Velhinho está mais rabugento do que nunca e relutou bastante em conversar.
Primeiro, queria responder às perguntas pelo WhatsApp, mas não estava dando certo porque ele só respondia mandando emojis… Depois, chegou a marcar um encontro numa cafeteria, mas logo em seguida desistiu porque, segundo ele, o wifi era uma porcaria e ele não suportava ter o nome gritado pelos atendentes, na hora de entregar o pedido.
Não teve jeito: tive que ir novamente à Lapônia, mas, em vez da aconchegante casa com uma bela lareira onde vivia uma década atrás, Papai Noel agora se esconde (literalmente) num pequeno apartamento, em um conjunto habitacional na periferia de Rovaniemi, na Lapônia. Confira:
Papai Noel, que roupa é essa? Cadê aquele macacão vermelho?
Noel – Ih, meu filho! Não uso mais vermelho de jeito nenhum! Ficavam me chamando de petista, esquerdopata, comunista. Até tentaram me acertar com uma sapatada! E tem mais: aquele pessoal da Coca-Coca queria me cobrar direitos de imagem para eu poder usar aquela roupa! Então, agora eu uso esse terno roxo, com colete laranja por baixo. Eu acho o máximo! Eu só não gosto que direto ficam me confundindo com um tal de Coringa… Ficam pedindo para eu descer uma escada dançando, um saco!
Bom, vamos à entrevista. Ainda bem que o senhor aceitou conversar pessoalmente, aquela história de falar pelo WhatsApp não estava dando muito certo…
Noel – Eu achei que ia ser mais prático, mas eu tenho muita preguiça de digitar. Então fico mandando os emojis e os GIFs. Você que não estava entendendo, tem que se atualizar, meu filho! Upgrade!!
Mas para toda pergunta o senhor só mandava o emoji da mãozinha com o polegar para cima…
Noel – É que ultimamente eu ando de saco cheio, mesmo. E eu não consigo mandar áudio, meu polegar é muito gordo, então o dedo fica escorregando toda hora. Também não gosto daquele outro aplicativo, o Telegram, porque não é lá muito seguro. Uns meninos lá de Curitiba tiveram problemas uns dias desses, falaram o que não deviam e as conversas deles vazaram. Bem feito! Não me surpreendeu! Eu conheço aqueles moleques faz tempo… desde pequenos são assim: birrentos, mimados, malcriados. Um deles pedia livros para posar de estudioso, pedia biografias, mas acho que até hoje nunca leu nenhuma das que dei para ele.
Vamos ao que interessa: como vão ser as entregas no Natal deste ano?
Noel – Fraaaaco… Agora com esses sites da China, tipo Alibabá, pouca gente me pede coisas. E o que eles pedem eu nem tenho em estoque. É tudo coisa da China: celular, óculos de sol, calçados, perfume… Muita gente me pede mas cancela o pedido quando fica sabendo que vai ter que esperar o Natal, dizem que vai demorar muito.
Mas pelo menos então as renas não vão precisar carregar tanto peso…
Noel – Antes fosse esse o maior problema. Agora elas sofrem é com o calor. Cada ano que passa está mais quente, mesmo de noite. Muito lugar que antes era tudo congelado agora está derretendo. É por isso que eu fico louco com esse povo que não acredita em aquecimento global. Sem falar naqueles destrambelhados que ficam falando que a Terra é plana. Se fosse assim, a noite de Natal teria que durar uma semana.
O senhor vai entregar muitos presentes no Brasil?
Noel – Não vou para o Brasil nem a pau, Juvenal! Da última vez que eu fui tinha uns retardados fazendo a letra L com os dedos, mandando eu pular: “Pula! Pula livre”. E tinha uns outros me chamando de ladrão, também mandando eu pular: “Pula Ladrão!”. Eu não tenho a menor ideia do que eles queriam! Um bando de energúmenos!
Por falar nisso, o presidente do Brasil pediu algum presente para o senhor?
Noel – Você acha que ele acredita em Papai Noel?
Realmente, está complicado pro senhor… Desse jeito então é melhor se aposentar
Noel – Realmente, até penso nisso. Felizmente, consegui fazer um pé de meia. Eu fico triste é com os duendes, que foram contratados pela minha filial do Brasil e por isso estão registrados pela CLT. Agora, com essa reforma da Previdência, não vão conseguir se aposentar.
E esse apartamentinho aqui? Dez anos atrás, o senhor me recebeu numa casa bem maior. O que aconteceu?
Noel – É a crise, meu filho! Tive que vender lá e comprei esse apartamento, mas ele é minúsculo. Tive que fazer um regime para diminuir a barriga, porque não passava na porta.
Mas temos que ser otimistas. Por favor, deixe uma mensagem para as pessoas neste Natal…
Noel – Realmente. Mais do que nunca, as pessoas precisam praticar o que Cristo pregou. Quando ele diziam amar o próximo, ele quis dizer todo mundo. Amar seus filhos, esposa, irmãos e amigos é fácil. O desafio é querer o bem dos estranhos, não arrumar briga na fila do supermercado, no trânsito. Aceitar o outro como ele é, não importa a raça, a religião, a orientação sexual, a opinião política. O pessoal precisa trazer para a vida real aquelas mensagenzinhas bonitinhas que ficam postando nas redes sociais. Em resumo, meu filho, só Jesus na causa!
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