Cinema Filmes e Séries

Resenha da semana: Ad Astra – Rumo às Estrelas

28/09/2019
Resenha da semana: Ad Astra – Rumo às Estrelas | Jornal da Orla

Desde que Georges Méliès realizou o primeiro curta metragem Viagem à Lua, em 1902, a exploração do espaço pelo homem já foi abordada centena de vezes, seja em produções maravilhosas, como o clássico 2001: Uma Odisséia no Espaço, ou em produções que não tiveram o mesmo sucesso. Ad Astra – Rumo às Estrelas ainda terá que provar se resiste à barreira tempo, como o longa que citei, mas que me parece uma obra destinada a marcar seu nome por ser visualmente impecável e nos levar a uma odisséia intimista até os limites do universo, aos confins do espírito humano e a ligação de amor entre pai e filho.

 

Em um mundo onde a exploração do universo está bem avançada, o major e engenheiro espacial Roy McBride (Brad Pitt) recebe uma importante missão. 20 anos após o desaparecimento de seu pai (Tommy Lee Jones), um lendário astronauta que estava em uma missão para buscar vida inteligente em Netuno, Roy recebe a notícia de que o mesmo pode estar vivo. Então, embarca em uma missão que busca responder de uma vez por todas se seu pai está vivo ou não, além de solucionar um mistério que ameaça a sobrevivência do sistema solar. Antes de assistir a este longa, é interessante descobrir a filmografia de James Gray para não gerar expectativas erradas sobre este filme. Diretor que possui prestígio entre os críticos, porém não tem o mesmo reconhecimento do público, Gray tem apenas 6 filmes em 25 anos de carreira, onde sempre aborda temas sobre família disfuncional e a busca por aprovação. Tenha em mente que Ad Astra não é um blockbuster de ação. É um filme contemplativo, por vezes lento, mas uma belíssima e existencialista obra de arte sobre drama familiar. Gray comanda essa jornada, basicamente com Brad Pitt pulando de planeta em planeta até chegar à Netuno e faz isso uma viagem com um design de produção inesquecível, junto a uma fantástica fotografia comandada por Hoyte Van Hoytema. Através de suas lentes, conhecemos à Lua já colonizada, repleta de grandes letreiros de redes de fast food e também habitada por piratas espaciais, em uma já clássica perseguição lunar, comandada pelo diretor, que fará o público prender a respiração tamanha tensão.

 

Por opção do diretor, o filme é totalmente focado em seu protagonista, e esse sentimento é consolidado desde o início, em closes que sublinham a profundidade psicológica de Roy junto a narrações em off que complementam seus pensamentos. O roteiro, também escrito pelo diretor, possui diversas reflexões filosóficas que fluem naturalmente e encaixam perfeitamente com a proposta visual do diretor. O arco narrativo de Roy é interessantíssimo e possui um desfecho otimista em comparação a uma sociedade colonizadora, egoísta e predatória.

 

Mas, nenhuma dessas propostas do diretor e roteirista seriam executadas tão bem, se não tivesse um protagonista à altura para dar vida a seu projeto, e pela segunda vez no ano, Brad Pitt entrega uma atuação marcante, em uma carreira cheia delas. Desprendido de qualquer tique de trabalhos anteriores, o ator consegue transmitir a melancolia interna que o corrói, conseguindo capturar o homem que tenta fugir da sombra de seu pai com nuances e detalhes sempre introspectivos, só externalizado quando conclui sua jornada.

 

Ad Astra – Rumo às Estrelas mostra mais um belíssimo trabalho de James Gray em um longa visualmente deslumbrante aliado a um estudo de relação paternal intimista e, épico, complexo e reflexivo em sua ambiciosa jornada. 

 

Curiosidades:  Selecionado na mostra "Competição", no Festival de Veneza de 2019.

 

 

Foto: Divulgação