Atentado ao Hotel Taj Mahal me lembrou bastante de Capitão Phillips, do diretor Paul Greengrass, pela criação de uma atmosfera tensa e opressora mostrada de forma crua e realista, o que acaba gerando um sentimento de extrema aflição ao público, ainda mais por se tratar de uma história real. O longa consegue ser uma homenagem aos funcionários do hotel em questão mas sem deixar de lado o maniqueísmo Hollywoodyano, o que percebe-se pela escolha de seu elenco, em sua maioria norte americano. Mas felizmente os feitos heróicos ficam a cargo dos indianos, portanto você não verá um Duro de Matar na Índia dessa vez.
O filme se passa no ano de 2008 em Mumbai, Índia. Um grupo de terroristas chega à cidade de barco, disposto a promover uma série de ataques em locais icônicos da cidade. Um deles é o luxuoso hotel Taj Mahal, bastante conhecido pela quantidade de estrangeiros e artistas que nele se hospeda. Quando os ataques começam, o humilde funcionário Arjun (Dev Patel) tenta ajudar todos a se protegerem, enquanto David (Armie Hammer) e Zahra (Nazanin Boniadi) buscam algum meio de retornar ao quarto em que estão hospedados, já que nele está seu bebê e Sally (Tilda Cobham-Hervey), sua babá. O filme é dirigido pelo estreante Anthony Maras, que tem uma grande responsabilidade ao passar dignidade para aqueles que perderam suas vidas no atentado e essa seriedade é vista em tela. O diretor cria um tom quase documental, passando longe da banalização da violência para entreter platéias em busca de um filme de ação descompromissado. Aqui, Maras cria um filme incômodo, expondo a crueldade que o ser humano pode atingir construindo, aos poucos, uma intensa carga psicológica que pode incomodar pessoas mais sensíveis. O roteiro, escrito em parceria com John Collee, desenvolve bem seus personagens e consegue manter uma identificação entre o público e eles, fazendo com que nos importemos com seus destinos (isso é algo que sempre falo em minha críticas e acho fundamental para o desenvolvimento do filme). Porém, apesar deste bom desenvolvimento, os roteiristas ficam presos em algo que dificilmente alguém consegue escapar: vilanizar os muçulmanos, que após o atentado de 11 de setembro, figuram como os principais vilões em diversas produções e ao não abordar as questões político-religiosas por trás do ocorrido. Faltou um pouco de coragem aqui.
O filme possui uma fotografia em tom pastel que ressalta o calor que reina na Índia criando um clima claustrofóbico ao passo que a direção de arte cria um hotel sufocante, onde não sabemos o que esperar em seus corredores que mais parecem labirintos, criando um sentimento de inescapapilidade muito grande. A ausência de trilha sonora também cria uma tensão muito grande, intensificando a sonoplastia dos tiros, o que intensifica a experiência do público, especialmente na cena de discussão entre um turista e um garçom, que é abruptamente interrompida com o som alto de um tiro e a forte imagem de sua testa perfurada, sem tempo para lamentar o ocorrido. E é em cima deste ritmo frenético que a eficiente montagem do filme trabalha, deixando apenas a opção do público de tentar reagir à situação.
Apesar de praticamente todos os personagens serem artificiais e com diálogos um pouco expositivos, o ator Dev Patel consegue se sobressair, como o dedicado funcionário do hotel, com uma entrega emocional bastante crível ao passo que Armie Hammer faz o que pode, mesmo o texto não ajudando muito.
Atentado ao Hotel Taj Mahal levanta superficialmente alguns questionamentos sobre intolerância religiosa e desigualdade social, mas seu foco é ser um eficiente thriller de ação com a criação de uma tensão constante e ao retratar com respeito e dignidade os sobreviventes deste trágico e infeliz acontecimento recente.
Curiosidades: No ano de 2010 houve a construção de um monumento na entrada do Hotel Taj Mahal, em homenagem às vítimas do atentado ocorrido em 2008.
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