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Resenha da semana: Buscando…

22/09/2018
Resenha da semana: Buscando… | Jornal da Orla

Vocês lembram, lá em 1995 quando foi lançado o clássico Seven – Os Sete Crimes Capitais, onde diziam que um dos maiores pecados era falar aos outros sobre o final do filme? Pois é, em Buscando… acredito que também tenhamos que ter este cuidado, não que o filme dependa de seu final para se tornar relevante, mas aqui ele é a cereja do bolo para coroar uma narrativa inovadora, inteligente e angustiante. O ano de 2018 tem sido gratificante por trazer  produções de suspense e terror que utilizaram poucos recursos mas com roteiros desafiadores, como foi o caso dos excelentes Um Lugar Silencioso e Hereditário, ambos com crítica no site. E quando achávamos que não teríamos mais surpresas (pelo menos eu), eis que surge nos cinemas esta semana, um dos candidatos a melhores suspenses do ano.

No filme, depois que a filha de 16 anos de David Kim (John Cho) desaparece, uma investigação local é aberta e uma detetive é designada ao caso. Mas 37 horas depois e sem pistas, David decide buscar no único lugar em que ninguém olhou ainda, onde todos os segredos são mantidos: no laptop de sua filha. Em um suspense hiper-moderno contado a partir dos aparelhos que usamos no nosso cotidiano para nos comunicarmos, David vai traçar as pistas digitais deixadas por sua filha antes que ela desapareça para sempre. Surpreendentemente, este é o primeiro filme dirigido pelo indiano Aneesh Chaganty onde ele consegue se sobressair, com um cuidado especial, ao oferecer um ritmo e dinâmica exemplar ao longa. Usando pistas e informações, como nas melhores histórias de detetives, o diretor merece aplausos pela sua direção apenas retratando a história somente por telas de desktop, acentuando sempre a atmosfera de tensão e suspense que mantém o espectador grudado à tela, como na cena em que o protagonista desconfia de uma pessoa e espalha câmeras pelo cenário ou quando vemos as reveladoras notificações em seu celular, e quase enfartamos para que ele apanhe logo o aparelho. O roteiro, também escrito pelo diretor, é brilhante, repleto de reviravoltas e revelações e mostra uma preocupação profunda com seus personagens. Fugindo da previsibilidade, o roteiro nos leva por um caminho para logo depois acabar com todas nossas expectativas fazendo o espectador se sentir o detetive do caso pois as pistas são dadas em todas as telas, portanto preste bastante atenção. Brilhantemente, o texto do diretor vai se tornando também um drama psicológico sobre a necessidade do diálogo e o luto e isolamento emocional de um adolescente.

No quesito técnico, Buscando… poderia cansar o espectador por se passar inteiramente pela tela de um computador, mas seus criadores tem idéias bem interessantes e mantém o ritmo do filme bastante ágil com diversas e criativas interfaces como mensagens de texto e video chamadas ao passo que sua

O filme é todo do ator John Cho que domina o filme para si e entrega uma atuação espetacular junto a uma carga dramática comovente. O ator, que tem a câmera grudada a seu rosto, o que faz com que seu sofrimento e desespero seja sentido de perto, tem um processo de transformação interessante, passando de um pai tranquilo em um homem desesperado e disposto a fazer qualquer coisa para salvar sua filha.

Buscando… é um filme feito para os dias de hoje e revela ser uma grata surpresa neste ano. É um filme instigante, com intensas reviravoltas e que acerta ao transformar uma simples premissa em algo marcante e envolvente. Aneesh Chaganty consegue revolucionar a forma de se contar histórias no cinema e também capturar com perfeição a nossa nova e distante forma de comunicação.

Curiosidade:  As filmagens duraram apenas treze dias, mas o trabalho de edição e animação demorou dois anos para ser concluído.
 

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