A década de oitenta é lembrada com carinho, seja pelo cinema, games ou música que foram marcantes até para quem não viveu aquela época. Devido ao espírito oitentista do filme original, que cativou gerações e é adorado pelo mundo Geek até hoje, a franquia Predador definiu os filmes de ação daquela década e consagrou Arnold Schwarzenegger como um de seus maiores representantes. Chega a ser interessante reparar que neste longa de 2018, praticamente todos os elementos clássicos do original estão presentes aqui. Desde a ação na selva a violência brucutu dos machões do exército, porém um dos elementos mais eficazes aqui é o humor, que até então esteve praticamente ausente neste universo. E essa novidade, o diretor Shane Black consegue fazer com excelência, desenvolvendo uma história que não é um reboot e faz ligação direta com os dois filmes anteriores, mostrando-se um dos maiores acertos do cineasta.
O Predador começa com uma perseguição entre naves alienígenas trazendo à Terra um novo predador, que acaba sendo capturado por humanos. Antes disso, ele tem seu capacete e bracelete roubados por Quinn McKenna (Boyd Holbrook), um atirador de elite que estava em missão no local onde a nave caiu. A bióloga Casey Brackett (Olivia Munn) é então chamada para examinar o ser recém-descoberto, mas ele logo consegue escapar do laboratório em que é mantido cativeiro. Ao tentar recapturá-lo, Casey encontra McKenna, que está em um ônibus repleto de ex-militares com problemas. Juntos, eles buscam um meio de sobreviver e, ao mesmo tempo, proteger o pequeno Rory (Jacob Tremblay), filho de McKenna, que está com os artefatos alienígenas pegos pelo pai. Shane Black ficou famoso por escrever o roteiro do primeiro Máquina Mortífera e dirigir os excelentes filmes Beijos e Tiros, de 2005 e Dois Caras Legais, que tem crítica aqui no site.
O diretor não se preocupa em mostrar quem são aquelas criaturas ou suas origens. Aqui, ele parte pra ação desde o primeiro segundo com momentos cheio de sanguinolência, palavrões e brutalidade, justificando sua indicação de 18 anos. As cenas de ação são bem coreografadas por Black, com planos relativamente longos, o que ajuda o público a entender a geografia da cena. O roteiro, também do diretor, faz diversas referências aos filmes anteriores e curiosamente investe sua atenção no humor negro com diálogos ácidos, ágeis, inteligentes e cheios de palavrão (que são suas marcas) mas no restante, acaba derrapando. Seus personagens não tem um arco interessante, a trama é rasa e tem soluções baratas e convenientes para o desenvolvimento da narrativa e muitos personagens são descartados e esquecidos sem nenhuma cerimônia.
Na parte técnica o longa vai bem, com um design de som de qualidade, uma direção de arte caprichada, onde preservaram a visão térmica e a invisibilidade do vilão e trilha sonora marcante, digna de um blockbuster. O Predador continua bem representado neste longa e tem uma presença assustadora, com uma mistura de inteligência, brutalidade e perigo, mas também não escapa do senso de humor do filme, com uma cena bem engraçada.
Boyd Holbrook, mais conhecido pelo seu papel em Narcos, encarna bem o protagonista como o soldado destemido e sedento por ação ao passo que Keegan-Michael Key é o grande alívio cômico com cenas hilárias. Jacob Trembley mostra mais uma vez que é um talento a se acompanhar, com o papel mais dramático no longa.
Apesar de todos seus problemas narrativos, O Predador é um dos filmes mais despretensiosos deste ano e mostra a coragem de um diretor de subverter gêneros com sua liberdade criativa. Um filme que não chega perto do clássico original, mas que certamente conseguirá entreter não só o glorioso fã dos filmes de ação dos anos oitenta.
Curiosidades: Originalmente, o filme seria um reboot da franquia Predador, mas Shane Black decidiu mais tarde que era uma sequência dos longas O Predador (1987), Predador 2: A Caçada Continua (1990) e Predadores (2010).