O cantor Pedro Mariano no ano de 2014, completando 20 anos de carreira, conseguiu realizar um grande sonho. Gravou ao vivo em São Paulo, no Teatro Alfa, ao lado de uma orquestra sinfônica, nos formatos DVD (16 faixas) e CD (14 faixas), releituras com arranjos orquestrais de seus principais temas do seu repertório e também faixas inéditas. Realização do selo Nau, de sua propriedade e do Canal Brasil.
Filho do pianista Cesar Camargo Mariano e da cantora Elis Regina, ele teve a sorte de nascer numa casa onde a música sempre foi o prato principal e sua escolha em se tornar um intérprete, foi algo natural e que requereu muito esforço.
Na gravação, a Orquestra Eleazar de Carvalho foi regida por Otavio de Moraes e contou com a Direção Musical de Jorge do Espírito Santo. A banda do cantor, formada pelo santista Marcelo Elias no piano e teclados, Luiz Gustavo Garcia no contrabaixo, Thiago Rabello na bateria e Conrado Goys na guitarra e violões, ganhou a companhia de 6 metais (trompete, flugelhorn, saxofones alto e tenor, flauta e trombone), 8 violinos, 3 violas e 3 violoncelos.
O projeto, extremamente arrojado, só foi possível de se realizar, graças ao aporte financeiro de um grande banco brasileiro, que apostou no projeto, acreditando que ele deixará um grande legado para a cultura do nosso país.
Uma outra característica interessante do projeto, usado como contrapartida ao patrocinador, merece nosso destaque e aplauso. Por se tratar de uma produção cara, envolvendo muitos músicos, o cantor quando faz apresentações neste formato, em locais fora de São Paulo, utiliza orquestras locais, promovendo um intercâmbio muito interessante entre os músicos consagrados e os músicos locais. E também, nestas cidades visitadas, realiza palestras para crianças de comunidades carentes sobre música.
Aqui fica meu apelo para que outras instituições financeiras façam o mesmo com outros artistas. Precisamos muito deste apoio, para que a música de qualidade possa ser acessível e perpetuada para as futuras gerações.
Meus destaques ficam por conta das regravações com a sua identidade de “Certas Coisas”, “Faltando Um Pedaço”, “Você” e “Sangrando”. Também as conhecidas do seu repertório, “Para Você Dar o Nome”, “Simples”, “Miragem” e “Ventania”, esta última uma exigência da sua filha Rafaela e as inéditas “Um Pouco Mais Perto”, presente da cantora Ana Carolina, e “Sem Você Sou Não”, do grande amigo, irmão e parceiro Jair Oliveira.
Pedro Mariano vive um momento atual de total independência na sua carreira. Ele cuida diretamente de tudo, desde a seleção de repertório, vendas, distribuição e divulgação de seus discos, além do controle de toda a parte artística.
Sou testemunha ocular deste comprometimento e profissionalismo. Trouxe a Santos o artista algumas vezes e posso garantir que, além do talento nato como intérprete, Pedro Mariano se destaca pela sua grande determinação e perfeccionismo. Além de ser uma figura muito engraçada e comunicativa.
Renato Braz, Nailor Proveta & Edson Alves – “Silêncio – Um Tributo a João Gilberto”
Que trio é esse. A linda voz de Renato Braz encontrou magicamente o violão com uma levada bossanovista de Edson Alves e o saxofone e o clarinete envolventes de Nailor Proveta. Mistura de talentos perfeita.
A homenagem, em forma de tributo, não poderia ser mais especial e foi dedicada ao genial João Gilberto, grande arquiteto da Bossa Nova.
O CD com 14 faixas lançado em 2014 pelo selo Coqueiro Verde, em parceria com o Canal Brasil, ganhou inclusive um documentário “Ensaio Sobre o Silêncio”, dirigido por Zeca Ferreira, que mostra os bastidores das gravações, as interessantes conversas dos músicos no estúdio e imagens de Juazeiro, na Bahia, cidade natal de João Gilberto, exibido várias vezes na TV e em diversos festivais de cinema.
Para Renato Braz, que considero um dos maiores cantores em atividade atualmente, foi um grande desafio gravar este CD. Ele teve que cantar alguns tons abaixo do seu tom normal, atendendo a uma indicação do também genial Dori Caymmi. E, com esta atitude, Braz pode se aproximar ao incrível universo de João Gilberto.
Algumas das canções mais representativas do repertório de João Gilberto foram gravadas pelo trio com arranjos lindíssimos e destaco “Pra Que Discutir com Madame”, “Estate”, “Besame Mucho”, “Doralice”, “Eu Vim da Bahia” e “Caminhos Cruzados”.
Vale lembrar que em 10 de julho de 1958, exatos 60 anos atrás, nos estúdios da Odeon, no Rio de Janeiro, ele gravou o LP “Chega de Saudade”, ao lado de Tom Jobim e sua orquestra.
Portanto, este trio nos oferece uma atual, linda e sensível evocação ao gênio baiano João Gilberto, que, através de seu raro talento, apresentou algo diferente e revolucionário para a música popular brasileira.
Carol Saboya, Antonio Adolfo & Hendrik Meurkens – “Copa Village”
A inspiração para a gravação deste CD primoroso veio do disco clássico “Aquarela do Brasil”, da cantora Elis Regina, gravado apenas em 2 dias na Europa no ano de 1969, ao lado do genial gaitista belga Toots Thielemans.
Exatos 46 anos depois, a afinada e talentosa cantora carioca Carol Saboya se juntou com seu pai, o inspirado pianista, arranjador e compositor Antonio Adolfo (que coincidentemente estava presente na gravação do disco ao lado de Elis & Toots) e mais o gaitista e vibrafonista alemão radicado nos Estados Unidos Hendrik Meurkens, para gravar 11 faixas em 2015, exclusivamente para o mercado americano, pelo selo AAM Records.
O nome do CD homenageia Copacabana, bairro mítico da cidade do Rio de Janeiro, onde a Bossa Nova se eternizou e também o bairro da cidade de Nova York, na famosa Rua 52, Greenwich Village, onde o Jazz ferveu na era do “Bebop”.
E esta mágica mistura entre o Jazz e a Bossa Nova é o grande charme do trabalho, que contou também com as marcantes participações dos músicos Claudio Spiewak na guitarra, Itaiguara Brandão no contrabaixo, Adriano Santos na bateria e André Siqueira na percussão.
O pianista Antonio Adolfo está sempre em movimento entre o Brasil e os Estados Unidos, divulgando e propagando a nossa música brasileira e fazendo uma arrojada fusão com o Jazz, uma das suas especialidades, o que particularmente gosto demais.
Já Carol Saboya é uma das vozes mais bonitas da cena atual das cantoras brasileiras e, sem dúvida, veio de berço, sua sensibilidade e sutileza nas interpretações. Voz doce e cristalina que toca o coração e agrada muito aos ouvidos.
E também fico cada vez mais impressionado com o raro talento de Hendrik Meurkens, músico que acompanho e admiro há muitos anos e que tem uma discografia maravilhosa, grande parte influenciada pela música brasileira. Seus improvisos são de tirar o sono.
Seleciono os temas “Garota de Ipanema”, “Água de Beber”, “Two Kites”, todas Jobinianas e mais as inspiradas “Show de Bola”, “Pretty World”, “Visão” e a faixa título “Copa Village”.
Apesar da regravação de diversos clássicos, o CD sai do lugar comum e apresenta uma sonoridade surpreendente e muito fácil de contagiar. Viva a Bossa Nova e o Jazz!!! E a sua natural e possível integração.