Se andava murcho e cabisbaixo, o torcedor do Santos recebeu, nesta semana, uma injeção tripla de esperança, alento e entusiasmo. A situação depressiva que o clube enfrentava desde o início deste ano sofreu uma reviravolta de 180 graus.
O futebol, nessa guinada do Peixe, lembra um pouco a definição de política do mineiro, já falecido, Magalhães Pinto: “É como nuvem. Você olha, está de um jeito. Olha de novo, já muda”.
A mudança do astral da Vila Belmiro passa um pouquinho pela vitória, magrinha e sofrida, de quarta-feira, fora de casa, contra o Fluminense. O resultado afasta o pesadelo de enfrentar o período da Copa na zona do rebaixamento do Brasileiro. Mas passa muito mais pela enxurrada de dinheiro que vai abarrotar as contas bancárias do clube nas próximas semanas. Essa é a previsão, depois da negociação de Rodrygo com o Real Madrid, da venda desenhada dos direitos do zagueiro Lucas Veríssimo e da porcentagem do clube nos direitos de Felipe Anderson, em trânsito da Itália para o futebol inglês.
A soma dessas três negociações deve render entre R$ 200 e 300 milhões. De endividado e sem crédito, o clube se transforma, como num passe de mágica, em player, competitivo, no mercado da bola. A virada da sorte tem dois aspectos conflitantes tanto em relação ao mercado como na política interna do Santos.
De um lado, o clube volta a abrir as portas para buscar reforços que deem ao time a musculatura que faltou neste primeiro semestre, principalmente no setor de meio campo. De outro, abre espaço para negociações de contratações de atletas de potencial duvidoso. Isso porque quase sempre elas trazem embutidas gordurosas comissões para empresários sempre dispostos a repartir o bolo com dirigentes que tomam decisões. É preciso que o Comitê de Gestão esteja atento e forte e que o Conselho Deliberativo fiscalize de perto.
Na política interna, essa montanha de dinheiro vai reforçar a disputa pelo poder que teve, também nesta semana, a apresentação de um pedido de impeachment do presidente José Carlos Peres. Quem não quer surfar nessa onda de prosperidade?
A guinada mostra mais uma vez à comunidade do Santos, dirigentes, sócios e torcedores, que o caminho é mesmo o de investir nas divisões de base.
Rodrygo, que protagoniza uma das maiores transações do futebol brasileiro, chegou ao Santos em 2011, na gestão Luís Álvaro / Odílio Rodrigues, que adotou a política de que jogador da base tinha de ter pelo menos 70% dos direitos pertencentes ao clube. E que fechou negociações bem-sucedidads, como a de Felipe Anderson, que muitos anos depois ainda rendem dinheiro significativo para o Santos.
Está mais do que na hora de trazer de volta o supervisor Joãozinho, injusta e absurdamente demitido na gestão de Modesto Roma, e aproveitar o momento para reorganizar as divisões de base.