Coluna Dois

O Santos de José Carlos Peres: cara a cara com a Esfinge

05/05/2018
O Santos de José Carlos Peres: cara a cara com a Esfinge | Jornal da Orla

Os quatro maiores clubes paulistas – Palmeiras, São Paulo, Santos e Corinthians – bateram um recorde em termos de receitas e, juntos, totalizaram R$ 1,6 bilhão em 2016. Graças aos contratos de TV, os clubes de São Paulo registraram um aumento inédito de 43% em comparação a 2015.

Os dados estão baseados nos balanços dos clubes. A maior renda foi a do Corinthians, com R$ 485,4 milhões, seguido pelo Palmeiras, com R$ 468 milhões. O São Paulo veio na terceira colocação, com R$ 393,4 milhões, e o Santos fechou o grupo com R$ 295 milhões. 

Em 2017, o faturamento também apresentou crescimento. Mas em dimensão muito menor, quase 5%. E distribuído de maneira desigual. Palmeiras – R$ 531 milhões – e São Paulo – R$ 472 milhões – deram um salto e aumentaram a renda. Corinthians – R$ 391 milhões – e Santos – R$ 287 milhões – encolheram a arrecadação.

De um ano para outro, podem ocorrer diferenças significativas porque uma parcela importante dessas receitas consistem nas negociações de jogadores principalmente com o mercado externo.

Dinheiro não é tudo. Tanto que o Grêmio, campeão da Libertadores em 2017 e clube que exibe o melhor futebol do país neste ano, ocupa apenas a sexta posição no ranking nacional de faturamento – R$ 341 milhões. E o Flamengo, líder disparado na entrada de dinheiro – R$ 649 milhões -, quase o dobro dos gaúchos, tem colecionado eliminações e perdas  de títulos e tem jogadores agredidos por torcedores em aeroportos.

Cada clube tem a própria história e a própria cultura. E isso inclui as fontes de receitas. Um tem um estádio lucrativo. Outro tem muitos associados. Um terceiro forma e vende jogadores. Mas o cenário que os números mostram é o de um futebol que se profissionaliza apesar da estagnação da economia do país. E no profissionalismo, o dinheiro conta, e muito na competitividade das equipes.

Nesse ponto, a geração atual de dirigentes do Santos precisa pensar muito. Os santistas atuais receberam dos antecessores um clube com uma das histórias mais bonitas do futebol mundial.

Mas, neste 2018, mesmo disputando a Libertadores, o Peixe até agora não conseguiu nem preencher carências dramáticas do time titular, como a dos elementos de criação no meio campo. Por falta de dinheiro e de crédito. 

O Santos não tem nenhuma condição de, por exemplo, pagar a multa de um atleta com contrato com outro clube, como o São Paulo, que contratou assim o meia Éverton do Flamengo.

Manter a grandeza e a tradição do clube vai exigir competência e criatividade que os dirigentes do Santos não têm conseguido mostrar nos últimos anos. Recuperar a excelência perdida na formação de jogadores e voltar a ser uma referência nesse campo? Construir uma arena? Transformar-se em clube-empresa? Diante do Santos está uma esfinge propondo esse enigma. Se não decifrar rapidamente a pergunta que o monstro propõe, o clube passa a correr o risco de ser devorado por ele.