Márcio França (PSB) assumiu o Governo do Estado, substituindo Geraldo Alckmin (PSDB), e anunciou que vai promover uma gestão de continuidade dos acertos do antecessor e avanço nos investimentos sociais -sobretudo em projetos voltados aos jovens.
A cerimônia de transmissão do cargo, na sexta-feira (6), no Palácio dos Bandeirantes, acabou se transformando em um grande ato político multipartidário em apoio à candidatura de França para permanecer governador até 2022. Inclusive de Alckmin, apesar de seu partido ter anunciado que terá João Dória como candidato. No seu estilo discreto, Geraldo Alckmin não fez uma manifestação de apoio explícita, mas quem acompanhou a cerimônia saiu com a certeza de quem é o candidato do agora ex-governador.
Eu seu discurso de despedida, Alckmin destacou que São Paulo estará em boas mãos e que França utilizará toda a sua experiência para continuar gerindo o estado mais rico do país. "Despeço-me hoje do cargo para o qual tive o orgulho de ser eleito e reeleito pelo povo paulista. Esta solenidade é marco de um início. O nosso governo não terminou, pois temos muito a servir. Essa missão cabe agora às boas e competentes mãos, a partir de hoje, do governador Márcio França", disse Alckmin.
Em seu discurso de posse, França repetiu várias vezes uma palavra: lealdade. O governador afirmou que será leal aos seus princípios e às ações do governo paulista. "Vivo para permitir que todos possam ter as mesmas oportunidades que eu tive na vida, que todos possam exercer as suas vocações e trabalharem por prazer, que os meninos não tenham que vender seus sonhos e nem vilipendiar o seu ser e que amem o seu pai e admirem os seus governantes", afirmou.
E encerrou sua fala de modo assertivo: "Só uma palavra precede a lealdade: gratidão", disse, pedindo palmas para Geraldo Alckmin.
Embora a grande notícia do mundo político brasileiro ser a prisão do ex-presidente Lula, o evento no Palácio dos Bandeirantes reuniu lideranças de vários partidos -alguns deles que ainda não formalizaram a adesão à campanha eleitoral de França. Chamou a atenção o grande número de prefeitos e vereadores do Estado. Também participaram empresários, sindicalistas e entidades setoriais.
Sabotagem
Márcio França conseguiu formar um amplo arco de alianças mas deve enfrentar algumas dificuldades durante seu início de gestão. Entusiasta declarado da candidatura de Dória, o presidente da Assembleia Legislativa, Cauê Macris (PSDB), não escondeu seu desconforto durante a cerimônia de posse de França na Assembleia. Esteve presente no evento por força do cargo, mas não participou da cerimônia festiva no Palácio dos Bandeirantes, no fim da tarde.
Macris já acenou que pretende atrapalhar projetos de França, numa clara tentativa de inviabilizar sua gestão. Entre eles, o que prevê a implantação de um projeto de alistamento civil para 100 mil jovens de 18 anos -uma ampliação do bem-sucedido Jepom, que implementou durante sua gestão como prefeito de São Vicente.
A ideia de França é que os jovens dispensados do serviço militar em situação de vulnerabilidade social (mau desempenho escolar, problemas de comportamento na família, autores de pequenas infrações etc) sejam convidados para participar do projeto. Os que aceitarem serão treinados e capacitados para prestar primeiros socorros, serviços de orientação turístico ou do trânsito. Serão remunerados e cada grupo de 30 jovens terá um tutor -provavelmente um policial militar aposentado.
Cratera no ninho
Mesmo sendo de outro partido (PSB), a candidatura de Márcio França conta com a simpatia de diversas lideranças do PSDB. Com a confirmação de João Dória como candidato do partido, a revoada do ninho tucano foi generalizada. Entre os que deixaram a legenda estão o deputado estadual Barros Munhoz (ex-presidente da Assembleia Legislativa) e o vereador Mário Covas Neto (filho do ex-governador, falecido em 2001). O fenômeno se repete em todo o estado, com prefeitos, vereadores e ocupantes de cargos de confiança no Governo deixando o partido.
A nível regional, o exemplo é o subsecretário de Desenvolvimento Metropolitano, Edmur Mesquita, que deixou o PSDB após 30 anos de filiação. Em sua carta de despedida, foi enfático: "Aceitei, livre e conscientemente, enfrentar o desafio de contribuir com o futuro governador Márcio França", diz. "É portador de predicados extraordinários: talentoso, criativo, acredita nas causas que abraça e, sobretudo, é sério e honrado".
Ampla aliança
A candidatura de Márcio França conta com o maior arco de alianças partidárias -e, consequentemente, mais tempo no horário eleitoral gratuito (mais de 20 minutos). Além do PSB, integram a coligação Partido da República (PR); Solidariedade (SD); Partido Republicano da Ordem Social (PROS); Partido Social Cristão (PSC); Partido Pátria Livre (PPL), Avante, Partido Popular Socialista (PPS), Partido Humanista da Solidariedade (PHS), Partido Verde (PV), Partido da Mulher Brasileira (PMB) e Partido Republicano Progressista (PRP). França negocia ainda com o PDT e o PTB.
Portas fechadas
Em contraste à cerimônia de posse de Márcio França, a transmissão de cargo de prefeito de São Paulo, de João Dória para Bruno Covas, foi extremamente discreta: no gabinete, de portas fechadas, sem a presença de público ou jornalistas. Bem diferente da cerimônia de posse, realizada em janeiro do ano passado, com pompa e circunstância, no Teatro Municipal, e do estilo espalhafatoso de Dória ao divulgar suas ações.
Dória renunciou e se perder a eleição fica sem nenhum cargo público.
O agora ex-prefeito vem sendo duramente criticado, inclusive dentro do PSDB, por três razões principais:
1. Não honrou o compromisso de cumprir o mandato de prefeito de São Paulo até o final.
2. Ter traído o padrinho político, Geraldo Alckmin, ao tentar tomar o lugar dele como candidato do PSDB à Presidência da República.
3. Estar fazendo uma gestão com grandes problemas à frente da maior cidade do país -muito marketing e poucas realizações.