O belíssimo documentário “Coisa Mais Linda – Histórias e Casos da Bossa Nova” lançado em 2005 pela Sony Pictures, também disponível em DVD, foi dirigido e roteirizado pelo cineasta Paulo Thiago, reunindo entrevistas e apresentações exclusivas.
O nome do DVD foi uma homenagem à composição de Carlos Lyra e Vinicius de Moraes, um dos grandes clássicos da Bossa Nova.
Mostra com riqueza de detalhes o nascimento do movimento musical no Brasil nos anos 50 e também apresenta o contexto histórico e social do país na época.
O curioso é que a inspiração para a realização do documentário veio da própria história de vida do cineasta.
Quando Paulo Thiago era adolescente, no final da década de 50, ficou muito impressionado quando ouviu pelo rádio a primeira gravação da Bossa Nova na voz do genial João Gilberto.
Teve o desejo imediato de aprender a tocar violão e conseguiu ter aulas particulares com um certo professor chamado Roberto Menescal, que viria a se tornar um dos grandes nomes da Bossa Nova.
E por essa razão de amizade, “Menesca” (como é conhecido para os íntimos) se tornou um dos personagens principais do trabalho de seu ex-aluno.
Os protagonistas: Carlos Lyra e Roberto Menescal, que contam com propriedade a maioria das histórias das pessoas, dos lugares e das apresentações mais importantes. E contam também como se conheceram no colégio e como surgiram as batidas características da Bossa Nova.
Mostra também o ápice do movimento em 1962, com a realização do Concerto no Carnegie Hall em Nova York, que marcou a internacionalização do estilo.
O filme também inclui imagens mais recentes e de arquivo com apresentações e entrevistas com Tom Jobim e Paulo Jobim, Astrud e João Gilberto, Nara Leão, Wanda Sá, Joyce, Newton Mendonça. Também aparecem Johnny Alf, João Donato, Oscar Castro Neves, Leny Andrade e Ronaldo Bôscoli. O saudoso Miele, que organizou, ao lado de Bôscoli, os grandes shows da Bossa Nova, conta histórias muito engraçadas e pitorescas.
Vale destacar também as merecidas homenagens para Nara Leão e Vinicius de Moraes. E os jornalistas Tárik de Souza, Nelson Motta e o escritor Arthur Da Távola, fornecem informações históricas muito interessantes. A trilha sonora também merece um registro especial. Você vai ouvir as grandes canções e também versões exclusivas, gravadas ao vivo, feitas exclusivamente para o documentário.
Você vai poder fazer um delicioso passeio pela Bossa Nova e conhecer com detalhes as histórias pitorescas, sempre num clima intimista e informal. É de emocionar.
Ettore Stratta & The Royal Philharmonic – “Symphonic Bossa Nova”
Considero este lançamento do ano de 1994, do Selo Teldec, um dos mais surpreendentes trabalhos de Bossa Nova feitos no exterior.
Nosso saudoso maestro soberano, Tom Jobim, que ainda estava vivo quando do lançamento do CD, referendou o trabalho com um texto sensível e inspirado no encarte.
O disco contou com os arranjos, orquestração e participação especial no piano, do inspirado e premiado músico argentino Jorge Calandrelli, grande referência musical radicado nos Estados Unidos desde o ano de 1978.
Para você ter ideia da sua grandeza, um time de estrelas, do naipe de Al Jarreau, Dori Caymmi, Oscar Castro Neves, Claudio Roditi, Gary Burton, Hubert Laws, Tom Scott entre outros, participou das gravações e foi liderado pelo condutor italiano Ettore Stratta. E o reforço de peso da The Royal Philharmonic deu o toque final de sucesso ao projeto.
Arranjos lindos, diferentes e completos. A cada faixa do disco você vai descobrindo que a música não tem fronteiras e que a comunhão de sentimentos e talentos faz muito bem aos nossos corações e a nossa alma.
Os temas “One Note Samba/The Girl From Ipanema”, “Atrás da Porta”, “Like A Lover”, “Curumin” e “The Island/Daquilo Que Eu Sei” são sensacionais e encantam pela beleza dos arranjos e pela sonoridade.
Um CD que merece ser escutado do princípio ao fim, com a máxima atenção, e você não pode deixar de ter em sua coleção. Nota 10 em todos os quesitos.
“A Bossa de Cauby Peixoto”
No ano de 2015, Cauby lançou outro CD com 10 faixas, desta vez, pelo Selo Biscoito Fino e conseguiu realizar outro grande sonho, que era o de gravar o repertório da Bossa Nova, com a sua levada e estilo, sempre inconfundíveis.
O que já valeria pela gravação do disco, respeitando sua capacidade vocal, sempre surpreendente, assim como sua personalidade.
Cauby foi o responsável pelo projeto do disco e fez este pedido diretamente ao seu produtor Thiago Marques Luiz, que prontamente o atendeu. O repertório foi escolhido por Cauby, Thiago e sua empresária Nancy Lara. Disse na época das gravações: “As canções só precisam ser bonitas. Mesmo com a voz mais potente que a dos cantores de Bossa Nova, ou com um estilo mais romântico, eu posso cantar essas músicas”.
Acompanharam-no neste belo disco o pianista Alexandre Vianna, que também assina os arranjos, o contrabaixista Deco Telles e o baterista Humberto Zigler. E, mais, destaque para as participações especiais do pianista Daniel Bondaczuk e do violonista Ronaldo Rayol., do saxofonista e flautista Marcelo Monteiro, do guitarrista Rovilson Pascoal.
Meus destaques ficam por conta das intimistas “Eu e a Brisa” e “Ilusão à Toa”, homenageando o genial Johnny Alf, e mais “Samba do Avião”, “Wave”, “Este Seu Olhar”, “Dindi”, que ele normalmente cantava nos seus shows, e “Razão de Viver” e “Até Quem Sabe”, que eram desconhecidas para ele.
Impossível não se emocionar com a elegância da sua interpretação e dos belos arranjos, que deram, ao disco, uma sonoridade muito especial e marcante.
É nítido sentir que Cauby se aproximou da Bossa Nova pelas pegadas do Jazz, afinal ele sempre afirmava, categórico, que era também um cantor jazzístico.
Foi um registro histórico e importante da discografia de Cauby Peixoto, um dos grandes cantores que o Brasil já teve.
Versátil, criativo, intenso, marcante, assim como sua música.