Coluna Dois

Formar ou contratar jogadores para montar um time?

30/09/2017

A semana apresentou dois episódios interessantes de confronto entre duas mentalidades opostas de montagem de times de futebol. Um no plano internacional e outro, no nacional. Na Champions League européia, a competição mais valorizada do mundo, Bayern de Munique e Paris Saint Germain. Na Copa do Brasil, a final entre Cruzeiro e Flamengo.

Bayern e Cruzeiro têm atualmente dimensões diferentes. O clube alemão está entre os 4 gigantes do futebol mundial ao lado de Real Madrid, Barcelona e Juventus de Turim. O Cruzeiro está no bloco dos 8 ou 10 clubes grandes que ainda tentam resistir à decadência do futebol brasileiro. Mas tanto um como outro colocam em campo a mentalidade de formar os próprios jogadores ou contratar promessas entre 20 e 22 anos.

Paris Saint Germain e Flamengo, cada um na própria dimensão, optaram recentemente por outra política, a de contratar jogadores bem-sucedidos na carreira. PSG, lastreado pelo dinheiro árabe, contrata astros no auge. Fla, com menos bala, escolhe duas prateleiras abaixo, entre as rebarbas do mercado internacional.

No confronto europeu, PSG nocauteou o Bayern, 3  a 0, ainda que os alemães possam argumentar com o maior tempo de posse de bola. O Bayern tem a oportunidade da revanche obrigatória no segundo turno da fase de grupos e talvez até possa rir por último, se houver um cruzamento na fase de mata-mata. Mas precisa primeiro tratar das feridas.

No Brasil, o Flamengo colecionou mais um fracasso. Já tinha sido eliminado na fase de grupos da Libertadores e patina 15 pontos atrás do Corinthians na sétima colocação do Brasileiro. Pode argumentar que perdeu para o retranqueiro Mano Menezes. Ou  que teve a iniciativa do jogo. Mas, emblematicamente, viu uma de suas estrelas, o ex-santista Diego, desperdiçar o pênalti que provocou a derrota.

A observação desses confrontos entre as duas mentalidades serve — e como ! — para reorientação do Santos. A eliminação, em plena Vila Belmiro, nas quartas da Libertadores, mostrou, mais uma vez, para os dirigentes, o que o torcedor tem como verdade clara, quase como um mantra: a grandeza do clube tem ligação direta com o carinho dado à formação dos jogadores. 

A gestão atual, ao demitir o supervisor Joãozinho, desmanchou, sem explicar as razões, um esquema vitorioso nas divisões de base. O Santos conquistou, em 2013 e 2014, na gestão anterior, um bicampeonato inédito da Copa São Paulo de futebol de juniores e um também inédito título da Copa do Brasil sub-20. Essa geração deu a estrutura —  bem sólida, por sinal — para a formação de um time no profissional desde 2015.
Para este ano, o fracasso de uma política meia boca de contratação de reforços mostrou, mais uma vez, que a vocação do clube é essa: formar jogadores. Na saída de Thiago Maia, o contratado a peso de ouro Leandro Donizete não entrou no time, mas sim Alison, formado na base. Quando precisou de um substituto para Victor Ferraz, o treinador Levir Culpi também optou por Daniel Guedes, formado na Vila, e não por Matheus Ribeiro, contratado. Tanto Alison, como Daniel Guedes são “heranças” dos times sub-20 de 2013 e  2014.

O clube tem eleição da próxima gestão em dezembro e o sócio deve analisar com atenção redobrada as propostas dos candidatos para as divisões de base. A formação de jogadores é fator fundamental da construção da grandeza centenária do passado do Santos. E é a opção mais segura para garantir a manutenção dessa grandeza no futuro.