Santos

Santos, capital do café

30/09/2017
Santos, capital do café | Jornal da Orla

Bons tempos eram os anos do fim do século 19 e os primeiros do 20, quando a exportação de café impulsionava a economia do pais e, em especial, a da cidade de Santos. A riqueza era tanta que, como símbolo do poder, os "barões do café" construíram um imponente palacete, com colunas descomunais, mármore italiano, vitrais tchecos, relógio inglês, cúpulas de cobre, esculturas épicas… 

Um século depois, o ouro verde não pesa tanto na balança comercial brasileira. Em 1940, o café era responsável por 42% das exportações; hoje responde por 6,4% do total do agronegócio brasileiro. Mas nunca antes na história deste país se exportou tanto café. No auge do seu ciclo, eram cerca de 28 milhões de sacas anuais. Agora, ano após ano, são batidos recordes de exportação. Segundo o Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (CeCafé), em 2016 foram 34 milhões de sacas de 60 kg -o setor faturou US$ 5,4 bilhões.

E Santos exerce um protagonismo muito grande nesse cenário tão gigante quanto promissor. Cerca de 85% de todo o café exportado pelo Brasil sai pelo Porto de Santos.  "Santos ainda é uma das maiores praças de café do mundo. Cerca de 50 das principais empresas exportadoras mantêm seus escritórios na cidade. É um setor que movimenta centenas de profissionais, como corretores e classificadores de café", explica o coordenador da Câmara Setorial de Exportadores de Café da Associação Comercial de Santos (ACS), Moacir Soares.

A cidade continua sendo referência também para os profissionais de outros países. Os cursos de classificação promovidos pela ACS atrai pessoas de diversas nações, em especial japoneses. Explica-se: Estados Unidos, Alemanha e Itália são os principais destinos dos nossos grãos, mas a tendência é que o consumo aumente em países que possuem o o hábito de ferver água para fazer chá, como Inglaterra, Japão, Coreia do Sul e as bilionárias Índia e China.

 

Impulso para o turismo

Apostar no turismo com foco no café já se mostrou uma excelente oportunidade para a cidade, diante do sucesso das edições do Festival Santos Café, promovido pela Secretaria de Turismo, do crescente número de visitantes ao Museu do Café, localizado no prédio da Bolsa Oficial, e de cafeterias e bistrôs na cidade.

“No mundo todo, quem trabalha com café conhece nosso porto como o Porto do Café, porque, antigamente, os blends eram feitos aqui. As pessoas pensam que se produz café em Santos, do mesmo jeito que falam bacalhau do Porto, e a cidade do Porto, em Portugal, apenas processa o bacalhau. O mesmo acontece com o chá da Inglaterra e o chocolate suíço. O café é o rosto de Santos. Por isso, a ideia é usar a história para ligar a imagem do café com a da cidade e mostrar que ela cresceu por conta do dinheiro do café", diz o diretor da ACS.

Nos tempos de ouro do café, era nas ruas XV de Novembro e do Comércio, no Centro de Santos, que os negócios borbulhavam. A XV chegou a ser conhecida como a Wall Street brasileira, pois era reduto das casas exportadoras de café, agências marítimas, bancos e da Bolsa Oficial de Café. O complexo portuário reunia mais de 30 armazéns dedicados à preparação dos blends (misturas de grãos) para embarque do produto. Hoje, resta apenas um. 

"Com a mudança nos transportes, os armazéns foram transferidos para perto da produção. Então, o café é colhido, beneficiado (preparado) lá e já chega ao porto de Santos pronto para colocar no navio. A tendência é de que até mesmo os contêineres já venham carregados. Estamos perdendo postos de trabalho e cabe à nossa cidade estudar meios de trazer parte desses serviços e consolidar os principais escritórios de exportadoras", diz Carvalhaes.

 

Falta de dragagem atrapalha setor

Problemas na infraestrutura no porto atrapalham tanto as exportações como o turismo. O coordenador da ACS lembra que o complexo santista não consegue receber navios maiores, devido à falta de dragagem.  “Estamos com atrasos nos embarques de café”, lamenta Moacir Soares.

A revitalização dos armazéns, há anos desativados, seria uma saída para alavancar o turismo, principalmente, ligado ao café. "O Porto de Santos é o último grande no mundo que não tem uma área para turismo e negócios. É um absurdo. Deveríamos ter um outro terminal de passageiros neste local. Assim, os turistas poderiam desembarcar e andar a pé pelo Centro", sugere Carvalhaes.
 

Novas formas de consumo

Na década de 80 houve uma preocupação mundial por parte do envolvidos no segmento de café em relação ao envelhecimento de seu público. É neste período que surgem cafeterias descoladas, como a Starbucks, para estimular o consumo entre os mais jovens. 

O  mercado interno também está aquecido. A Associação Brasileira da Indústria de Café (ABIC) estima que o consumo no país deve chegar a 22 milhões de sacas até o final do ano. "Assim como aconteceu com o vinho e a cerveja, os brasileiros estão se tornando mais exigentes com o café. Hoje, já é possível comprar cafés de todos os tipos e locais do país em supermercados. Os cafés em cápsulas também ajudaram nesta renovação do público. Os jovens estão aprendendo a tomar café", comemora Soares.

 

Para celebrar o Dia Internacional do Café, o Museu do Café (Rua XV de Novembro, 95, Centro) promove encontros com especialistas, palestras e degustação. Confira a programação completa: 

A programação gratuita contará com o bate-papo “Café, consumo e empreendedorismo”, das 14h às 16h30, com abertura e mediação do Diretor Técnico do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), Eduardo Heron. A barista, mestre em torra e proprietária do Coffee Lab, Isabela Raposeiras, abordará o tema “Pontos importantes na hora de abrir uma cafeteria”, contando um pouco sobre seus 17 anos de atuação na área.

 

Seguindo a programação, “Novas Formas de Consumo – Nitro Brew e Cold Brew” será o tema da conversa com o fundador da Suplicy Cafés Especiais, Marco Suplicy, que, desde 2003, introduziu o conceito de café especial no País e trabalha com grãos 100% brasileiros. 

 

Com o seu início em 1890, a Octavio Café participará do evento trazendo o barista Renan Dantas, que apresentará ao público as “Formas de Consumo de Café”. Outro importante assunto que será colocado em pauta pelo sócio do Santo Grão, Fernando Dourado, será o “Amor da equipe – como transmitir amor pelo que faz, resultando em uma boa experiência com café”. Complementando os convidados do bate-papo, a coach e proprietária do IL Barista Cafés Especiais e da Cafeteria do Museu, Gelma Franco, mostrará ao público a “A Terceira Onda do Café”, que trata essa bebida como um produto ligado à gastronomia. Ao final das apresentações, o público poderá fazer perguntas sobre as temáticas que foram expostas durante o encontro.

 

Fechando a comemoração, os participantes poderão interagir, degustar e conhecer mais sobre o preparo da bebida com os especialistas das cafeterias em mesas sensoriais, a partir das 16h30. Para participar da programação é necessário se inscrever pelo e-mail [email protected]