Parece elementar, porém, já ouvimos muitas vezes o alerta de que o jogo só acaba quando termina. Muitos campeonatos, partidas de futebol ou de algumas outras práticas esportivas vivenciaram resultados absolutamente imprevisíveis em seu decorrer. Quantos de nós lembramos de momentos em que torcidas já comemoravam títulos e foram forçadas a substituir os olhos brilhantes de felicidades pelos marejados com as lágrimas de derrotas imprevisíveis?
Justamente por isso a cultura popular adotou o singelo e estranho alerta, de que, “o jogo só acaba quando termina”. Não adianta que o jogo esteja dois a zero, garantindo um título, se nos minutos finais o time adversário empata o jogo, leva para os pênaltis e obtém a vitória quando o seu melhor atacante erra o chute fatal.
Trago esta alegoria esportiva para que coloquemos os pés no chão e não nos iludamos com as recentes notícias positivas, relativas aos problemas com as dragagens no Porto de Santos, imaginando que o jogo está ganho.
O primeiro gol positivo foi a liminar que a Justiça concedeu para a Codesp , no dia 1º de agosto, garantindo a retomada dos serviços de dragagem. Com tal liminar, a “propriedade” da lama estaria equacionada. Com a retomada dos trabalhos de dragagem e a torcida portuária ainda festejando o primeiro gol, dois gols sequenciais animaram ainda mais a todos: os anúncios de que o calado operacional do porto havia sido elevado para 12,6 metros e depois para 13 metros. Estes acréscimos de calado não são muita coisa ainda, mas representam um alento para quem sofreu o revés do contar com apenas 12,3 metros.
O jogo apresentava resultados positivos. Liminar, retomada da dragagem e elevação do calado. Para levar a torcida portuária ao delírio, surgiu um novo gol. Na verdade, um golaço. Numa atuação conjunta dos dirigentes do Sindicato dos Operadores Portuários (Sopesp) e da Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp), foi obtido um acordo com o governo federal e a empresa detentora do novo contrato de dragagem, para que seus serviços sejam antecipados e iniciados em 1º de setembro. Uma perfeita integração entre agentes públicos e privados, lembrando até a dobradinha Pelé e Edu, como alguns saudosistas santistas poderiam afirmar.
Estamos ganhando o jogo. Realmente, o time está se movimentando bem e, até agora, não tomamos nenhum gol contra. Entretanto, é necessário lembrar que “o jogo só acaba quando termina”.
E quando o jogo da dragagem termina? Pois é, ele nunca vai terminar! A dragagem do Porto de Santos é permanente e ininterrupta. Como um porto estuarino, que recebe depósito arenoso constante, nunca poderá se interromper ou suspender os serviços de dragagem. No máximo, o jogo poderá ser praticado de forma mais tranquila, quando a profundidade adequada for atingida.
O jogo da dragagem no Porto de Santos continuará em ritmo acelerado até que tenhamos efetivamente a profundidade de 15 metros. Este é um jogo que precisa de participantes com agilidade permanente, jogo de cintura constante, liberdade de ação e, principalmente, preparo físico para atuar, sem pensar no tempo. Um jogo para superatletas.
Nestes pontos residem a grande preocupação com o atual estágio do jogo da dragagem no Porto de Santos. Não podemos imaginar que o jogo está ganho porque conseguimos alguns gols. Ainda temos grandes desafios pela frente e o longo tempo de partida é o principal fator de preocupação.
Quando analisamos o tempo envolvido com o jogo da dragagem, constatamos rapidamente que a forma de jogar, do time atuante, tem a tradição de não segurar resultados. O time do poder público, mais pela tática do que pelos jogadores, não aguenta muito tempo segurando o resultado positivo nos serviços de dragagem, em vista de seus engessamentos e burocracias. Tradicionalmente, vai dando espaço aos adversários problemas, tomando gols sucessivos e termina por perder os jogos e campeonatos.
Os gols contra se apresentam com as falhas na defesa, que não planeja e não controla corretamente, com a falta de recursos financeiros, com as demoras nas realizações ou homologações das batimetrias e vários outros fatores históricos.
Infelizmente, este time, ao longo da história, tem demonstrado que não consegue segurar resultados positivos. Portanto, não podemos desacelerar o ritmo, na direção de solução definitiva para os problemas com as dragagens no Porto de Santos. Somente um novo time, com nova tática, poderá garantir o resultado. O Condomínio privado precisa entrar em campo, com sua agilidade, para viabilizar que a dragagem seja permanente e, assim, garantir que o jogo continue sendo ganho pelo Porto de Santos, pela competitividade do país no comércio exterior e, principalmente, pela coletividade de nossa região. Não podemos desaquecer o time condominial privado.