Coluna Dois

Será que um treinador desaprende de um dia para o outro?

15/07/2017
Será que um treinador desaprende de um dia para o outro? | Jornal da Orla

O teatrólogo e cronista Nelson Rodrigues, genial, definiu com precisão cirúrgica:
“Das coisas menos importantes, o futebol é a mais importante”. 

Assim, numa semana  movimentada como esta, pode parecer fútil falar de futebol. Um ex-presidente da República condenado na justiça. O presidente atual rebolando indecentemente no Congresso para escapar do julgamento de uma denúncia gravíssima. Reforma trabalhista aprovada e sancionada. Ex-presidente peruano preso por propina da Odebrecht…

Também fica difícil escrever sobre futebol numa semana em que um vascaíno e um palmeirense morreram em consequência da estupidez cada vez maior das brigas entre torcedores rivais. Ainda assim… vamos falar de futebol. Na verdade, de dois detalhes do futebol atual.

Um deles se refere ao Palmeiras de Cuca. Ele é reconhecido como um grande treinador. Um dos cinco melhores em atividade no país. Ganhou uma Libertadores com o Galo Mineiro e o Brasileiro do ano passado com o Palmeiras.

Saiu no final do ano, voltou no começo de maio e está colecionando derrotas. Será que desaprendeu? É importante observar um dos fatores dessas derrotas. Lógico que esse fator, sozinho, não explica o rendimento muito abaixo da expectativa desse elenco montado pelo Palmeiras. No início do ano, 10 entre cada 9 analistas do futebol diziam que o Palmeiras era candidato a ganhar tudo o que iria disputar neste ano. Perdeu o Paulista, parece já ter jogado a toalha no Brasileiro e está ameaçado de não passar de fase tanto na Libertadores quanto na Copa do Brasil.

O detalhe é que Cuca chega num momento em que o time joga em alguma dessas três competições duas vezes por semana. Quando treinar? Como implantar a filosofia de jogo do treinador, diferente, muito diferente da do antecessor dele no cargo?

O outro detalhe se refere a um conceito equivocado de muitos torcedores quando treinadores e jogadores reclamam dessa sequência de jogos. O torcedor diz assim: 

“Eu estudava (ou trabalhava), jogava futebol todo dia e não ficava cansado. Esses caras ganham para jogar, só fazem isso e reclamam?”.

Um jogador profissional de futebol não fica “cansado” por jogar duas vezes na semana. A grande maioria tem condicionamento excelente. Entra em campo e corre normalmente. A questão que muitos torcedores não conseguem perceber é que quando um jogador que está jogando duas vezes na semana enfrenta um que está jogando uma vez só, o adversário está fisicamente melhor que ele. Simples assim.     

As pesquisas na área da medicina esportiva mostram que o futebolista que joga duas vezes na semana tem, em média, 6 vezes mais lesões do que aquele que joga uma vez só.

 

Nilmar
O atacante, apresentado pelo Santos nesta semana, deve estar apto para jogar só no final de agosto, quando a temporada pode já estar definida para o clube. Mas também pode ser decisivo, se o Peixe estiver vivo no Brasileiro, na Copa do Brasil e na Libertadores. Nilmar não joga há pouco mais de um ano. Uma contratação parecida com essa, e bem-sucedida, a de Ricardo Oliveira, no início de 2015, deve ter pesado muito a favor da decisão da direção do Santos de contratar Nilmar.

 

Sereias
Repercutiu muito entre os torcedores do Santos o público do primeiro jogo da final do Brasileiro de futebol feminino na quinta-feira na Vila Belmiro. Nem em clássicos em finais de semana o Peixe tem levado públicos dessa dimensão ao estádio. A estimativa é de que entre 15 e 16 mil pessoas assistiram à vitória das Sereias contra o Corinthians por 2 x 0. O maior público na Vila neste ano foi o do jogo contra o The Strongest pela Libertadores: 13 mil pessoas. Como o ingresso foi gratuito, muitas pessoas estão atribuindo à dificuldade para pagar ingressos, a queda da frequência do torcedor santista na Vila. Será?

 

São Paulo
O clube parece estar seguindo fielmente a cartilha que leva ao rebaixamento. Fez três experiências seguidas com treinadores (Osório, Bauza e Rogério Ceni), se transformou num balcão de negócios de jogadores, dá mais espaço para medalhões cansados do que para as revelações da base. Nesta semana, o afastamento do auxiliar Pintado, mal explicado, ajudou a colocar mais nuvens cinzentas num ambiente já muito carregado.