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Tio Bill? MV manda a real para a nova geração do Rap nacional

06/04/2017
Tio Bill? MV manda a real para a nova geração do Rap nacional | Jornal da Orla
O rapper MV Bill já se considera um tiozão do Rap Nacional. Mas suas letras inteligentes, ácidas, que atingem muita gente como um soco no estômago, estão (muito) longe de serem antiquadas. 
Sempre original, com a levada carioca que lhe é peculiar, ele acaba de lançar a música “Tio Bill”, onde se apresenta para a nova geração e manda a real: “o Hip Hop não é moda”! E nunca será. Confira a entrevista exclusiva que Bill deu ao Jornal da Orla:
Jornal da Orla – Bill, o Rap nacional mudou muito desde que você lançou  a música “Soldado do Morro”, em 1999. Como você avalia o rap atualmente?
MV Bill – Sim, o rap mudou bastante. Houve um tempo, principalmente nos anos 90, em que tinha uma necessidade brutal de mudança, pois todos os grupos eram muito uniformes, cantavam de maneira muito parecida e os assuntos também eram os mesmos. Com isso veio um momento em que era necessário falar sobre outros assuntos para que o rap expandisse. Hoje estamos em um quadro um pouco diferenciado, em que essa novidade acabou fazendo com que a raiz e a essência se perdesse um pouco, mas ela nunca deixou de existir. Até nos EUA, que é a matriz do rap mundial, o rap que faz sucesso hoje é descompromissado, tem mais refrão, pouco conteúdo em letra, mas o rap que fala da realidade social e racial norte-americana existe também. Nunca deixou de existir. Com a eleição do Trump e com a divisão que o povo brasileiro está começando a ver por aqui quando discutem política, acredito que esse tipo de rap voltará com força para a cena.
JO- Aparentemente, os rappers “abrandaram” seus discursos. Como você acha que o Rap nacional deve se posicionar diante do cenário político brasileiro atual?
Bill – Eu não considero que o rap abrandou, acredito que ele cresceu e o crescimento traz a poluição, traz pessoas com outras intenções , com outras visões. O rap não perdeu o discurso, o Brasil que mudou também. Com a mudança econômica muitos brasileiros passaram a ter acesso a alguma outras coisas. Com isso ocorreu uma necessidade do rap se adaptar, já não cabia mais uma agressividade que lhe era habitual. Porém, o discurso do rap em si nunca deixou de existir, sempre esteve presente e irá continuar se fortalecendo cada vez mais.
JO- A música autobiográfica “Tio Bill” pode ser considerada como uma crítica a esse novo cenário do Rap?
Bill- “Tio Bill” é uma música na qual eu me reapresento para o público mais jovem, assim como a música “Vida Longa”. O público de rap mudou, então têm muitos jovens ouvindo rap. Às vezes esses que vieram para cultura hip-hop atualmente estão vindo por conta de um artista específico ou têm seu artista predileto, ou até preguiça de buscar os nomes que ajudaram a pavimentar esse caminho. O hip-hop é uma cultura que não é de moda. Ele tem raiz. Então é bacana as novas gerações terem ideia  de quem fez rap no passado e continua na ativa até os dias atuais, como é o meu caso. “Tio Bill” acaba sendo uma música que “brinca” com coisas autobiográficas, mas também lembra a importância de como as coisas mais antigas também podem ser legais. Afinal: “OLD IS COOL”!
JO- Desde Kmila (irmã de Bill) e Negra Li (RZO), a participação feminina cresceu no mundo do Rap. Você considera que este hoje é um espaço menos machista e mais democrático?
Bill- O rap, não hip-hop como cultura, com todos os seus elementos, mas como rap em si, sempre foi muito machista, sim, sempre reservou mais espaço para os homens dentro de seus eventos. Eu sempre fui um cara diferenciado, pois sempre tive mulheres ao meu redor fazendo shows. Antes da Kmila, Nega Giza  (também irmã de Bill) já foi minha backing vocal e durante um período 4 mulheres me acompanhavam durante os shows, Kmila, Nega Giza e duas violinistas. Nunca tive problema em ter mulheres no palco, inclusive todas elas com papel de protagonismo, não apenas como coadjuvante. Se alguém está começando a perceber isso somente agora é legal, mas vem acontecendo há um bom tempo.
JO- Qual o disco seu que você considera mais importante? Qual trabalho é o seu “xodó”? Alguma música é mais especial pra você?
Bill- É meio clichê falar isso, mas todas as músicas têm sua importância, seu valor. Até as que não tiveram muita repercussão com o público. São como filhos, são criações… Então todas têm alguma coisa muito particular. Mas uma curiosidade é que a música “Só Deus Pode Me Julgar” está completando 15 anos em 2017, é uma música que nunca deixei de cantar em nenhum show e, infelizmente, o seu teor continua atual até os dias de hoje.
JO- Quais os projetos em que você está trabalhando? Tem intenção de lançar mais um livro ou algo na internet?
Bill- Estou trabalhando em vários projetos. Alguns paralelos, não só meus, mas também estou fazendo coisas relacionadas ao próprio Bill, que ainda sairão em 2017. Mas esse ano reserva outras surpresas. Coisas que estou fazendo de forma paralela. Aguardem!
Serviço:
Dexter convida MV Bill + DJ Jogado e Caiçara Groove
Baccará Backstage (Av. Epitácio Pessoa, 257, Embaré)
Ingressos: R$ 40 (masculino) e Feminino Vip até meia-noite.