Todos sabemos da importância e participação fundamental dos grãos nas exportações brasileiras. Aliás, são as exportações de commodities que têm garantido, ano a ano, o saldo da balança comercial e mantido a economia nacional ainda viva, mesmo que praticamente internada em uma UTI e, em muitos momentos, respirando como se estivesse ligada a instrumentos.
Os instrumentos que têm mantido nosso país ainda vivo no comércio exterior são as fortes e crescentes participações das commodities. No ano passado, somente no Porto de Santos, as operações com exportações das principais commodities (soja, milho, açúcar e suco de laranja), representaram 38% da tonelagem total movimentada. A soja tem mantido participação relevante nestes números. O Brasil há muito tempo deixou de ser apenas o país do café e do açúcar e passou a ser referência mundial no denominado complexo soja, envolvendo as operações da soja em grão, farelo e óleo. O primeiro registro de plantio de soja no Brasil data de 1914, no município de Santa Rosa (RS).
Mas foi somente a partir dos anos 1940 que ela adquiriu alguma importância econômica, merecendo o primeiro registro estatístico nacional em 1941, no Anuário Agrícola do RS (área cultivada de 640 ha, produção de 450 toneladas e rendimento de 700 kg/ha). Nesse mesmo ano, instalou-se em Santa Rosa a primeira indústria processadora de soja do País e, em 1949, com produção de 25 mil toneladas, o Brasil figurou pela primeira vez como produtor de soja nas estatísticas internacionais.
De todas as iniciativas para incrementar e fortalecer a pesquisa com soja no País, implementadas a partir dessa época, merece destacar a criação da Embrapa Soja, em 1975, que patrocinaria, já a partir do ano seguinte, a instituição do Programa Nacional de Pesquisa de Soja, cujo propósito foi o de integrar e potencializar os isolados esforços de pesquisa com a cultura espalhados pelo sul e sudeste.
É conquista da pesquisa brasileira o desenvolvimento de cultivares adaptadas às baixas latitudes dos climas tropicais. Até 1970, os plantios comerciais de soja no mundo se restringiam a regiões de climas temperados e subtropicais, cujas latitudes estavam próximas ou superiores aos 30º. Os pesquisadores brasileiros conseguiram romper essa barreira, desenvolvendo germoplasma adaptado às condições tropicais e viabilizando o seu cultivo em qualquer ponto do território nacional. Somente no Ecossistema do Cerrado, mais de 200 milhões de hectares improdutivos foram transformados em áreas aptas para o cultivo da soja e outros grãos.
A Embrapa Soja tem uma participação decisiva no avanço da cultura rumo às regiões tropicais, em função do modelo de parcerias com associações de produtores de sementes utilizado em seu programa de melhoramento genético. Esses parceiros incrementaram enormemente a capacidade de desenvolvimento de novas cultivares da Embrapa pelo Brasil afora, dando sustentação financeira e, consequentemente, agilizando o processo.
Fruto desse modelo, as “cultivares Embrapa” respondem por mais de 50% do mercado nacional de sementes de soja.
Fica evidente que os portos estratégicos brasileiros contam com a forte presença da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) em seu roteiro de operações, já que na soja, no milho, no café, no açúcar e no suco de laranja o DNA desta instituição orgulho nacional está presente. Novos terminais e novos portos são planejados para continuar atendendo este segmento de participação no comércio exterior, que demonstra a capacidade brasileira para avançar e vencer os desafios. As commodities brasileiras carregam e distribuem mundialmente tecnologia nacional. Tecnologia de ponta, invejada por muitos países.
Pois bem, esta importante presença da Embrapa na vida portuária nacional precisa ser ainda mais incrementada. Precisamos de mais Embrapa nos portos brasileiros. Mas não apenas a Embrapa representada pelos produtos gerados com alta tecnologia.
Precisamos que os portos brasileiros também se inspirem no modelo de gestão de da baixa influência político-partidária, que ainda mantém a Embrapa como uma ilha de excelência e eficiência nacional.
As declarações do pesquisador científico Gabriel Bartholo, eleito após rigorosa avaliação acadêmica e gerencial, ao ser recondizudo à Gerência Geral da Embrapa Café, definem bem como uma instituição, mesmo sendo pública, pode ser eficiente e eficaz. “Nesse sistema, as principais características da boa governança são participação, transparência, responsabilidade, orientação por consenso, igualdade, efetividade e eficiência e prestação de contas”. Vamos continuar falando de mais Embrapa nos portos na próxima semana.