Resenha da semana: Animais Noturnos

Depois de uma abertura totalmente bizarra, com cara dos filmes de David Lynch, não sabia o que esperar de “Animais noturnos”. O filme, que chega aos cinemas com status de “cult” pela crítica especializada, é baseado em um livro de Austin Wright e possui uma narrativa complexa e ousada, misturando em tramas paralelas ficção e realidade. Dirigido pelo renomado estilista Tom Ford, que sete anos atrás teve sua estréia com o filme “Direito de Amar”, o filme consegue trabalhar no gênero suspense de forma envolvente, nos apresentando sem pressa sua trama sombria e cheia de reviravoltas.

O longa tem início com Susan (Amy Adams), uma negociante de arte que se sente cada vez mais isolada do parceiro (Armie Hammer). Um dia, ela recebe um manuscrito de autoria de Edward (Jake Gylenhaal), seu primeiro marido. Por sua vez, o trágico livro acompanha o personagem Tony Hastings (também interpretado por Jake Gylenhaal), um homem que leva sua esposa (Isla Fisher) e filha (Ellie Bamber) para tirar férias, mas o passeio toma um rumo violento ao cruzar o caminho de uma gangue. Durante a tensa leitura, Susan pensa sobre as razões de ter recebido o texto, descobre verdades dolorosas sobre si mesma e relembra traumas de seu relacionamento fracassado. A trama é desenvolvida paralelamente através de três planos: o passado, o presente e a ficção, representado pelo livro. A ideia de filmar a história do livro intercalando com o desenvolvimento da protagonista é interessante, mas não me senti atraído pela história de Susan, pois a história do livro é tão intensa que valeria um filme apenas sobre ela.

Tom Ford nos entrega um filme tecnicamente impecável, o que já era de se esperar, com fotografia e figurinos primorosos. O roteiro, também dele, possui alguns diálogos expositivos, mas consegue amarrar bem a conexão entre as histórias com uma trama complexa, recheada de emoção e vingança. O elenco está fantástico, a começar por mais uma excelente atuação de Amy Adams e Jake Gylenhall, um ator que vem crescendo bastante e entrega um personagem cheio de dor e ódio. Destaco também as atuações de Aaron Taylor Johnson e Michael Shannon, como um assassino e o delegado que toma conta do caso, respectivamente.

Animais Noturnos não é um filme fácil de ser digerido, seja por seu tema sombrio ou por seu roteiro confuso que não deixa claro o que quer, com um final aberto um tanto desconfortável que pode não agradar a plateia. O filme acaba sendo um desperdício de boas ideias, falhando em concretizar na prática o que seu diretor idealizava. É um filme pretensioso demais, mas que, em épocas de blockbusters, é uma boa pedida para ver algo diferente e interessante.Curiosidade
O bizarro crédito de abertura é uma declaração metafórica sobre a sociedade americana, sob o olhar de Tom Ford.

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