Ao analisar a sociedade brasileira e os nossos constantes problemas governamentais, o historiador (para muitos, também filósofo) Leandro Karnal afirmou claramente que “não existe governo corrupto numa nação ética”. Também, para ainda mais reforçar tal conceito, ele afirmou que “não existe nação corrupta com governo transferente e democrático”.
Chacoalhando ainda mais nossas mazelas, ele resumiu: “sempre entre o governo e a nação há um jogo”. E terminou afirmando que “a corrupção é um mal social, é um mal coletivo, e não apenas do governo”. Creio que estas frases, ditas em entrevista ao ator global Lázaro Ramos, apontam para a corresponsabilidade de todos nós nos malfeitos de nossos governantes. Não pude me furtar em comparar as constantes reclamações de nossa comunidade em relação às repetidas nomeações de diretores, escancaradamente indicados por políticos e por partidos, no Porto de Santos e em praticamente todos os portos brasileiros.
Este tema é apontado em qualquer evento portuário como sendo o principal fator dos constantes problemas presentes nos Portos Públicos. Se consultarmos as entidades, envolvidas ou não com as questões portuárias, qual seu posicionamento em relação aos diretores nomeados segundo critérios meramente de política partidária, certamente haverá um coro de combatentes contra tal prática. Certamente, qualquer entrevistado nas ruas das cidades portuárias vai também amaldiçoar tal prática, que repete a tradição em todas as empresas controladas pelo Poder Público. A presença de nomeações políticas em instituições controladas pelo Poder Público não é uma exclusividade dos portos nacionais!
A valorização do currículo político, em substituição ao verdadeiro perfil técnico e profissional, para as nomeações de cargos sob controle do Poder Público, infelizmente, ainda continua sendo a principal característica das trocas de interesses, que envolvem aqueles que comandam a comunidade, nos municípios, nos estados e no país.
E este vírus político-partidário presente nas gestões públicas brasileiras é simplesmente resultante das práticas políticas, das trocas, das aceitabilidades da sociedade, como apontou o historiador já mencionado. Assim sendo, cabe perguntar: a nossa comunidade realmente é contra as nomeações políticas na administração do Porto de Santos?
Nossa comunidade, as entidades de nossa cidade, os empresários e trabalhadores desta bela região portuária realmente são contra as nomeações políticas na administração do porto? Ou será que vivemos apenas discursando sobre o tema, esperando que o novo diretor seja alguém ligado a algum partido ou político conhecido, para então poder se aproximar e se tornar o mais velho amigo do novo diretor, da noite para o dia? Será que realmente nossa comunidade quer acabar com as nomeações políticas nas administrações de nosso porto?
Se realmente nossa comunidade entendesse a importância de acabar com as nomeações políticas nas administrações portuárias, certamente já teríamos vencido esta etapa! Certamente nenhum governo ou político consegue se sustentar quando uma comunidade se irmana para defender, lutar e não abrir mão de algum objetivo.
Os eventos recentes de nosso país já demonstraram que, quando a população quer, montanhas são movidas.
Se, realmente, somos contra os diretores políticos, por que as entidades e as lideranças de nossa cidade continuam aceitando passivamente este padrão de nomeações?
Nas cidades portuárias de Rotterdam, Los Angeles, Hamburgo, Shangai e Singapura não há nomeações políticas. O critério é a profissionalização e meritocracia. Nestas cidades a política não participa dos portos, pois há controle e pressão da comunidade. Não há necessidade de regramento legal para garantir isto. Nenhuma lei garantirá o afastamento político de nossos portos. Somente a comunidade organizada e verdadeiramente decidida garantirá a separação da política em relação do porto.
Enquanto nossa comunidade continuar aceitando passivamente, continuaremos a ter as constantes surpresas sobre as nomeações políticas dos diretores na Administração portuária.