Em inúmeras ocasiões, tenho destacado o papel fundamental da dragagem para a competitividade do Porto de Santos, como ocorre na maioria dos portos mundo afora. Em especial nos portos estuarinos, como o de Santos, a contínua luta contra as forças da natureza, que infinitamente insistem em recolocar, nos canais e berços de atracação, o material arenoso removido anteriormente pelas tecnologias de dragagens, demonstra que tal serviço é fundamental para a adequada navegabilidade e para a competitividade portuária e das cidades portuárias.
O correto seria que as profundidades dos canais e berços de atracação atendessem às necessidades portuárias, independentemente dos movimentos das marés. Um porto competitivo não utiliza a lua, nas suas influências sobre as marés, como um item a ser considerado. Ter maré baixa ou maré alta não deveria ser uma preocupação em qualquer porto, e isso também se aplica ao Porto de Santos.
Mas, infelizmente, ainda continuamos dependendo da lua e suas influências sobre as marés para definir os momentos de possibilidades de navegabilidade segura no Porto de Santos. Muitos navios somente conseguem entrar e sair do Porto de Santos com maré alta, utilizando artificialmente o ganho aproximado de um metro na profundidade do canal de acesso e bacias de evolução.
Se isso já é um problema físico real para o Porto de Santos e sua competitividade, muito mais ainda quando analisamos as variações simbólicas das marés e suas influências sobre nosso complexo portuário. Conhecemos bem a utilização simbólica das marés nos conceitos populares. O ditado popular de que “a maré não está pra peixe”, mostra que este termo pode ser utilizado simbolicamente.
É justamente isso que está acontecendo no cenário simbólico das dragagens no Porto de Santos atualmente. As contínuas lutas para garantir a dragagem em nosso porto podem perfeitamente ser, simbolicamente, apontadas como um ambiente de maré baixa.
A simbólica fase de maré baixa tem insistido em continuar presente, com a falta de dragagem, com as repetidas promessas de regularização dos serviços e com os inúmeros anúncios de soluções definitivas nunca alcançadas.
A maré baixa tem se mantido contínua no Porto de Santos, como se pudéssemos imaginar que a lua parou seus movimentos e interrompeu suas influências naturais.
O recente capítulo novelesco da dragagem, com o cancelamento da contratação da empresa EEL Infraestruturas, anunciado pelo governo federal, manteve a dragagem em maré baixa. Esta maré foi ainda mais reduzida com o sequencial anúncio de tal empresa, de que iria recorrer ao Poder Judiciário para garantir sua contratação.
Novamente, nos manteremos em maré baixa, repetindo outros eventos, quando intermináveis disputas judiciais impediram o cumprimento da obrigação legal do Poder Público, em manter as profundidades necessários para a competitividade do Porto de Santos.
Por outro lado, felizmente, a previsão das marés aponta para a possibilidade de maré alta num futuro próximo. Não se sabe ainda quando garantiremos este novo momento de simbolismo na maré alta para o Porto de Santos, porém já temos a confirmação de que uma solução definitiva para os problemas com as dragagens poderá ser implementada futuramente.
O Governo anunciou que pretende conceder os serviços de dragagens para a iniciativa privada, que, tradicionalmente, tem se demonstrado eficiente nos encargos que recebe.
As operações portuárias, os aeroportos, as ferrovias e as rodovias confiadas à iniciativa privada comprovam que este setor da economia responde prontamente quando chamado para suprir a incapacidade ou incompetência do Poder Público.
Assim, celebramos este anúncio aos navegantes: temos previsão de maré alta no Porto de Santos, que poderá ter longa duração, com a atuação da iniciativa privada nos serviços de dragagens. Chega de maré baixa! Precisamos e vamos defender a maré alta no porto que não dependa das influências da lua.