Comportamento

O novo velho

01/10/2016 Da Redação
O novo velho | Jornal da Orla
Terceira idade, melhor idade, feliz idade… Vários eufemismos foram criados para definir o envelhecimento, um processo natural que só experimenta quem conseguiu atingir idades mais avançadas. Neste sábado, 1º de outubro, é o Dia Internacional do Idoso, uma data para celebrar um segmento da população que cresce cada vez mais, diante do aumento da expectativa de vida e da evolução da ciência. 
 
Saúde física, saúde emocional, saúde financeira, saúde espiritual – todos são aspectos fundamentais para definir a qualidade de vida na velhice. E, ao contrário do que a denominação ‘em grupo’ sugere, envelhecer não uniformiza comportamentos e reações. Embora existam características comuns, o processo é individual. Cada pessoa alcança essa fase com a carga de suas próprias experiências, hábitos e pensamentos.
 
Ajuda muito a postura pró-ativa de boa parte desta nova geração de idosos, que mantém uma agenda movimentada e uma rotina produtiva e animada, criando desafios, objetivos e motivação pela vida. Esta é uma realidade percebida principalmente em Santos, uma das cidades com maior índice de idosos do país: mais de 80 mil pessoas, ou 20% de sua população. Segundo o Ministério da Saúde, até o ano de 2050 o Brasil terá 63 milhões de idosos.
 
Mudanças cognitivas e comportamentos
Mas envelhecer também cobra seu preço no corpo e na mente. De acordo com as gerontólogas Cristina Camargo e Flavia Barboza, as mudanças mais comuns associadas com o aumento da idade são a diminuição da velocidade do processamento mental, onde se pode levar um pouco mais de tempo para aprender coisas novas e recuperar informações. A capacidade de se concentrar em várias coisas também fica prejudicada. “Andar e falar no celular ao mesmo tempo pode se tornar uma tarefa perigosa, levando o idoso muitas vezes a quedas ou atropelamentos”, exemplifica Cristina.
 
Há mudanças físicas, orgânicas e psicológicas consideradas normais nesta fase, que não interferem na capacidade de sobrevivência do isso, ressalta a psicóloga Simone de Cássia Manzaro, que dá consultoria gerontológica. “Como o funcionamento do organismo mais lento e sensível, com redução do fluxo sanguíneo para os rins, fígado e cérebro; diminuição da capacidade cardíaca, pulmonar, motora, que acaba repercutindo na capacidade de defesa do organismo, tornando-o suscetível a outras doenças”.
 
Ela lembra, entretanto, que algumas pessoas vivenciam um processo de envelhecimento patológico, que é caracterizado por declínios tanto das funções físicas como cognitivas, que levam o idoso a doenças crônicas e degenerativas. A mais incidente é a Doença de Alzheimer. A psicóloga citou ainda o aumento de quadros de depressão nesta fase da vida.

Teimosia de idoso?
A fama de teimosia que acompanha os mais velhos não tem a ver com a idade. “O envelhecimento apenas acentua características pessoais de uma vida inteira. É importante sinalizar que esses comportamentos não são exclusivos das pessoas idosas”, afirma a psicóloga Simone Manzaro.
 
“O idoso teimoso foi um jovem e um adulto teimoso. Ninguém fica teimoso porque fez 60 anos. Com o envelhecimento nossas características acentuam-se, ou seja, o teimoso será mais teimoso, o brincalhão mais brincalhão, portanto não podemos generalizar, pois quem vê o idoso como teimoso, certamente está na companhia de um teimoso”, ratificam Cristina Camargo e Flávia Barboza. 
 
Tampouco o tempo de vida transforma o indivíduo em detentor da verdade. “Algumas pessoas, quando mais velhas, tendem a querer passar para as novas gerações os conhecimentos adquiridos, porém, muitas vezes, por incompreensão dos mais jovens, essa experiência acaba soando como uma verdade absoluta. Na maioria das vezes o que o idoso quer é se mostrar alguém conhecedor e importante”, diz Simone Manzaro.
 
A sexualidade na velhice
O eterno tabu que a pessoa idosa não faz sexo caiu por terra. “O grande problema é que eles vêm de uma época de muita repressão e crenças que os impedem de viver a sua plenitude. A grande conquista é vivenciar sua sexualidade com vínculos, amorosidade e realização, diferente de utilizar seus desejos tardiamente reconhecidos para tirar o atraso. Olha o aumento de Aids entre a população idosa”, alerta  a psicoterapeuta Márcia Atik.
 
Segundo ela, “o homem e a mulher maduros pensam o sexo com o coração, e fazem sexo com o corpo todo. O problema é que quem sabe disso fala pouco, porque a sociedade e os que convivem com os idosos não dão o espaço para isso, negam essa possibilidade de expressão sexual, reprimindo toda e qualquer manifestação de prazer e desejo. Com crianças e jovens fala-se de educação sexual, gravidez, camisinha, orgasmo; com o velho de doenças, heranças e planos de saúde”, constata.
 
Márcia Atik cita que o caminho passa pela informação adequada e sem preconceitos, da palavra e do toque amorosos, da liberdade, o jeito que cada um elege como o mais prazeroso, “muito longe do padrão de avaliação de sexo bom que use como parâmetro a performance,    quantidade e conceitos de estética idealizado até para os mais jovens”.