Na semana passada, propus o início de diálogos sobre uma obra de engenharia que tem sido destacada com maior intensidade nos últimos dias, apontada como solução e necessidade para os problemas e os desafios futuros, nas cidades e no Porto de Santos.
A denominada guia-corrente tem sido apontada por especialistas como absolutamente necessária, na região da Ponta da Praia, como um investimento necessário para o presente e para o futuro. A implantação de um molhe guia-corrente, uma espécie de quebra-mar, com uma estrutura de rochas ou concreto, sairia da margem do canal, seguindo ladeando a via de navegação e passaria em frente à faixa de areia.
Os especialistas indicam que um molhe guia-corrente nesse trecho da baía poderia confinar parte das correntes de maré que circulam pelo canal de navegação do Porto, dificultando, assim, a passagem delas pela região das praias, o que em tese reduziria a erosão da faixa de areia – que estaria protegida pela estrutura. Ao mesmo tempo, esta obra de engenharia evitaria a dispersão dessas correntes pela baía e elas manteriam a velocidade e a energia. Os especialistas ainda indicam que estes novos movimentos de marés conseguiriam transportar, por maiores distâncias, os sedimentos que carregam, largando-os em pontos com maior profundidade.
Da mesma forma que o dr. Paolo Alfredini, da Universidade de São Paulo, já havia defendido este fundamental investimento, também recentemente o professor universitário Gilberto Berzin, especialista em circulação oceânica, da Universidade Católica de Santos (UniSantos), destacou a necessidade de seriamente avaliarmos a questão.
O molhe guia-corrente não é novidade em nossa cidade, pois tem sido defendido desde a década de 1960 e foi um dos principais destaques de um projeto apresentado pela Fundação Marlin Azul, que objetivava aproveitar este molhe de forma turística, com a implantação de um equipamento turístico, envolvendo a atracação de navios de cruzeiros marítimos naquela região. Quanto mais se aprofundam os estudos e pronunciamentos dos especialistas, mais vai se tornando evidente a necessidade de implantação do guia-corrente na região da Ponta da Praia, como instrumento para se equacionar o presente para se projetar o futuro.
A região praiana logicamente teria sua visualização alterada, porém também ganharia condições de receber uma maior faixa de areia, permitindo inclusive a utilização do equipamento rochoso com atividades turísticas. Logicamente, também preservando as atuais muradas que repetidamente estão sendo destruídas.
O porto poderia continuar sendo dragado com os seus necessários 15 metros e teria condições de planejar a necessária profundidade futura na faixa dos 17.
E, ainda mais, conforme posicionou o professor Alfredini, com a implantação de dois molhes guia-correntes, implantados em paralelo, seria possível projetar um novo porto de águas profundas, na entrada da barra, com possíveis reduzidas dragagens necessárias e, portanto, mantendo a competitividade de nova região, no cenário logístico portuário.
Seriam então os dois molhes guias-correntes, guiando o futuro do atual e novo porto e da atual e futuras realidades e possibilidades turísticas das cidades da região estuarina.
Tudo parece muito viável. Porém, os especialistas alertam que a opção de se construir um molhe deve ser objeto de estudos profundos. O estuário é uma região complexa e qualquer alteração em sua hidrodinâmica pode mudar a movimentação de correntes e ondas.
“A princípio, o molhe pode ser uma boa solução para a erosão, mas não se pode afirmar nada com certeza sem que a questão seja muito bem estudada”, explicou recentemente a coordenadora do NPH, da Unisanta, engenheira civil e professora universitária Alexandra Sampaio. As universidares locais e a USP já contam com tecnologia e campos de prova para avaliar realmente as possibilidades e consequências dos molhes guias-corrente na região da Ponta da Praia. Não podemos perder mais tempo! Precisamos começar a guiar o futuro de nosso sistema portuário e de nossas cidades. Se não fizermos nada, a natureza continuará fazendo a sua parte. Está cobrando a conta dos erros do passado. Ações ou omissões do passado não podem continuar no presente, comprometendo o futuro.