O Porto de Santos e as cidades de nossa região estuarina, que sempre estiveram conectados com o ambiente marítimo, passaram a estar cada vez mais fortemente interligados a temas que envolvem suas realidades presentes e, principalmente, suas previsões e possibilidades futuras.
Os debates sobre as necessidades de dragagens para a manutenção da competitividade e para o futuro do Porto de Santos têm se mostrado presentes de forma intensa. Relatórios técnicos e as projeções nas evoluções dos navios, bem como as expectativas futuras para o comércio exterior, impõem desafio claro para o Porto de Santos.
O Porto de Santos precisa garantir de imediato a manutenção da profundidade de seu canal, com um mínimo de 15 metros, e, ainda mais desafiador, precisa rapidamente trabalhar para chegar aos 17 metros.
Enquanto se debatem estas necessidades para a competividade do Porto de Santos, ou seja, para a competitividade dos terminais nele instalados, com a garantia de empregos e resultados sociais e econômicos para as cidades da região, outro tema, também envolvendo o espelho d’água marítimo, é periodicamente reintroduzido para debates.
As ressacas, o sumiço de areia na Ponta da Praia, o surgimento de excesso de areia nos canais da praia de Santos e em localidades-margem de Guarujá no canal do estuário, intensificam os debates, gerando as discussões sobre as consequências das relações cidade-porto no sistema aquaviário. Nos debates iniciais, alguns posicionamentos se apresentam de forma extremamente conflitantes e excludentes.
As alegações de que as ressacas, com seus problemas, seriam consequências das dragagens realizadas pelo porto, levariam à conclusão de que não seria viável aprofundar ainda mais o canal, pois, dentro desta lógica, os problemas se avolumariam ainda mais.
Com tais conclusões precipitadas, chegaríamos a duas conclusões necessárias: algo precisa ser feito para impedir a continuidade dos problemas com as ressacas e não se permitiria a continuidade das dragagens atualmente necessárias para os 15 metros e, muito mais forte ainda, seria descartada a hipótese de se aprofundar para os necessários 17 metros.
Entretanto, da mesma forma que estas análises iniciais geram resultados interligados, também suas soluções podem ser desenvolvidas de maneira integrada e harmônica, segundo os posicionamentos de técnicos, repetidos nos dias atuais e já formulados no passado e nunca levados a sério.
No seminário Santos Export, realizado esta semana em Santos, o dr. Paolo Alfredini, da Universidade de São Paulo, ao analisar tais questões, afirmou, claramente, que as dragagens não são responsáveis pelos resultados. Porém, assoluções dos problemas precisam também considerar os desafios das dragagens.
Argumentou que as alterações climáticas, com a elevação do mar e nas ondas, estão acelerando estes problemas que já eram presentes, principalmente pela ocupação inadequada das praias e murada na região da Ponta da Praia no passado. As “terras molhadas”, como ele destacou, que absorviam as marés, foram todas impermeabilizadas e se tornaram contenções aos movimentos das marés.
Mas fez uma ressalva: algo precisa ser feito com urgência para proteger a orla praiana e para solucionar os desafios das atuais e futuras dragagens. Assim sendo, não há como pensar nas soluções da Ponta da Praia sem definir soluções para as dragagens. Apontou a implantação de molhes guias-correntes como fundamentais para o futuro do porto e das cidades.
Se o Porto de Santos está umbilicalmente ligado às cidades que margeiam sua região estuarina, mais clara está a realidade de que seu futuro também dependerá das soluções que serão definidas e implementadas para as suas regiões aquaviárias. Para seus mangues e suas praias, ou seja, suas terras molhadas. O que for definido para o futuro, na região da Ponta da Praia, gerará resultados positivos ou negativos, dependendo da ótica de análise, para ambos os lados. Para o porto e para as cidades.
Esta obra de engenharia, molhe guia-corrente, presente em muitas cidades portuárias do mundo e do país, precisa ser seriamente considerada para o nosso futuro. Sobre isso vamos pensar com maiores detalhes na próxima semana. Como guiaremos o futuro do porto e de nossas cidades?