Em 2011, com a direção de Fernando Libânio e produção da Acanga Filmes e Terra dos Pássaros, foi lançado o DVD no formato de documentário, com duração de 50 minutos, que conta a trajetória artística e muito criativa de um dos maiores e mais talentosos músicos brasileiros. Um produto raro, que atualmente só pode ser encontrado em sebos especializados e que pode ser visto casualmente em algum canal a cabo.
No entanto, recomendo a sua procura, pois é um documento histórico e muito qualificado. Considero o guitarrista, violonista, produtor, arranjador e compositor mineiro Toninho Horta um artista especial e um dos mais inspirados que já conheci. Ele que tem, em mais de 40 anos de carreira, uma incrível projeção internacional, principalmente na Europa, Estados Unidos e Japão, merecidamente.
O documentário, além de imagens de shows, traz depoimentos muito significativos de Milton Nascimento, Nana Caymmi, Joyce Moreno, Raul de Souza, Wagner Tiso, John Pizzarelli, entre outros. Uma pequena amostra da sua importância no cenário musical, tanto para os artistas que tanto o admiram, quanto para seu público, sempre muito fiel e caloroso.
Apesar de ser um embaixador da música instrumental brasileira pelo mundo, optou por viver em Belo Horizonte, perto da família e dos amigos e, aqui em Santos, já teve passagens memoráveis. Um artista simples, tranquilo, extremamente produtivo e criativo, além de muito acessível. Entre seus ídolos, estão o eterno maestro Tom Jobim, Dorival Caymmi, Hermeto Pascoal e Wagner Tiso. E considera como sua grande inspiração o guitarrista americano Wes Montgomery, um dos grandes gênios do Jazz.
Atualmente, referenda os trabalhos de Hamilton de Holanda e Yamandú Costa, que, segundo ele, são os grandes responsáveis pela divulgação da música instrumental brasileira, sempre com muito talento e ousadia. Toninho Horta defende que a riqueza da música instrumental no Brasil precisa estar mais
disponível para o público, através da multiplicação dos festivais de música específicos, como temos visto acontecerem nos estados de Minas Gerais, Ceará, Bahia, Paraná e Santa Catarina. As minhas músicas preferidas dele são “Manuel, o Audaz”, “Beijo Partido”, “Waiting For Angela”, “Francisca”, “Serenade” e “Dona Olimpia”. Os CD’s “Once I Loved”, ao lado dos músicos de Jazz, Gary Peacock e Billy Higginhs, “Sem Você”, ao lado de Joyce, e também “From Ton to Tom (De Ton para Tom) – A Tribute to Tom Jobim”, são muito especiais para mim. Aquele abraço Toninho Horta, um verdadeiro gênio audaz !!!
Alaíde Costa & Toninho Horta – “Alegria É Guardada Em Cofres, Catedrais”
Eles se conhecem há muitos anos e têm uma admiração recíproca, além de uma grande amizade, que nasceu na década de 70, quando a carioca radicada em São Paulo, Alaíde Costa, única mulher que integrou o lendário disco “Clube da Esquina” (1972), encontrou o mineiro Toninho Horta, um gênio do violão e da guitarra.
Em 2011, se reencontraram novamente no estúdio, por sugestão do produtor Geraldo Rocha, e gravaram juntos um CD independente para lá de intimista com 11 faixas, quase todas mineiras, revivendo as canções mais marcantes daquele que foi um dos maiores discos de todos os tempos da nossa MPB. O nome curioso dado ao trabalho foi retirado dos versos da música “Aqui, Oh!”, de Toninho Horta e Fernando Brant.
Curiosamente, o CD só foi lançado no ano de 2015, marcando as comemorações dos oitenta anos da cantora e mais de 60 anos de carreira. A voz delicada de Alaíde é acompanhada pelo sempre surpreendente Toninho Horta, hora arrebentando no violão, ora na guitarra, num formato íntimo e acústico, que ficou absolutamente perfeito. Os arranjos surpreendem pela leveza e suavidade.
Alaíde Costa resumiu de forma direta e muito feliz o formato do trabalho: “O Toninho Horta é o rei da harmonia, o máximo. Não precisa mais nada, dá conta de tudo”. Já Toninho Horta considera sua parceira como uma das maiores cantoras que já conheceu: “Pela elegância, integridade, musicalidade. E ainda toca piano, compõe. Valoriza cada nota. É clássica”.
Uma homenagem especial aos compositores mineiros Toninho Horta, Milton Nascimento, Fernando Brant, Lô Borges, Ronaldo Bastos, Flávio Venturini, Beto Guedes, Murilo Antunes. As únicas exceções são Tom Jobim e Vinicius de Moraes.
Não deixe de ouvir as gravações de “Nos Tempos do Paulinho”, a única instrumental, “Outubro”, “Tudo Que Você Podia Ser”, “Travessia”, “Nascente”, “Sol de Primavera”, “Beijo Partido” e “Sem Você”, gravada por um pedido especial de Toninho Horta, que ouviu esta música, pela primeira vez, na voz dela e no violão de Baden Powell em 1961.
Além do lançamento do disco, eles fizeram com muito sucesso uma temporada de shows passando por São Paulo, Belo Horizonte e Rio de Janeiro. E, para a nossa alegria, este projeto deve virar em 2017 um DVD no formato de documentário, mostrando as principais cenas de estúdio, todas gravadas em Minas Gerais, mais precisamente na bela e histórica cidade de Ouro Preto. Só nos resta esperar para ver.
Joyce & Toninho Horta – “Tom Jobim – Sem Você”
Curiosamente este CD, tributo a Antonio Carlos Jobim, foi lançado em 1995, apenas para o mercado japonês. Os japoneses tiveram a sorte e o privilégio de conhecer, primeiro, uma das mais perfeitas reuniões musicais que já pude ouvir.
Somente em 2007 o selo Biscoito Fino relançou, aqui no Brasil, este CD primoroso, duo de voz e violão de Joyce e Toninho Horta. Antes tarde do que nunca. Um trabalho inspirado e emocional que nasceu por acaso no meio de uma temporada de shows que a dupla realizava na sucursal japonesa do Blue Note, em Tokyo.
Eles sentiram a “química” para esta gravação quando o show se tornava mais intimista, bem na hora que os outros músicos, que os acompanhavam, saiam do palco, e o repertório escolhido por eles, coincidentemente, era sempre de Tom Jobim.
Naturalmente surgiu a ideia de gravarem jutos uma homenagem ao querido maestro soberano, verdadeira referência musical para ambos. Fizeram isso de forma mágica e surpreendente em apenas uma noite, numa verdadeira “jam session”.
O disco foi quase todo gravado em Nova York, em maio de 1995, com apenas duas canções registradas num estúdio carioca um mês mais tarde. Selecionaram o repertório naturalmente, de acordo com o que mais gostavam da obra de Jobim e, assim, faixa a faixa, iam sendo registradas de acordo com que iam lembrando e o que mais gostavam. O violão mágico do mineiro de Belo Horizonte, Toninho Horta, se encontrou perfeitamente com a voz e com os belos improvisos da cantora carioca Joyce. Impressionante ouvir e sentir a grande afinidade e cumplicidade atingida nas
gravações.
Destaco os temas: “Ligia”, “Vivo Sonhando”, Só Danço Samba”, “Outra Vez” e as minhas preferidas “Este Seu Olhar/Só Em Teus Braços” e “Ela é Carioca – Take 2”, uma verdadeira apoteose repleta de improvisos. Nota dez em todos os quesitos.
Joyce e Toninho Horta são músicos excepcionais e fizeram releituras muito inspiradas, que, com certeza, agradariam ao saudoso e eterno Tom Jobim.