Primeiro veio a medalha de ouro olímpica no masculino. Agora, a vitória sobre o Equador no meio desta semana pelas eliminatórias da Copa. Muito pouco ainda para resgatar o prestígio perdido do futebol brasileiro. Mas o paciente, pelo menos, saiu do estado de coma e abriu os olhos no leito da UTI.
Na conquista olímpica, um pouco de sorte ajudou. Chave com Iraque e África do Sul deu oportunidade para o time se ajeitar na competição e ter outra chance depois da início derrapante. Colômbia e Honduras, enfrentadas nas fases seguintes, não estão alinhadas entre as potências do futebol. E na final contra a Alemanha, os deuses do futebol e os travessões do Maracanã estavam do nosso lado.
Está formada uma geração que começa a trajetória na seleção com vitória. E cabe destacar o trabalho realizado nas divisões de base do Peixe: dos 18 olímpicos, 5 formados aqui: Zeca, Thiago Maia, Gabigol, Felipe Anderson e Neymar.
Na vitória, contra o Equador, o dedo do treinador. O time jogou bem. Bola no chão, triangulações, compactação. Tite mostrou que está mesmo num momento de excelência da carreira.
Também é muito pouco.
A seleção brasileira continua comandada por uma CBF de cartolas incompetentes, desatualizados e corruptos.
Um ex-presidente usa tornozeleira eletrônica nos Estados Unidos, flagrado na lavagem de dinheiro sujo no sistema financeiro de lá. Outro, ex-presidente perambula por países em que possa escapar dessas investigações. Del Nero não sai do Brasil. O laranja J. Hawilla também usa tornozeleira.
Esse pessoal sugou o futebol brasileiro com a cumplicidade e o acobertamento de meios de comunicação poderosos e jornalistas vendidos.
Treinadores transformaram a seleção em balcão de negócios.
Tite tem a missão de, pelo menos em campo, arrumar as coisas. Começou com o pé direito.
Já a faxina fora de campo depende da Polícia Federal e de uma operação do tipo Lava Jato. Que chegue também aos clubes.
Samir Abdul-Hak
O Santos perdeu mais um ex-presidente no início desta semana. Morreu, aos 75 anos, Samir Abdul-Hak, que presidiu o clube na segunda metade da década de 90.
Samir se elegeu vice de Miguel Kodja no final de 93, herdou o mandato depois da renúncia dele em 94 e se elegeu duas vezes: em 95 e 97.
Deixou marcas muito interessantes.
A primeira delas é a do respeito ao Estatuto do clube. Não tentou mudar as regras do jogo para novos mandatos, como aconteceu depois dele.
Iniciou o processo de investimento na infra-estrutura que trouxe o Peixe novamente para o topo do futebol brasileiro. Com o dinheiro da venda de Giovanni para o Barcelona, a gestão de Samir implantou na Vila Belmiro o melhor gramado de estádios do Brasil na época, uma iluminação moderna e investiu no Centro de Treinamento.
Profissionalizou o futebol com a contratação do treinador Vanderlei Luxemburgo e sua equipe técnica, que na época era top no Brasil, e do supervisor Marco Aurélio Cunha. Leão também teve sua primeira passagem pelo Santos com Samir.
Trouxe Pelé, o maior ídolo da história do Peixe e muito amigo de Samir na época, para trabalhar nas divisões de base que prepararam a geração de Diego e Robinho.
Tirou parcialmente o Santos do jejum de títulos com um Rio São Paulo e uma Comebol (a Sul Americana atual).
E por muito pouco não conquistou o Campeonato Brasileiro de 95, em que o time maravilhoso de Giovanni foi escandalosamente prejudicado por um árbitro que depois de se tornaria notório nesse tipo de coisa: Márcio Rezende de Freitas.
Samir merece na história do Santos um reconhecimento muito maior do que aquele que a mesquinhez de quem veio imediatamente depois dele permitiu.