Uma das muitas observações interessantes emitidas na cobertura jornalística dessa Olímpiada se refere à torcida. A de que diante do contato ao vivo com o espetáculo da galera alucinada, muitos atletas, treinadores e espectadores dos Estados Unidos entenderiam definitivamente o que é a verdadeira paixão pelo futebol.
Uma marca forte desses Jogos Rio16 vai ser certamente a da torcida.
Basta pinçar três momentos para entender o título deste texto.
Um deles, talvez o mais discutido, de maior repercussão, seja aquele da final do salto com vara.
Esperta, a galera percebeu que podia ser decisiva. Vaiou o francês, Tentou desconcentrar. É difícil avaliar até que ponto a participação do público teve influência. Mas a energia que brotava da arquibancada parecia empurrar o atleta adversário para baixo, pelo menos umas duas polegadas. As mesmas que esse vento imaginário impulsionava o brasileiro Tiago Braz para cima. A sensação que ficou é de que cada espectador tem um micromiligrama daquela medalha de ouro e um microcentímetro daquele recorde fantástico.
Outro momento inesquecível da galera é o do reconhecimento unânime e definitivo da genialidade do velocista Usain Bolt.
O Rio de Janeiro mitificou e canonizou o gênio das pistas de atletismo. Nem na pequena Jamaica natal Bolt poderia receber uma consagração tão absoluta, justa e merecida quanto a que a torcida lhe deu no Brasil.
Ao mesmo tempo, outra vez antenada, a arquibancada vestiu a toga dos magistrados da justiça para julgar e condenar aquele que poderia usurpar o trono de Bolt nos 100 metros montado na química proibida do doping. As vaias perseguiram implacavelmente Justin Gaytlin.
O terceiro momento que merece ser pinçado aqui tem uma coisa de sublime e outra de divisor de águas. Trata-se da reação do público brasileiro à derrota da seleção feminina de vôlei de quadra nas quartas.
O coro de bicampeã significava toda a gratidão pelos dois títulos olímpicos dessa seleção em Pequim e Londres. E a gratidão é sublime.
Num país em que o vice-campeonato tem a tradição de ser desprezado como o “primeiro dos últimos”, esse reconhecimento divide e água ingrata da superficialidade perversa desse julgamento com o reconhecimento grato do mérito olímpico.
A convivência com os atletas olímpicos parece ter injetado nas veias do público brasileiro a percepção de que só estar classificado para competir naquela elite planetária já constitui uma fantástica vitória.
Luís Álvaro de Oliveira Ribeiro
O ex-presidente do Santos morreu no início desta semana. Teve passagem controvertida e turbulenta pelo comando do clube.
Chegou à presidência derrotando de forma expressiva – 64 a 36% – o ex-presidente Marcelo Teixeira que tentava o sétimo mandato, o sexto consecutivo.
Luís Álvaro representava um grupo que pensa grande e que implantou no Santos ideias que colocaram o clube no topo e na vanguarda do futebol brasileiro.
Gestão moderna, estatuto novo, multiplicação de sócios. Um sucesso. Mas o presidente não conseguiu manter esse grupo unido, seu principal fracasso. Investiu na desunião. Também teve dificuldade para lidar com o glamour que a presidência do Santos teve nesta época. Acabou se afastando e depois renunciando em função de uma combinação de fragilidades políticas e de saúde.
Mas o período dos dois mandatos para os quais foi eleito junto com Odílio Rodrigues, que assumiu com coragem e firmeza o cargo na crise do afastamento de Laor, passa para a história como o segundo mais vitorioso da história do clube, ficando atrás apenas dos seis anos entre 1960 e 1965 da Era Pelé.