A Praticagem de São Paulo começa a utilizar um sistema inédito que avaliará, on line, com precisão, se navios com calado maior do que 12,5m tem condições seguras de trafegar pelo Canal do Porto de Santos a cada momento. Trata-se do Redraft (calado em tempo real) – desenvolvido especificamente para a Praticagem de São Paulo com o objetivo de aumentar a segurança nas manobras e otimizar o aproveitamento das “janelas de maré”, nesta época em que navios com dimensões gigantescas frequentam o Porto, cuja condições geográficas permanecem praticamente inalteradas há décadas.
Até o ano 2000, a maior parte dos navios que operavam no cais santista apresentava arqueação entre 10 e 20 mil toneladas, com no máximo 200 metros de comprimento e 25 metros de largura. Dezesseis anos depois, a arqueação com mais de 50 mil toneladas já ultrapassa as três mil embarcações e o comprimento dos navios praticamente dobrou, atingindo 336 metros.
Desenvolvida em parceria entre a empresa Argonáutica e a Universidade de São Paulo (USP) com exclusividade para a Praticagem de São Paulo, essa tecnologia é pioneira no Brasil. Aparentemente, é muito simples: o operador do Centro de Coordenação, Comunicações e Operações de Tráfego (C3OT) tem à sua disposição no sistema da pauta de serviços as informações necessárias à manobra de qualquer navio confirmado. Para aqueles navios de calados maiores do que 12,5m, o operador pode acessar um link com um software que, a partir de informações sobre as dimensões do navio (calado, comprimento, boca e deslocamento) e informações dos dados climáticos e oceanográficos extraídos dos marégrafos, ondógrafo e anemômetros, aponta qual será a folga mínima entre o fundo do navio e o fundo do mar e em que ponto da trajetória do navio pelo canal essa folga ocorrerá.
Com isso, utiliza-se o conceito de calado dinâmico, obtido a partir do navio em movimento, considerando as suas características físicas, os efeitos hidrodinâmicos e a influência de correntes de maré, dos ventos e das ondas que sobre o navio incidem.
Toda embarcação navegando pelo canal tem uma significativa tendência de afundar e adquirir trim (movimento rotacional da proa para cima ou para baixo, de acordo com as características de cada navio). Essa tendência é decorrente da diferença de pressão entre o fundo e a quilha (parte mais baixa do navio), provocando sucção do casco em direção ao fundo, com redução da lâmina d’água sob a quilha. Além disso, sob efeito do vento e das ondas, o navio poderá afundar a sua proa ou popa e também adquirir movimentos laterais. Esse recurso é muito importante, porque aponta, antes mesmo da confirmação da manobra, se há risco de um toque do navio no fundo ou até mesmo de um encalhe, possibilitando uma tomada de decisão mais precisa quanto ao horário seguro para o início da manobra.
Sistema inédito no mundo
Por trás dessa operação simples, está a inédita tecnologia desenvolvida pela empresa Argonáutica em conjunto com Tanque de Provas Numérico da Universidade de São Paulo (TPN -USP). “É o primeiro projeto desse tipo desenvolvido e instalado no Brasil e também no mundo”, comenta o coordenador do TPN-USP, professor Eduardo Tannuri, salientando que com o emprego do Redraft haverá grande aumento na eficiência e segurança nas manobras. O objetivo do projeto é avaliar as condições ambientais do Canal de Santos em tempo real e verificar antecipadamente os riscos que a embarcação corre ao deixar ou chegar ao porto naquele momento. “O sistema determina qual é o maior calado possível para transitar de forma segura, ou seja, sem risco de o navio tocar o fundo ou perder a sua manobrabilidade”.
Segundo o presidente da Praticagem de São Paulo, Claudio Paulino, aumentou a preocupação com o constante crescimento das dimensões dos navios, ao mesmo tempo em que as condições geográficas do porto continuam as mesmas. “Não se trata de simples aumento do calado dos navios, mas o crescimento de todas as dimensões, como comprimento, largura e altura. A massa deslocada é cada vez maior, sofrendo influência mais acentuada de fatores como ventos e ondas”.
Para se adequar a essa nova realidade e manter o nível de segurança na navegação, a Praticagem de São Paulo investe permanentemente em tecnologia para obter dados precisos que garantam as manobras com o maior índice possível de segurança. O Centro de Coordenação, Comunicações e Operações de Tráfego (C3OT) foi o ponto de partida desse processo que coloco a Praticagem de São Paulo entre as mais modernas do mundo.
Centro de Operações
Câmeras estrategicamente situadas ao longo de todo o Porto, equipamentos meteorológicos e oceanográficos de última geração para a medição de altura e período das ondas, direção e intensidade das correntes marinhas e do vento, variação da altura de maré e visibilidade garantem o monitoramento, em tempo real, de todo o canal navegável do porto santista, nos seus 20 quilômetros e 67 terminais e berços de atracação.
Todas as lanchas da Praticagem estão equipadas com AIS e uma delas faz o monitoramento constante da área, informando o C3OT por rádio sobre qualquer anomalia, como por exemplo, determinado navio atracado com cabos brandos, manchas de óleo ou obstáculos no local de atracação.
Além dos modernos sistemas de dados meteorológicos e oceanográficos, o C3OT conta agora com o novo software Redraft, pioneiro no País. “Toda essa tecnologia vem otimizar o trabalho do prático, que passa a ser feito com mais precisão”, observa Claudio Paulino, salientando que a Praticagem de Santos investe não apenas em tecnologia, mas também em treinamentos de atualização dos práticos. São feitos periodicamente cursos em instituições como Port Revel, na França, onde é possível a simulação de manobras em réplicas em escala de grandes navios, num programa de qualificação em que o profissional passa por situações inesperadas e tem de tomar a decisão certa para evitar um acidente ou minimizar seus efeitos.
“As mudanças na navegação estão sendo muito rápidas em termos de dimensões dos navios e precisamos estar preparados para continuar mantendo a segurança nas manobras. Nessa nova realidade, o prático é um profissional cada vez mais imprescindível à manobra dos navios e, com o suporte tecnológico disponível, vai continuar garantindo a segurança da navegação em áreas de risco, como os canais portuários” concluiu Claudio Paulino.