A inquietação da jornalista tem sido também compartilhada com muitas pessoas, com quem conversamos.
A falta da dragagem, companheira constante das preocupações dos profissionais que atuam no sistema portuário, passou a ser tema também de muitos bate-papos em nossa cidade e região. O tema insiste em continuar “marcando o ponto”, como se dizia antigamente, também nos gabinetes de Brasília.
Nesta semana, participei de uma audiência com o ministro dos Transportes, Portos e Aviação, com grande comitiva, das principais entidades empresariais portuárias, e a falta da dragagem foi a rainha dos temas abordados. Todos insistiram, junto ao ministro, sobre o grave problema com a falta de dragagem nos portos brasileiros, demonstrando que esta agonia não é mais uma exclusividade do Porto de Santos.
Mas, então, voltando ao início do texto: por que se fala tanto da falta de dragagem?
Por que a dragagem é tão importante? Para melhor entendermos a questão, eu apresentei para aquela jornalista uma similaridade com as necessidades do corpo humano.
Para nos mantermos vivos e em plenas condições de atividades, precisamos receber oxigênio, que tem a função básica de gerar energia. Portanto, o oxigênio gera vida e energia. Para que nosso corpo receba o oxigênio, precisamos contar com um sistema respiratório livre e em plenas condições dos fluxos de entrada e saída.
Quando enfrentamos algum problema, que reduz as capacidades dos fluxos do sistema respiratório, sabemos bem dos reflexos negativos para as nossas atividades. Basta nos lembrarmos como nos tornamos mais cansados e desanimados, quando ficamos com o “nariz entupido” em momentos de gripe, por exemplo. Rapidamente, buscamos aplicar descongestionantes para voltar a respirar de forma mais confortável.
Pois bem, o porto também tem vivência algo parecido. O porto precisa de navios, assim como o corpo humano necessita de oxigênio.
Enquanto o corpo humano precisa de sistema respiratório livre, o porto precisa de canal aquaviário livre e adequado para as entradas e saídas dos navios. Em portos estuarinos, como o de Santos, de forma resumida, a dragagem visa retirar a areia que se deposita no fundo do canal e nos pontos de atracação, de forma constante, devido às movimentações das marés. Sem dragagens constantes, as profundidades também de forma constante vão se reduzindo.
Quando um canal aquaviário de um porto tem sua capacidade reduzida, por falta de profundidade ou por falta de largura adequadas, os fluxos “respiratórios” deste porto sofrem consequências, pois os navios não conseguem entrar e sair na plenitude de suas capacidades de cargas.
Quando os navios não conseguem operar em suas capacidades plenas, passam a cobrar fretes mais elevados pela ociosidade de capacidade e, portanto, todo o sistema logístico e de comércio exterior sofre as consequências.
Repete, assim, a mesma situação do corpo humano, onde outros órgãos sofrem as consequências quando o sistema respiratório não está em plena funcionalidade.
É por isso que se fala tanto em dragagem! A falta da dragagem dificulta o sistema de fluxos dos navios no porto, gerando custos elevados, perda de competividade e reflexos negativos para o sistema portuário de forma integral. Assim como utilizamos descongestionantes nasais para desobstruir os canais de nosso sistema respitarório, a dragagem é o descongestionante do sistema respiratório dos portos.
Numa cidade e região portuárias, como a nossa, estes reflexos negativos com a falta da dragagem sobrecarregam todo o organismo social, com desemprego e perda de arrecadação. Por isso, precisamos continuar falando muito da falta de dragagem. Precisamos de nosso porto e nossas cidades “respirando” muito bem para termos vida adequada. Isso é porto, isso é cidade.