Segundo estatísticas divulgadas pela administração do Porto de Santos, continuam ocorrendo recordes sucessivos nas movimentações. O mês de abril foi o 4º recorde do ano, com a movimentação de 9,75 milhões de tonelada, superou em 3,1% o resultado do mesmo mês do ano passado. Ainda tais divulgações do porto destacam o acumulado do ano, o 1º quadrimestre, também como recorde, com 37,51 milhões de toneladas, ultrapassando em 4,7% o resultado do mesmo período no ano de 2015.
Por outro lado, a imprensa continua informando sobre as demissões de trabalhadores nos terminais e operadores portuários, num cenário iniciado em 2015, apontando o recorde de perdas de postos de trabalho, que já chegaria à faixa de cerca de 2 mil novos desempregados, oriundos do sistema portuário.
Afinal, como explicar que as movimentações continuem batendo recordes sucessivos e, ao mesmo tempo, também as demissões de trabalhadores apresentem quantificações recordes e alarmantes? Sempre se entendeu que se o porto movimenta mais carga, então, automaticamente, seriam gerados mais postos de trabalho. Não o contrário, como vem ocorrendo.
Esta relação de aumento de movimentação ser igual a aumento de postos de trabalho não é mais uma verdade plena no moderno sistema portuário. Cada vez mais tecnologia é utilizada nas operações portuárias e, portanto, menor a quantidade de mão de obra necessária. Mas a desocupação funcional não é novidade no sistema portuário brasileiro, pois os maiores impactos já ocorreram com a implantação da lei de modernização portuária de 1993.
Outro enfoque que poderia ser avaliado envolve o novo ambiente de participações no mercado, o denominado market-share, com a implantação de novos terminais no Porto de Santos, como aconteceu com o segmento de contêineres.
Entretanto, também tal cenário não justificaria o quantitativo de perdas de postos de trabalho sem reposições nos novos terminais.
A verdade sobre tal aparente incoerência, nos recordes de movimentações e também recordes nas demissões de trabalhadores, precisa ser encontrada na análise da realidade sobre o atual momento do comércio exterior brasileiro e, portanto, sobre as informações mais detalhadas das informações divulgadas pelo Porto de Santos.
O comércio exterior precisa ser avaliado também nos valores envolvidos, nos fluxos de importações e exportações e nas modalidades de cargas movimentadas. Ao analisarmos os dados divulgados pelo Governo Federal, no site do Ministério da Indústria e Comércio Exterior, as respostas para tais aparentes conflitos começam a ser elucidadas. As exportações, no acumulado entre janeiro e maio deste ano, sofreram uma redução de 2,6% no valor movimentado em relação ao mesmo período de 2015. Também as importações, quando se comparam os mesmos períodos entre 2016 e 2015, sofreram uma redução de 24,3% nos valores movimentados.
Retornando à nossa realidade do Porto de Santos, vamos constatar que o crescimento em tonelada movimentada envolveu basicamente o agronegócio, com forte participação da soja, que se elevou em 27,3% no primeiro quadrimestre do ano, porém com forte queda nas movimentações de importação, que se retraíram em 14%, demonstrando que o país tem conseguido os recordes na balança comercial mais com base na redução das importações do que no crescimento das exportações.
As estatísticas do porto também informam a queda de 9,1% nas movimentações de contêineres, esclarecendo as demissões de trabalhadores em período onde se alardeiam os recordes de movimentações.
Assim, fica claro que os recordes de movimentações em toneladas são bem-vindos, porém, precisamos lutar para crescer em valores de mercadorias movimentadas, ter mais contêineres nas operações e dependermos menos do agronegócio.
Somente desta maneira recuperaremos os postos de trabalho e geraremos reflexos positivos na cidade e região. Com clareza nos dados avaliados, entendemos as realidades e podemos trabalhar por dias melhores.