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Até breve, Cauby Peixoto

21/05/2016
Até breve, Cauby Peixoto | Jornal da Orla
No dia 15 de maio, o genial cantor Cauby Peixoto, com 85 anos de idade, nos deixou, depois de uma intensa batalha contra vários problemas de saúde, que o acompanharam nos últimos tempos e o levaram a várias internações hospitalares.
 
Apesar disso, conseguiu estar ativo e no topo até o último momento. Não poderia ser diferente disso, com Cauby Peixoto.
 
A última apresentação do cantor ocorreu no último dia 3 de maio no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, ao lado de sua inseparável amiga e parceira, a cantora Angela Maria, com o show da turnê de sucesso “120 Anos de Música”.
 
A carreira musical deste carioca de Niterói começou no início da romântica década de 50, em programas de calouro e como “crooner” em diversas casas noturnas da cidade do Rio de Janeiro.
 
Pelas mãos do empresário Di Veras, que o conheceu em 1954 e passou a cuidar da sua carreira, Cauby ganhou figurino e uma estética mais chamativa.
 
Foi um dos grandes ídolos da chamada “Era de Ouro do Rádio” pela Rádio Nacional e gravou 49 álbuns com os temas “Blue Gardenia”, “Conceição”, “Bastidores”, “Começaria Tudo Outra Vez”, “New York, New York”, “Onde Anda Você”, “Gente Humilde”, entre tantos outros sucessos.
 
No ano de 1980, sua carreira ganhou uma nova força quando gravou o LP “Cauby! Cauby!”, em comemoração dos 25 anos da sua carreira. Gravou vários temas importantes de Chico Buarque, Joanna, Caetano Veloso, Jorge Ben, Tom Jobim, Erasmo e Roberto Carlos. Com o lançamento do disco, ele voltou a receber convites importantes para se apresentar com maior frequência em vários palcos pelo Brasil. 
 
Outro momento importante, que destaco na sua carreira, foi a gravação no ano de 1995, do CD “Cauby Canta Sinatra”, que contou com a participação especial de vários cantores como Caetano Veloso, Daniela Mercury, Emilio Santiago, Gal Costa, Gilberto Gil, João Bosco, Nana Caymmi, Ney Matogrosso, Rosa Maria, Zizi Possi e Dione Warwick. O disco com 13 faixas foi produzido por José Maurício Machline e o cantor foi acompanhado pela banda de jazz, “Heartbreakers”, e também, por uma orquestra de cordas. Cauby cantou magistralmente 13 canções do repertório clássico do cantor americano, que ele ouvia desde menino.
 
Outro momento importante, que me lembro, foi a longa temporada em São Paulo, no famoso Bar Brahma, localizado na esquina das avenidas Ipi-ranga e São João, sempre às segundas, com lotação sempre esgotada. As apresentações neste local, como sempre dizia, faziam ele se lembrar dos tempos, que era “crooner”.
 
Apesar da idade e de não conseguir mais atingir alguns registros, ele sempre cuidou da sua voz com muita atenção e dedicação. Sabia que era seu instrumento de trabalho e, por esta razão, sempre falava em tom baixo, não abusava das bebidas e do cigarro.
 
Cauby será sempre lembrado pela sua intensidade, juventude de espírito e pelo fascínio absurdo que exercia nos fãs. 
 
Por onde passava, era muito requisitado para fotos e muitos abraços, retribuídos sempre com muita alegria e prazer. 
 
Foi um grande artista, que sempre tratou seus fãs com muito respeito, atenção e carinho. Vai deixar muitas saudades.  Até breve Cauby !!!
 
“Cauby Sings Nat King Cole”
Em junho de 2015, Cauby Peixoto lançou, pelo selo Nova Estação, um CD com os grandes clássicos do cantor e pianista Nat King Cole, em homenagem aos 50 do seu falecimento, ocorrido no ano de 1965. O músico americano era o maior ídolo internacional de Cauby. 
 
Ele canta em inglês em 8 das 10 faixas do disco (as outras, uma em espanhol e outra em português), e ao gravar o repertório mais popular de Nat King Cole, Cauby se reaproximou novamente com o Jazz, com quem esteve muito íntimo, quando ele se transferiu para os Estados Unidos, no final da década de 50, inclusive se apresentando por lá em Nova York curiosamente com o nome de Ron Coby.
 
A foto da capa do CD, inclusive, traz uma rara imagem desse tempo em solo americano, ao lado do homenageado.
 
O CD foi produzido por Thiago Marques Luiz e contou com a direção musical e arranjos do pianista Daniel Bondaczuk, E teve as participações de Eric Budney no contrabaixo, Ramon Montagner na bateria, Ronaldo Rayol na guitarra e violão, Marcelo Monteiro no saxofone, Odirlei Machado no trombone, além de um afinado  quarteto de cordas.
 
Não deixe de ouvir “Unforgettable”, “When I Fall In Love”, “Love Letters”, “Nature Boy”, “Blue Gardenia” e “An Affair To Remember”.
 
Cauby sempre teve o sonho de gravar este disco, e afirmou na época das gravações: “A voz aveludada e macia do Nat tem algo em comum com a minha, principalmente nos graves e nas nuances”. Ele tinha toda a razão e realizou seu grande sonho com absoluta competência e precisão.
 
Mesmo aos 84 anos, quando gravou este disco, Cauby mostrou a sua bela voz, como sempre fez. 
 
Apesar da idade, do alcance vocal bem menor, sua interpretação é mágica e estimulante. Como nos bons tempos.
 
Recomendo que você escute este CD bem relaxado e tranquilo, para poder absorver e se emocionar por completo.
 
“A Bossa de Cauby Peixoto”
Cinco meses depois, no mesmo ano de 2015, Cauby lançou outro CD com 10 faixas, desta vez, pelo Selo Biscoito Fino e conseguiu realizar outro grande sonho, que era o de gravar o repertório da Bossa Nova, com a sua levada e estilo, sempre inconfundíveis. 
 
O que já valeria pela gravação do disco, respeitando sua capacidade vocal, sempre surpreendente, assim como sua personalidade.
 
Cauby foi o responsável pelo projeto do disco e fez este pedido diretamente ao seu produtor Thiago Marques Luiz, que prontamente o atendeu. O repertório foi escolhido por Cauby, Thiago e sua empresária Nancy Lara. Disse na época das gravações: “As canções só precisam ser bonitas. Mesmo com a voz mais potente que a dos cantores de Bossa Nova, ou com um estilo mais romântico, eu posso cantar essas músicas”.
 
Acompanharam-no neste belo disco o pianista Alexandre Vianna, que também assina os arranjos, o contrabaixista Deco Telles e o baterista Humberto Zigler. E, mais, destaque para as participações especiais do pianista Daniel Bondaczuk e do violonista Ronaldo Rayol., do saxofonista e flautista Marcelo Monteiro, do guitarrista Rovilson Pascoal.
 
Meus destaques ficam por conta das intimistas “Eu e a Brisa” e “Ilusão à Toa”, homenageando o genial Johnny Alf, e mais “Samba do Avião”, “Wave”, “Este Seu Olhar”, “Dindi”, que ele normalmente cantava nos seus shows, e  “Razão de Viver” e “Até Quem Sabe”, que eram desconhecidas para ele.
 
Impossível não se emocionar com a elegância da sua interpretação e dos belos arranjos, que deram, ao disco, uma sonoridade muito especial e marcante.
 
É nítido sentir que Cauby se aproximou da Bossa Nova pelas pegadas do Jazz, afinal ele sempre afirmava, categórico, que era também um cantor jazzístico.
 
Foi um registro histórico e importante da discografia de Cauby Peixoto, um dos grandes cantores que o Brasil já teve.
 
Versátil, criativo, intenso, marcante, assim como sua música.