Perimetral

Turbulências políticas deveriam gerar preocupações portuárias?

16/04/2016
Turbulências políticas deveriam gerar preocupações portuárias? | Jornal da Orla
Os mares revoltos, no ambiente político, têm gerado preocupações sobre suas consequências nos portos brasileiros.
 
Nos mais variados ambientes de debates, em especial nos segmentos empresariais, laborais e públicos, as indagações sobre a continuidade ou alteração nas diretorias dos portos brasileiros, em função dos rumos políticos, tornaram-se temas permanentes.
 
O ministro dos Portos continua? Os diretores nomeados por indicações políticas permanecem? E se o deputado fulano votar a favor do impeachment como ficará o diretor sicrano? Com um eventual novo governo, o modelo de licitações será revisto?
 
Estes questionamentos e dúvidas demonstram, de forma cabal, como vivenciamos um modelo e sistema de gestão portuária equivocados. Demonstram que o modelo de governança, das atividades de empresas controladas pelo poder público, vivenciado de longa data no Brasil, é totalmente equivocado e inadequado.
 
Comprovam que o loteamento político partidário nas nomeações de cargos, como moedas de troca para sustentações de governos, desde muitos municípios, passando por vários estados e atingindo o ápice no governo federal, têm causado grandes males a todos estes entes de nossa federação.
 
Na verdade, esta forma distorcida de gestão e administração não é característica vivenciada apenas nos portos de nosso país. A confusão entre os interesses estratégicos de cada modalidade de negócios ou atividade e os interesses político-partidários têm sido visualizados por longos anos no país, com pouquíssimos questionamentos.
 
Precisamos aproveitar este momento delicado da política nacional para rever tais distorções. No caso dos portos, precisamos lutar para que sejam administrados por profissionais, sem bandeiras político-partidárias, definidos com base em suas competências específicas.
 
Bandeiras políticas podem ser utilizadas nas definições dos votos eletivos para os cargos que dependem de tal sistema, mas nunca para a definição de gestores de empresas sob o controle público.
 
Esta simbiose e confusão, entre funções e cargos políticos e cargos públicos, tem provocado de longa data uma enorme distorção, entre funções de Estado e funções de Governo.
 
Os governos são transitórios, o Estado é permanente. 
Com tais conceitos de suas diferenças, mundialmente, as direções portuárias não se preocupam com as variações e instabilidades políticas. Não se troca um diretor no Porto de Rotterdam quando se substitui o prefeito da cidade, mesmo o porto sendo controlado pelo município.
 
Não se debate quem será o novo presidente do Porto de Singapura, ou do Porto de Los Angeles, ou de Hamburgo, dentre vários portos de sucessos mundiais, quando são empossados os novos governantes que os controlam. Governo é uma coisa, porto é outra.
 
Governos são influenciados e atendem aos ditames político-partidários, enquanto as administrações portuárias não devem considerar tendências político-partidárias. Devem, sim, atender às necessidades do mercado, da eficiência e da competitividade de suas regiões e de seu país frente o comércio exterior, gerando, assim, resultados para a sociedade.
 
Se, em nosso país, houvesse estas claras separações estaríamos nos preocupando com as consequências dos cenários econômicos, sobre as atividades portuárias, mas nunca estaríamos nos debruçando sobre indagações sobre as influências político-partidárias.
 
Infelizmente, o cenário atual, com as confusões entre política e gestão portuária, tem gerado instabilidades para todos os envolvidos e isso atinge também as cidades portuárias.
 
Para garantir melhores relações entre as cidades e os portos é fundamental a descontaminação da política partidária sobre as administrações portuárias.
Turbulências políticas não deveriam gerar preocupações nos portos.