Páscoa é sinônimo de almoço em família, ovos e outras gostosuras de chocolate e até viagem de lazer para aproveitar o feriado. Os mais fiéis participam das atividades religiosas alusivas à data, que é a mais importante do calendário cristão por celebrar a ressurreição de Cristo, mas poucos se reservam a refletir sobre seu verdadeiro significado. É um dia para celebrar a paz e praticar o perdão, algo cada vez mais difícil, e igualmente necessário, nos dias de hoje, quando palavras e atos fomentam o ódio e a intolerância no país e no mundo.
“Pai, perdoa-lhes, eles não sabem o que fazem”, disse Jesus antes de ser crucificado para ressuscitar três dias depois. O termo Páscoa deriva da palavra hebraica “pesach”, que significa “passar sobre”. Para que haja renovação, se inicie nova vida, é essencial se libertar das amarras da raiva, mágoas e ressentimentos. E quem não perdoa perde tempo da vida remoendo o passado, daí a sensação de ser prisioneiro de sentimentos nocivos à sua saúde física e mental. Aí o problema já não é mais de quem deu causa ao fato, mas sim de quem sente e alimenta seus efeitos.
Segundo a filosofia do yoga, o perdão é um dos caminhos do dharma – dever. É uma grande virtude que abre o caminho da luz. “Não estamos falando em permitir que o outro lhe magoe ou ofenda”, esclarece a professora de Hatha Yoga, Emilce Shrividya Starling. “Perdoar não é esquecer algo doloroso que aconteceu. Você pode até se lembrar desses acontecimentos, mas o importante é abandonar os sentimentos negativos relacionados a eles”.
Algo a ser aprendido
Já para o psiquiatra Luiz Alberto Py, perdoar é uma arte que pode ser aprendida através de esforço e dedicação. “A importância de perdoar está no fato de que o perdão faz muito mais bem a quem perdoa do que a quem é perdoado. O perdoado pode se sentir aliviado de seus sentimentos de culpa pelo mal causado (ou nem fica sabendo que foi perdoado…), mas quem perdoa se livra do ódio e do rancor que fazem mal à saúde, a alma se engrandece e o espírito conquista paz e serenidade”. Lembra ainda que desenvolver a capacidade para o perdão também ajuda a nos perdoarmos (sem deixar de reconhecer o erro), o que contribui para uma melhor relação do indivíduo consigo mesmo.
Mudança no comportamento
Emilce Starling reconhece que é difícil perdoar quando a pessoa reage agindo da mesma maneira, revidando as provocações, as discussões e magoando quem lhe magoou. “Quando alimenta pensamentos rancorosos, você alimenta tensões, ansiedade e se torna infeliz. Lembre-se que você cria seu próprio mundo como o que pensa, fala e faz. Muitas vezes, a atitude sábia é não retrucar, não falar em voz alta, não criar discussões. Quando abaixamos o tom da voz, quando saímos da atitude de agressão, o outro também se desarma emocionalmente e os conflitos se dissolvem. Desenvolva paciência que é um antídoto da raiva. Não durma com raiva porque ela é um grande inimigo dentro de nós”, defende.
Paciência e tolerância
Segundo os especialistas em comportamento humano, perdoar não é algo que se faz de um momento para outro. É um processo que requer gentileza e paciência para digerir aquilo que causou a raiva e o ressentimento. A recomendação, para superar essas emoções destrutivas, é cultivar a tolerância e paciência. Mas perdoar também não significa ser obrigado a conviver com pessoas que nos fazem mal. “Cada um tem livre-arbítrio para manter seu comportamento ou optar por diminuir ou cortar contato com a pessoa que age de uma maneira que machuca”, enfatiza a psicoterapeuta Thaís Petroff.
A Páscoa no imaginário infantil
Assim como o Natal, a Páscoa envolve a existência de um personagem associado ao espírito da data, no caso o coelhinho, uma das figuras mais importantes no mundo de fantasias das crianças. É um dos feriados mais aguardados por elas. É um dia para brincar, ganhar muitos chocolates e saborear a convivência e os mimos em família.
As mais novinhas esperam ansiosas pela visita do coelho e descobrem que o bichinho esteve na casa através de suas pegadas (cuidadosamente desenhadas por muitos pais) e os ovos escondidos em tocas improvisadas. Uma brincadeira que diverte crianças e adultos. E o coelho também se reveste de autoridade, já que sua presença ou não será determinada pelo comportamento dos pequenos.
Segundo os psicólogos, a fantasia infantil faz parte do crescimento e deve ser encarada pelos pais com naturalidade. Criança pequena vê o mundo em função daquilo que atrai a sua atenção e do que excita a sua imaginação. E sua imaginação oferece possibilidades muito mais criativas e inesperadas do que a de um adulto. É saudável que a criança tenha um mundo lúdico, um mundo imaginário, um mundo onde todas as coisas sejam possíveis. Assim, a realidade vai sendo inserida muito naturalmente.
Símbolos da Páscoa
Coelho
Por sua grande fecundidade, o coelho tornou-se o símbolo mais popular da Páscoa, data relacionada à esperança de uma vida nova. A figura do coelho da Páscoa foi trazida para a América pelos imigrantes alemães, entre o final do século XVII e início do XVIII.
Ovos de chocolate
Os cristãos primitivos do Oriente foram os primeiros a dar ovos coloridos na Páscoa simbolizando o nascimento para uma nova vida. Nos países da Europa costumava-se escrever mensagens e datas nos ovos e doá-los aos amigos. Em outros, como na Alemanha, o costume era presentear as crianças. Pintar ovos com cores da primavera, para celebrar a Páscoa, foi adotado pelos cristãos, nos século XVIII. O surgimento da indústria de chocolate teria sido determinante para a substituição dos ovos cozidos.
Colomba Pascoal
O bolo em forma de “pomba da paz” significa a vinda do Espírito Santo. Diz a lenda que a tradição surgiu na vila de Pavia (norte da Itália), onde um confeiteiro teria presenteado o rei lombardo Albuíno com a guloseima. O soberano, por sua vez, teria poupado a cidade de uma cruel invasão graças ao agrado.