Originalmente, esta obra escrita pelo jornalista, escritor, compositor, crítico musical Sérgio Cabral foi lançada em 1997, pela Lumiar Editora, do saudoso e visionário produtor Almir Chediak.
E, no ano de 2008, marcando as comemorações do cinquentenário da Bossa Nova, a obra foi relançada pela Editora Companhia Nacional. Reapareceu com 535 páginas, revigorada, revisada e ampliada, com a inclusão de uma discografia completa e também um rico material ilustrativo.
O autor foi amigo íntimo do maestro, pianista, violonista, cantor, compositor e arranjador, Antonio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim, e o conhecia intimamente como poucos. Esta aí o primeiro ponto favorável que credencia a obra como uma das mais importantes da nossa literatura musical. Imprescindível e obrigatória em qualquer biblioteca. Além do que, foi escrita por uma das maiores autoridades em música popular brasileira do nosso país.
E Sérgio Cabral, na verdade, já havia lançado um livro (esgotado no mercado) sobre a vida do maestro em 1987, intitulado “Tom Jobim”, quando das comemorações do seu 60º. Aniversário, que lhe rendeu um disco duplo “Tom Jobim Inédito” e o livro citado, ambos patrocinados por uma grande empresa nacional. E este trabalho serviu como o próprio autor definiu como um “trailer” da biografia que viria a seguir e que aqui hoje destacamos.
São várias histórias interessantes e muito curiosas, contadas com muitos detalhes por Sérgio Cabral, no livro e numa dessas passagens ele conta, que depois da apresentação de Tom Jobim na noite de gala da Bossa Nova no Carnegie Hall, de Nova York, na noite de 21 de novembro de 1962, onde cantou “Samba de Uma Nota Só” (em duas versões – uma em português e outra em inglês) e no “bis”, o tema “Corcovado, o músico viveu grandes momentos.
Naquela mesma noite, ele estava determinado a assistir, ao lado do amigo e fotógrafo americano David Zingg, a uma apresentação do trompetista Miles Davis no Village Vanguard (templo do Jazz de Nova York) e quando caminhavam pela rua, a poucos metros do local, foram abordados simplesmente pelo saxofonista Gerry Mulligan, na época já considerado como um dos nomes mais admirados do Jazz, que reconheceu e reverenciou o maestro na hora.
Alguns dias depois, Mulligan convidou Jobim para dividir com ele uma apresentação num famoso programa da TV americana, o que foi determinante para abertura de seu espaço no exterior e para a sua decisão de se fixar por lá profissionalmente.
Tom Jobim nos deixou em 8 de dezembro de 1994 e, no parágrafo final do livro, Sérgio Cabral escreveu: “Quando morreu Rui Barbosa, o Correio da Manhã definiu a perda: Apagou-se o Sol. Algo semelhante aconteceu na música brasileira e nas mesas dos bares cariocas”. O autor está coberto de razão.
No dia 25 de janeiro, Tom Jobim completaria 89 anos e ele será um dos homenageados do Rio-Santos Bossa Fest 2016. Confira a programação completa do Festival no portal www.riosantosbossafest.com.br.
Cris Delanno & Alex Moreira – “Nosso Quintal”
A cantora e compositora Cris Delanno, uma genuína carioca americana (ela nasceu no Texas – EUA), começou muito cedo na música, aos 5 anos de idade, cantando no coral infantil do Theatro Municipal do Rio de Janeiro.
Teve como seus principais padrinhos musicais o pianista Luiz Carlos Vinhas e o guitarrista, compositor e produtor Roberto Menescal, que sentiram nela, desde a sua adolescência, um grande talento a ser lapidado.
Acompanho sua carreira desde os seus primeiros lançamentos, com vários discos importantes e qualificados, mais atrelados ao repertório da “Nova Bossa Nova”, e sua interpretação, sempre muito sentida e intensa, me agrada demais. É uma das minhas intérpretes preferidas.
Madura e feliz, lançou no final de 2014, no mercado brasileiro, este trabalho ao lado de seu parceiro de vida, dos palcos e de composições, Alex Moreira, multi-instrumentista e um dos líderes do genial e inventivo grupo Bossacucanova. Uma curiosidade: o disco foi lançado no Japão em 2012 pelo selo P-Vine Records.
O trabalho é totalmente autoral e com parcerias importantes ao lado de João Donato, Joyce Moreno, Dora Vergueiro, George Israel, entre outros nomes. A produção foi assinada por Donatinho e Alex Moreira.
Nasceu dos diversos encontros musicais caseiros, ocorridos com frequência ao lado de amigos e parceiros, sempre com muita descontração e intensa cumplicidade.
Inspirado nas cenas do cotidiano, traz nas letras mensagens otimistas e com o firme compromisso com o planeta. Já as melodias, sonoridades com sotaques diferenciados, com fortes pitadas do ritmo latino e do Samba e algumas citações do Choro.
Destaque para os temas: “Dejá Vu”, “Até Sonhar”, “Na Flor da Idade”, “Tanta Água”, “Confusão”, “Saudade”, com a participação do Power Samba Jazz, “Valsa com o Poeta”, que contou com a participação de Jacques Morelenbaum no cello e Gustavo Black Alen na voz e a faixa título “Nosso Quintal”, com a participação muito especial de João Donato.
Está aí uma sugestão diferenciada da nossa MPB, nesta dobradinha de Cris Delanno e Alex Moreira, que demonstra uma intensa cumplicidade e musicalidade qualificada.
Ela será uma das grandes atrações do Rio-Santos Bossa Fest, que acontece em Santos nos dias 24 e 25 de janeiro no Teatro Guarany, com entrada franca. Imperdível !!!
David Feldman – “Piano”
A música também entrou muito cedo na vida do incrível e jovem pianista carioca David Feldman. Aos 4 anos de idade, ele já dedilhava o piano, recebendo aulas de piano clássico e, anos mais tarde, teve a sorte, merecimento e a grande honra de ser um dos principais discípulos do genial pianista Luiz Eça, do Tamba Trio.
Gravado de forma independente, este é o segundo CD de carreira (o primeiro de 2009, foi uma homenagem ao Beco das Garrafas), deste que considero um dos pianistas mais completos que já vi tocar.
Tive a sorte de vê-lo tocar ao vivo no ano passado no mítico Bottle’s Bar, numa canja especial do Circuito Carioca de Bossa Nova, num show do Paulinho Trompete.
E não é novidade constatar que ele é um dos músicos mais requisitados do momento, já tendo atuado ao lado de Leo Gandelman, Leny Andrade, Ricardo Silveira, Leila Pinheiro, Jacques Morelenbaum, entre outros nomes importantes.
Ao ouvir o disco, que traz 10 faixas, sendo 6 composições autorais, me lembrei de algumas gravações intimistas no formato “piano solo”, como aquelas dos lendários pianistas George Shearing, Tommy Flanagan, Dave Brubeck, Dave Mckenna entre outros.
O repertório gravado é bastante eclético, com citações da música clássica, da Bossa Nova e do Jazz, soando sempre de forma muito harmoniosa e com extremo bom gosto.
As releituras das conhecidas “Primavera”, “Conversa de Botequim”, “Tristeza de Nós Dois” e “Sabiá” merecem destaque pela sua interpretação. E as composições autorais “Chobim”, “Bad Relation”, “Tetê” e “Esqueceram de Mim no Aeroporto” demonstram toda a sua inspiração.
Outro detalhe interessante do disco é que em duas faixas, ele gravou com dois pianos, usando recursos da tecnologia para dobrar sua interpretação. Ficou muito interessante ouvir esta dobradinha intimista dele com ele mesmo.
A Música Instrumental Brasileira ganhou mais um belo registro e o pianista David Feldman merece todo nosso respeito e admiração pela sua ousadia, talento e inventividade.