
Após dois anos de estudos sobre o avanço do mar em Santos, envolvendo cientistas brasileiros e estrangeiros, está dado o veredicto: é preciso começar o quanto antes as obras e soluções propostas se não quisermos deixar para as futuras gerações um legado no mínimo preocupante.
A avaliação do Projeto Metrópole, estudo inédito e mundial também realizado nas cidades costeiras de Broward (Estados Unidos) e Selsey (Inglaterra), é que, se nada for feito, até 2050 o nível do mar pode subir 36 cm em Santos, chegando a 45 cm em 2100. O que significa que parte da Ponta da Praia, Aparecida, Embaré, Boqueirão e bairros da Zona Noroeste vão ser severamente castigados com enchentes e alagamentos.
Uma situação que pode ser minimizada se houver vontade política, recursos financeiros e disposição em investir e a sociedade se mobilizar para cobrar ações do Poder Público. Na relação custo/benefício, a balança demonstra que as medidas propostas, ao custo estimado de R$ 238,4 milhões, podem evitar prejuízos de R$ 1,28 bilhão.
Na realidade, a relação custo/benefício é bem maior, já que os valores dos prejuízos estão subestimados no estudo, que considerou apenas o valor venal dos imóveis, sem incluir custos com infraestrutura, como asfalto e pontes.
As providências sugeridas não têm nada de mirabolantes, embora possam causar polêmica (com o aumento, a faixa de areia pode avançar para o jardim, que, por outro lado, corre o risco de desaparecer caso nada seja feito) e exigir soluções complexas, como o remanejamento de moradores para recuperação dos manguezais.
“Essa é uma medida particularmente complexa, pois envolve recuperar um mangue que não existe mais porque há população morando no local”, avalia a pesquisadora da Unicamp, Luci Hidalgo Nunes.
“Qualquer medida é efetiva quando tem a participação de quem é afetado”, afirma Luci Hidalgo, chamando à população a se mobilizar. “O futuro já começou. As obras têm que ser viabilizadas o quanto antes. As mudanças climáticas já estão acontecendo”, adverte. “Nós queremos deixar algo para que a cidade continue. Deixar um legado. Se sai caro para fazer, o custo de não fazer nada será muito maior”, completa José Marengo.
Recuperação dos mangues – Retirada das casas que ocupam as áreas de mangues (capazes de absorver o impacto das ondas) para desimpedir a passagem da água do mar.
Engordamento da areia – Aumento da faixa de areia entre a Ponta da Praia e o Embaré, em processo contínuo, a cada dois anos, pois os movimentos da maré tendem a levar sedimentos. Também são sugeridos muros de proteção e sistema de bombeamento e melhoria de comporta dos canais.
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