A Bossa Nova perdeu recentemente um de seus maiores patrimônios: Luiz Carlos Miele, artista muito querido, musical, versátil, alegre e talentoso. Um legítimo e completo “showman”, que sabia como poucos contar boas histórias.
Sem dúvida, foi um dos maiores produtores musicais deste país, grande apresentador e um incrível contador de histórias. Além de ator, apresentador de TV, dançarino, diretor, cantor e compositor entre outras atividades.
Apesar de ter nascido em São Paulo, tinha no coração a alma carioca. E ele sempre brincava dizendo que era carioca durante o dia e paulista durante a noite.
Com 67 anos de carreira, Miele voltou à cena recentemente com força total e desenvolveu simultaneamente vários projetos importantes.
Um destes projetos, ele lançou pouco tempo antes de partir pela Bookstart, plataforma de “crowdfunding” e editora, projeto de financiamento coletivo para a publicação da obra “MIELE – O CONTADOR DE HISTÓRIAS”.
É importante destacar que a campanha continua no ar até o dia 13 de dezembro e você pode contribuir acessando o link http:/ bookstart.com.br/miele
Com 344 páginas, distribuídas em 46 capítulos repletos de passagens importantes da nossa música, o livro é uma agradável reunião de suas grandes experiências. O prefácio é assinado pelo seu grande amigo Lula Vieira.
Miele inclusive tinha feito no início de outubro no Rio de Janeiro, na casa de espetáculos Miranda, o lançamento do livro e depois dos autógrafos subiu ao palco acompanhado pelo pianista Alfredo Cardim, apresentou seu show musical e piadas, contando com a participação de uma plateia lotada de grandes amigos. Ali ninguém poderia imaginar que ali ele estava se despedindo de todos nós.
A obra é narrada em primeira pessoa e destaco alguns destes capítulos, que ele conta com detalhes passagens importantes da sua própria vida.
O capítulo que fala do mítico Beco das Garrafas, ele relata que o primeiro show que ele assistiu foi o do Tamba Trio, com Luiz Eça no piano, Bebeto no contrabaixo e Hélcio Milito na bateria. Depois veio Elis Regina e na sequência o primeiro show que fez ao lado de Ronaldo Bôscoli, com Sérgio Mendes. A dupla Miele & Bôscoli iniciava ali uma das mais importantes parcerias musicais da nossa música brasileira.
Já no capítulo onde fala de Elis Regina, uma artista com um talento que ele não se acostumava, ele disparou numa entrevista quando lhe perguntaram quais as três maiores cantoras do Brasil e ele respondeu: “Elis Regina. Acho que a Elis é a primeira, a segunda e a terceira cantora do Brasil”. Na época, esta declaração causou muita polêmica.
Imperdíveis também os capítulos que falam de Roberto Carlos, Roberto Menescal, Maysa, Vinicius de Moraes, Tom Jobim, Sarah Vaughan, Wilson Simonal entre outros.
Posso garantir que a leitura será muito prazerosa e com diversão garantida. Miele tinha o dom de contar histórias. E com um grande diferencial, pois ele viveu todas elas como grande protagonista. Até breve Miele, o cara que contava sua vida através das suas histórias.
Conrado Paulino Quarteto – “4 Climas”
O violonista, arranjador e compo-sitor Conrado Paulino é um dos músicos que mais gosto de ouvir.
Sua levada no violão é absurdamente mágica e a música instrumental brasileira tem nele, um de seus maiores representantes na atualidade.
Seja na música brasileira, no Jazz ou na música clássica, seu estilo une a docilidade e vigor, aliados ao total domínio na execução de sua técnica absoluta.
No seu curriculum qualificado, merecem destaque as suas participações ao lado de Rosa Passos, Johnny Alf, Claudete Soares, Alaíde Costa, Zimbo Trio, Paulinho Nogueira, Heraldo do Monte, Roberto Menescal entre tantos outros nomes importantes.
Desde o ano de 2001 reúne esta formação em quarteto para interpretar composições autorais e de compositores conhecidos. Receita bem equilibrada que se traduz em qualidade musical.
Recentemente nos presenteou com mais este belo lançamento independente, o quarto da carreira como líder, distribuído pela Tratore e avalizado pelos músicos Dori Caymmi e André Mehmari, que escreveram suas impressões no encarte do CD.
Ao seu lado estiveram a incrível e surpreendente Debora Gurgel no piano, Marinho Andreotti no contrabaixo e Percio Sapia na bateria. E contou também com as participações muito especiais de Lea Freire na flauta, Alexandre Ribeiro no clarinete, Tatiana Parra na voz, Daniel D’Alcântara no trompete e Vitor Alcântara, Josué dos Santos, Maurício de Souza nos saxofones, além de cordas muito afinadas.
Meus destaques ficam para os temas autorais “Me Zeni o Pet”, “Se Parar”, “Valsa Errante”, “Gêmeos” numa levada inspirada do Jazz e as conhecidas “Você Já Foi à Bahia”, “Canto Triste”, “Vivo Sonhando” e o clássico “It Might As Well Be Spring”. E uma surpresa, com a bela versão do tema “Anna Julia”.
4 Climas é recomendado para se ouvir no Verão, no Inverno, no Outono ou na Primavera. Pouco importa a estação do ano que mais lhe agrada. O que realmente vale é a inspiração e a grande sensibilidade dos temas e improvisos que encontramos nas 11 faixas do disco. Vale conferir mais este belo exemplo de qualidade, talento e criatividade genuinamente brasileiros.
Leo Gandelman – “Velhas Ideias Novas”
O saxofonista, flautista, compositor, arranjador e produtor carioca Leo Gandelman é um dos músicos mais completos que já conheci. Versátil, talentoso e muito criativo, ele consegue transitar sem qualquer barreira ou preconceito entre o repertório popular e erudito. E com absoluta competência e segurança. Lançou recentemente de forma independente pelo seu selo Sax Samba este CD que tem no nome também “100 anos de Samba – O Sax Brasileiro da Gafieira ao Sambajazz”.
Leo Gandelman dá um verdadeiro show de interpretação seja no sax alto, no tenor e também no barítono, agradando muito em todas as sonoridades.
Com o disco ele presta uma importante e justa homenagem aos saxofonistas brasileiros Paulo Moura, Moacir Santos, Juarez Araujo, Zé Bodega e Casé, que foram responsáveis pela abertura de novos horizontes para o instrumento.
E reverencia também o Sambajazz, que nasceu da mistura do samba instrumental das gafieiras com o mais puro Jazz, nas décadas de 50 e 60 e que andou se misturando com absoluta harmonia com a Bossa Nova.
A banda que acompanhou foi formada pelo jovem e talentoso pianista Eduardo Farias, os geniais Lula Galvão e Ricardo Silveira nas guitarras e violões, Alberto Continentino no contrabaixo, Rafael Barata e Antonio Neves na bateria, Jota Moraes no vibrafone, Andre Siqueira e Beto Cazes na percussão, Serginho Trombone no trombone e Nico Rezende no violão.
O repertório traz como meus destaques “Feitio de Oração”, “Se Acaso Você Chegasse”, “Quem Quiser Encontrar o Amor”, “Coisa nº 10” e “Cidade Vazia”.
O sopro marcante de Leo Gandelman nos encanta há muito tempo e o seu talento se mede através da quantidade de suas participações em gravações ao lado dos maiores nomes da nossa MPB (perto de mil gravações) e também através das suas composições para diversas trilhas do cinema e televisão, além da sua expressiva vendagem de discos.
Tive o prazer de conviver muito próximo com ele em produções de alguns de seus shows realizados aqui em Santos (sempre com lotação esgotada) e também nos Festivais de Jazz de Rio das Ostras e Búzios e posso garantir que ele é um músico absolutamente completo.
Sem falar na sua simpatia, carisma e simplicidade. Um grande “cara” que admiro muito.