Teatro

chr39O abajur liláschr39 marca reabertura do Municipal

07/11/2015
chr39O abajur liláschr39 marca reabertura do Municipal | Jornal da Orla
Para marcar a reabertura do Teatro Municipal, fechado há 15 meses para reformas, será apresentada no próximo final de semana a peça “O abajur lilás”. O espetáculo tem direção de Tanah Correa, e Nuno Leal Maia como protagonista. Uma adaptação da obra do dramaturgo santista Plínio Marcos, o espetáculo narra os conflitos entre um cafetão (Giro) e três prostitutas (Dilma, Célia e Leninha), que vêm à tona justamente quando se quebra um abajur na pocilga onde vivem. No sábado (14), às 21h, e domingo (15), às 19h. Ingresso: R$ 20. Nesta entrevista, Nuno fala sobre a peça, a TV Globo e a seu futuro artístico.
 
Sobre o que é essa peça?
Nuno Leal Maia – É sobre a marginalidade, essas pessoas da Boca. Ele fez uma sequência de peças sobre elas, “Dois perdidos numa noite suja”, “Navalha na carne”, “O abajur lilás”. É sobre o oprimido, que fica fora da sociedade de consumo. Eles vivem num mundo menor, na Boca, onde as prostitutas se vendiam por um preço mínimo, com um cafetão que explora elas. Ele já é marginalizado por ser homossexual.  É um tema que foi abordado no início da carreira do Plínio, na época da ditadura.  Aliás, a peça tem a ver com isso, o cafetão tortura as meninas por ter quebrado o diabo do abajur lilás. É mais ou menos o que acontecia naquela época, quando as pessoas se revoltavam. Não sei se as pessoas hoje conseguem fazer este paralelo, porque já se passaram muitos anos. Reviver Plínio é muito importante, é uma coisa nossa, de Santos. A memória é muito importante, você reviver o passado para se localizar no presente, e não repetir os mesmos erros no futuro. 
 
Quando diziam para Plínio Marcos que a obra dele permanecia atual, ele retrucava que ela não continuava atual, os problemas é que continuam os mesmos.  Você acha que um dia a obra dele ficará ultrapassada, num bom sentido?
Nuno – Infelizmente, a marginalidade sempre vai existir. Sempre vai ter o rico e o pobre, o marginal, o discriminado. Eu, por exemplo, sou um marginal da tecnologia, já tentei mas não consigo me adaptar. Prefiro viver a minha vida como sempre foi. Neste ponto, a obra dele vai permanecer forte.  Vão surgir novos marginais, como esses da tecnologia, e permanecer marginalizados os de sempre, os negros, os homossexuais. 
 
E a televisão feita hoje? Você acha que a TV hoje tem  a pretensão de discutir temas que precisam ser debatidos ou se limita a oferecer apenas entretenimento?
Nuno – (Gargalhando) É só fazer entretenimento. Está ficando cada vez mais baixo nível. Poucas coisas você consegue assistir, a não ser em televisão a cabo. A TV Globo está baixando o padrão dela, de uma maneira violenta. E as outras não conseguem subir, porque não têm criatividade para isso. Estou vendo com muito pesar esta fase da TV atual. O nível geral do país, caiu muito. Outro dia eu estava falando com um amigo e perguntei “será que durante a ditadura as pessoas não eram mais criativas?”, Aí ele falou: “É verdade, porque antes a gente tinha um inimigo”. Hoje em dia você não tem esse inimigo e tem um governo deteriorado, um sitema deteriorado, que não se preocupa mais com nada. Até o futebol brasileiro está contaminado. 
 
Hoje vemos autores de novela mudarem o rumo da novela por conta de pressões conservadoras…
Nuno – O autor hoje em dia não tem mais liberdade para criar. O Dias Gomes, se alguém pressionasse, ele não escrevia. Ele começou a escrever “Mandala”. Aí a Censura falou que não podia ter amor de mãe com filho, ele pegou e caiu fora. Aí outro autor pegou a bucha. Hoje em dia, o autor é totalmente conduzido. A TV Globo tem uma forma de fazer novela que o autor tem que se adequar a ela. Não pode ter uma independência criativa, não tem, ele não consegue. Tem um “group discution” que fica a toda hora fiscalizando, vendo a audiência, aí mexe, remexe… 
 
E com relação ao seu futuro artístico?
Nuno – Eu estou cada vez mais voltando às minhas origens, porque comecei no teatro. Cinema também está difícil de você conseguir. Tem que conseguir patrocínio, esse negócio de lei (Lei Rouanet). Como eu não sou do PT. Se você é do PT consegue dinheiro mais fácil. Todos os atores que são do PT produzem peça, fazem filme… Eu não. Estou com um ideia muito bacana de transformar a casa do José Bonifácio (na Rua XV de Novembro, ao lado da Bolsa do Café) que está totalmente abandonada, em um lugar cultural. Podia fazer mais coisas turísticas para dinamizar aquele centro histórico. Agora, o difícil é conseguir chegar nas autoridades, às verbas. As pessoas dão mais importância a esse negócio de Carnaval, dar dinheiro para a Grande Rio. Aí fica complicado, por mais que divulgue a cidade. Um samba muito fraco, eu achei. E a Grande Rio não é uma escola de grande projeção, não é grande, não é uma Portela, uma Mangueira, uma Beija-Flor. Não sei até que ponto isso vai ser bom para a cidade. Agora, reformar o Municipal, criar um polo turístico e cultural no centro é importante.