Escrevo para registrar que o VINIL, também conhecido como long play, disco, bolacha ou qualquer outro nome da sua preferência, está de volta com muita força. Não pense que estou enganado. Depois de quase desaparecer das prateleiras, o vinil ressurge com lançamentos bem interessantes.
Eu tive a sorte de guardar e preservar boa parte dos meus discos, alguns inclusive que nunca foram lançados no formato CD, e não me arrependo de ocupar muito espaço no armário para mantê-los na minha coleção.
Tenho alguns amigos corajosos ou irresponsáveis que se desfizeram de seus discos e se arrependem amargamente nos dias de hoje. E eu os avisei para não fazer aquilo e disse também que um dia eles iriam se arrepender daquele ato.
Até pouco tempo atrás, só era possível encontrar um disco de vinil, num museu ou nas mãos de colecionadores. Praticamente foram extintos, depois do surgimento do CD.
Mas esse cenário começa a mudar atualmente já que os Long Plays voltaram a despertar interesse de artistas e das gravadoras.
Uma nova pesquisa realizada recentemente pela RIAA – Recording Industry Association Of America concluiu que as vendas de discos de vinil no primeiro semestre de 2015 renderam mais do que o Youtube, a versão gratuita do Spotify e do Vevo juntos.
Para ter uma ideia, a venda de LPs nos Estados Unidos entre janeiro e março deste ano foram 53% maiores do que no mesmo período do ano passado.
As vendas de discos cresceram mais de 260% desde 2009 e outro indicador importante deste crescimento é a quantidade de fábricas de vinil que vem surgindo.
Os executivos das gravadoras garantem que o vinil complementa o marketing e auxilia nas vendas. Mas garantem que a produção não será em grande escala.
Atualmente no Brasil o preço de um vinil novo vendido em loja ainda é muito alto, inviabilizando o formato, não apenas como objeto, mas principalmente como forma de difusão musical.
A melhor opção no meu entender continua sendo o comércio de discos usados ou pela importação feita diretamente pelo interessado.
A oferta de sebos e feiras sazonais específicas realizadas em diversas partes do Brasil são as melhores opções para adquirir um LP. Só é preciso ter tempo e alguma paciência para garimpar as melhores opções.
E não se esqueça do ritual: é preciso escutar primeiro o lado A, depois virar o disco e escutar o lado B.
Manusear os discos e contemplar as artes das capas é poder viver uma experiência única. Som na vitrola e boa viagem musical.
Mario Adnet – “Jobim Jazz Ao Vivo”
O compositor, violonista, arranjador e produtor carioca Mario Adnet acaba de lançar pelo selo Biscoito Fino o DVD (17 faixas) e o CD (14 faixas), gravado ao vivo no belíssimo Auditório Ibirapuera em São Paulo.
Ele nos últimos anos desenvolveu um minucioso estudo da obra musical do maestro soberano Antonio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim, num apanhado de mais de 40 anos de suas composições.
Em 2002 sua obra foi revisitada no projeto “Jobim Sinfônico”, lançado também no formato de DVD e CD, com a participação da OSESP – Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, composta por 70 músicos e com músicas adaptadas por ele e por Paulo Jobim. E que recebeu o prêmio Grammy Latino merecidamente pela qualidade e ousadia.
E nos anos de 2007 e 2011, respectivamente, lançou dois CDs de estúdio, denominados “Jobim Jazz”, que deram origem a este trabalho, que inclusive ganhou uma turnê nacional passando palas cidades do Rio de Janeiro, Brasília, Salvador, Recife, Fortaleza, Porto Alegre, Belo Horizonte e São Paulo, onde foi gravado o material.
Ao seu lado estiveram Ricardo Silveira na guitarra, Marcos Nimrichter no piano e acordeon, Jorge Helder no contrabaixo, Antonio Neves na bateria, Mafram do Maracanã na percussão, Eduardo Neves na flauta e sax tenor, Danilo Sinna na flauta e sax alto, Marcelo Martins no sax tenor e flauta, Henrique Band no sax barítono, Philip Doyle na trompa, Jessé Sadoc no trompete e flugelhorn e Everson Moraes no trombone. E a convidada mais do que especial, a cantora Nana Caymmi. Ou seja, um time de músicos de primeira linha que deram muito brilho, à sonoridade impecável e surpreendente do disco.
Destaco os temas instrumentais “Takatanga”, “Mojave”, “Sue Ann”, “Só Danço Samba”, “Wave”, “Tema Jazz”, “Bonita”, “Paulo Voo Livre”, “Polo Pony” e os cantados “Derradeira Primavera”, “Por Causa de Você” e “Estrada do Sol”.
Arranjos muito inspirados marcam o diálogo sem preconceitos entre o Jazz e a Bossa Nova, com destaque para os sopros vigorosos dos metais, além de improvisos incríveis, que deixam a sensação de que a música do maestro soberano é atemporal e eterna.
Importante registrar toda a ousadia e talento de Mario Adnet. A música brasileira aplaude e agradece pela importante pesquisa, preservação para as gerações futuras e musicalidade.
Fred Falcão e Clarisse Grova – “Premonições”
Tive a honra e o privilégio de conhecer o repertório deste CD antes mesmo do seu lançamento, na casa do próprio Fred Falcão, localizada no bairro das Laranjeiras na cidade do Rio de Janeiro, numa tarde/noite deliciosa ao lado do compositor Marcello Silva, que é um de seus grandes parceiros.
Foi um grande momento musical, vivido com muita emoção e ao sabor de divertidas conversas sobre cada uma das faixas. Pude conhecer bem de perto todos os detalhes e curiosidades sobre as composições. Momento único e simplesmente inesquecível.
Ele foi criado no núcleo dos grandes nomes da Bossa Nova e por algum tempo trocou a música pela advocacia. Porém, a música sempre esteve presente na sua vida, com participação muito importante na sua existência.
Estreou no ano de 1966 quando insistentemente conseguiu que o conjunto vocal “Os Cariocas” gravasse “Vem cá, Menina”.
O CD lançado recentemente pelo selo Sala de Som encerra uma inspirada trilogia iniciada em 2011 com “Voando na Canção” e depois em 2014, com “Nas Asas dos Bordões”, que reúnem suas composições ao lado de diversos parceiros.
Importante destacar que o compositor pernambucano/carioca Fred Falcão é um dos artistas mais bem relacionados da cena musical brasileira. Uma prova disso é a participação dos maiores intérpretes e músicos deste país nos seus trabalhos. Privilégio para poucos.
Produzido e arranjado pelo competente pianista e maestro carioca Cristovão Bastos, contou também com a participação na grande maioria das faixas da cantora Clarisse Grova, uma das vozes contemporâneas mais surpreendentes do momento. Fred Falcão inclusive também canta em cinco faixas e o cantor Claudio Nucci, que pela sua proximidade com a Família Caymmi, aparece com destaque numa bela homenagem a Dorival Caymmi.
Fizeram parte do time musical, liderados por Cristovão Bastos, o violonista João Lyra, o contrabaixista Jorge Helder, o percussionista Zé Leal, o saxofonista alto Zé Canuto, o trombonista Reynaldo Seabra, o trompetista Marcio André, o clarinetista Dirceu Leite e o acordeonista Bebê Kramer
Não deixe de ouvir “Quase Nua”, “Aconteceu”, “Porque Tu És”, “Minha Loucura”, “Velho Algodão”, “Salsa Blues”, “Flor do Mar”, “Matizes”, a faixa título “Premonições” e “Marcha-Enredo”.
Você vai encontrar diversos ritmos, como inspiradas baladas que falam de amor, de cenas do cotidiano, um xote surpreendente e sambas recheados de movimento e alegria.
Obrigado Fred Falcão por contagiar nossos corações com a sua música e por transbordar simpatia, intensidade e vitalidade. Já estamos esperando o próximo CD e também a sua biografia, em fase de elaboração, que com certeza deve ter histórias muito importantes e curiosas dos bastidores da nossa MPB.