O santista Bruno Fracchia é ator, professor e dramaturgo. Apesar da pouca idade, 30 anos, está no teatro há 17, tendo estudado com nomes como Cleyde Yacónis, Cacá Carvalho e Aguinaldo Silva. Poucos sabem, mas ele é um dos criadores da sinopse da telenovela “Fina Estampa”, estrelada pelas atrizes Lília Cabral, Christiane Torloni e pelo santista Dalton Vigh. Trabalhou ao lado de Gerald Thomas e Ney Latorraca, e atuou em mais de 15 peças de teatro inclusive “Algumas Histórias”, sobre a vida do consagrado ator Paulo José. Na TV, participou das novelas “Amigas & Rivais” e “Revelação” e trabalhou em alguns curta- metragens, sendo protagonista e roteirista do filme “Terapias”, dirigido por Nuno Leal Maia, que hoje pode ser assistido no YouTube. Como professor, leciona aulas de interpretação teatral, dramaturgia e teoria, e é voluntário no Grupo Platôs, trabalhando com adultos com deficiência intelectual.
Você é jovem e já está no teatro há 17 anos. Escolheu, ou foi escolhido pelas artes cênicas?
Acho que fui escolhido, como tantos outros (risos). Desde criança, assistia a novelas, gostando de imitar personagens. Até que na adolescência quis fazer teatro para um dia fazer novela e me apaixonei pelos palcos. Fui dominado (risos)!
Quando percebeu que queria viver disso?
Não sei precisar um momento, mas nunca pensei em não fazer isso. A primeira vez que entrei na USP, aos 17 anos, fui fazer História, mas para me ajudar a fazer teatro. Ou seja, mesmo lá, o teatro estava em primeiro plano. Depois me formei em Artes Cênicas por essa universidade. Hoje, com 30 anos, sem saber fazer coisas que não são ligadas à minha área, acho tarde para tentar outra coisa (risos).
E como é já ter uma sinopse de novela das 21h, na Globo, no currículo?
Ah, confesso que ainda é meio estranho… Às vezes vejo algo da novela. Ontem, por exemplo, peguei uma figurinha do Crô, personagem do Marcelo Serrado, e bateu uma emoção muito grande, pois lembrei do dia em que o personagem foi criado. É um mundo no qual ainda não estou plenamente inserido. Tenho muito orgulho e carinho por este trabalho, e às vezes ainda não acredito que participei dele.
Criou especificamente alguns dos personagens da novela?
Os personagens foram criados de forma coletiva. Não podemos dizer que alguém é criador deste ou aquele personagem. Eu escrevi a sinopse do personagem José Antenor, interpretado pelo Caio Castro, um estudante de medicina que tinha vergonha da mãe porque ela era pobre. Mas, ao escrever esta sinopse, eu apenas coloquei no papel coisas que já haviam sido levantadas e definidas nos encontros! Não foi uma criação minha. Escrevi uma cena que o Aguinaldo Silva generosamente deixou na versão final do capítulo, quase que na íntegra! E no segundo capítulo, vi e ouvi duas ou três frases escritas por mim ditas pela Lília Cabral. Foi emocionante demais!
Aguinaldo Silva é, pela internet, ácido, mas quem o conhece diz que ele é uma doçura. Para você, que conviveu, qual a impressão a respeito dele?
Estou ao lado daqueles que os conhecem. Na internet, vejo que temos uma “persona”, necessária neste virulento mundo virtual. Mas pessoalmente é um lord, de fala mansa e baixa, sem falar mal de ninguém, sem nenhuma agressividade na voz. Enfim, alguém que generosamente desce do “pedestal” de autor de novela das 21h para ministrar curso gratuitamente só pode fazer jus ao chamado de “Mestre” que alguns amigos queridos dirigem a ele.
Será que podemos vê-lo em uma das próximas novelas dele? Já conversaram sobre isso?
Ah, isso eu não sei. “Fina Estampa” faz um tempo já… Ele conhece meu trabalho como autor. Como ator, não. E já me foi dada uma oportunidade como autor. Realmente, não sei o dia de amanhã, mas se um dia ele me assistir no teatro e gostar do meu trabalho, quem sabe não possa surgir um teste? Nunca conversamos a respeito e não temos contato. Ele é um homem muito ocupado, não tem sentido eu ficar incomodando.
E Paulo José? Como surgiu a ideia de fazer uma peça a respeito dele?
Lendo a biografia dele, tive uma grande identificação com o pensamento estético dele, com a trajetória e, em especial, com o fantástico exemplo de enfrentamento e superação que ele nos dá mesmo com Mal de Parkinson, ao dar a cara a tapa, se esforçar e entrar em cena! Isto precisa ser mostrado para o maior número de pessoas possíveis. Vejo neste ato dele a maior declaração de amor que já vi alguém dar aos palcos.
E como ele e a família receberam o seu trabalho?
Muito bem e com a maior generosidade. Tenho sorte com alguns dos grandes artistas que encontro em meu caminho. Tive a honra de ser assistido pela Bel Kutner, no Rio de Janeiro e, no dia seguinte, ser recebido pelo Paulo José na casa dele!
E como foi esse encontro?
Foi maravilhoso! Fiquei nervoso, pois foram quase oito anos querendo conhecer o Paulo José, seis anos estudando para a peça, dois anos apresentando e, em determinado momento, eu estava diante dele! Impossível traduzir em palavras!
Qual a maior dificuldade em interpretá-lo?
Ah, são várias dificuldades. A preocupação com o corpo, com a voz, em não exagerar. Talvez a maior seja essa, em não exagerar, não fazer imitação.
Como foi a sua experiência com Gerald Thomas?
Foi riquíssima e de apenas três semanas. Acompanhar o seu processo de criação ao lado de Ney Latorraca foi um aprendizado grande. É uma mente em criação constante!
E as novelas do SBT?
Elas representam minhas primeiras experiências com televisão. A primeira vez foi incrível. Envolvido por todo aquele clima, voltei para casa chorando de alegria! Em “Amigas & Rivais”, um policial, em uma única cena. Na segunda vez, em “Revelação”, fiz um sem-terra de nome Fulgêncio que, embora tivesse poucas falas, trouxe a novidade de viver uma rotina de gravações. Foram quatro diárias, se não me engano, então experimentei outro clima. Externa, estúdio, toques importantes do ator Clemente Viscaino, que fazia o líder dos sem- terra e eu, o braço direito dele.
Prefere teatro, TV ou cinema?
Não sei a resposta, mas cada forma, ou veículo, tem as suas especificidades. Devemos buscar aproveitar o que há de melhor, o que de específico, em cada um deles e adaptar nosso trabalho às exigências de cada segmento.
Mas tem o curta dirigido por Nuno Leal Maia…
Sim, e foi especial trabalhar ao lado da Rosane Paulo, do Bellini, da dona Margarida, amigos queridos, e do Nuno, de quem me tornei amigo. O filme está disponível no YouTube. Propusemos uma história psicológica, em que se tenta mostrar a importância do diálogo, a importância de vivermos a vida de forma livre.
E os próximos projetos?
Estou pensando em novas peças, vendo possibilidades de um novo monólogo e buscando voos maiores para “Algumas Histórias”. Agora em julho me apresento no Sesi-Uberaba e espero conhecer novas cidades e estados do país e fazer uma temporada em São Paulo.