O Jazz perdeu em 28 de maio um de seus grandes pianistas e também um inspirado compositor e arranjador, que tinha apenas 58 anos de idade.
O talentoso Ray Kennedy, que durante mais de 10 anos participou do trio do guitarrista e cantor americano John Pizzarelli, com quem gravou discos memoráveis, além de ter vários discos lançados como líder.
Posso dizer que foi um dos maiores pianistas que já vi tocar ao vivo e ele se tornou um dos meus favoritos. Sua técnica, agilidade e improvisos eram únicos s inesquecíveis.
Tinha no seu estilo único e inconfundível de tocar “Swing Jazz” uma mescla dos seus grandes ídolos, Oscar Peterson, Errol Garner, George Shearing, Teddy Wilson e Nat King Cole.
Alguns anos atrás, numa viagem a Brasília, pude estar muito próximo dele, quando participou de um show ao lado de Martin e John Pizzarelli, num evento promovido pelo Consulado Americano.
Nesta oportunidade, tocou curiosamente em um reluzente piano branco, que, no primeiro momento, causou vários olhares de surpresa, tanto dos músicos, quanto da plateia convidada para o show. O piano, apesar de bastante chamativo, estava afinado e em condições de suportar todo o seu talento.
Nas outras oportunidades que veio ao Brasil como integrante do trio de John Pizzarelli, com a formação clássica de guitarra, piano e contrabaixo (sem a bateria), principalmente em várias apresentações na cidade de São Paulo, pude estreitar meus laços de amizade e admiração por ele.
O Jazz entrou na sua vida, na infância, graças a seu pai, que lhe ensinou os primeiros passos, na sua cidade natal, Saint Louis.
Teve a honra e o grande privilégio de acompanhar os grandes nomes do Jazz, como o trompetista Dizzy Gillespie, com quem tocou com apenas 14 anos de idade, os também trompetistas Nat Adderley e Rub Braff, o clarinetista Buddy de Franco, o guitarrista Bucky Pizzarelli, os trompetistas Freddie Hubbard e Woody Shaw, os saxofonistas James Moody, David Sanborn e Sonny Stitt, a pianista e cantora Diana Krall, o cantor Tony Bennett, o guitarrista Les Paul, o vibrafonista e “band leader” Lionel Hampton, entre outros nomes importantes.
Suas composições estão perpetuadas em mais de uma dezena de discos e também em trilhas sonoras do cinema e peças musicais da Broadway. Gravou também alguns CDs com repertório de música clássica, reforçando toda sua versatilidade como artista criativo.
Merecem destaque, também, suas participações especiais no famoso programa de rádio nos Estados Unidos da pianista Marian McPartland, transmitido para todo o país e também no The Tonight Show e Late Nite com David Letterman da TV americana, além de várias participações ao lado da The Atlanta Simphony Orchestra e da The Boston Pops, esta última muito conhecida e com vários lançamentos primorosos em CD.
Até breve, Ray Kennedy !!! Tive a honra de conhecê-lo pessoalmente e nunca esquecerei seu raro talento e sua extrema simpatia e simplicidade.
Gilson Peranzzetta & Mauro Senise – “Dois na Rede”
A dupla, formada pelo pianista, compositor, arranjador e maestro Gilson Peranzzetta e o saxofonista, flautista e arranjador Mauro Senise, completou 25 anos de parceria musical, sempre marcada pela profunda amizade e admiração recíprocas.
O primeiro CD da dupla, “Uma Parte de Nós”, foi lançado no ano de 1990 e já era um prenúncio do que eles realizariam por várias outras vezes.
Para este momento tão importante na carreira vitoriosa de ambos, resolveram se reunir no palco do auditório do mítico Espaço Tom Jobim, localizado no Jardim Botânico, na cidade do Rio de Janeiro, ambientado no formato especial de teatro de arena, para gravar, de forma ousada, um CD ao vivo.
Era uma única oportunidade e tudo deu muito certo. Atmosfera do local perfeita, teatro lotado, público caloroso e participativo, som de primeira e a dupla deu um verdadeiro show de interpretação.
Lançado pelo selo Fina Flor, o CD contou com 12 belas faixas, todas com arranjos de Gilson, numa mescla do melhor da MPB, do Choro, Frevo e do Jazz, além de improvisos muito inspirados. A produção foi assinada pela competente Produtora Eliana Peranzzetta.
Ambos se divertiram muito e o resultado, expressivo, é fruto de muita dedicação, inúmeros ensaios e uma noite mágica, como ambos definiram, 16 de outubro de 2014, data da gravação.
O nome do CD foi curiosamente inspirado numa conversa de pescadores que recolhiam sua rede, na beira do mar em Recife. Gilson contou que, após ouvir a conversa, não resistiu e se inspirou para compor o frevo, que leva o nome do CD.
Gilson compôs 5 temas do disco e destaco “Braz de Pina, meu Amor”, “Bilhete Pro Guinga” e a faixa-título “Dois na Rede”. E mais, “Jura Secreta”, “Aqui Ó”, “Canção Que Morre No Ar”, “Só Louco” e “A História de Lily Braun”.
E como escreveu Gilson Peranzzetta, no encarte do CD, “Tudo vale a pena quando a música não é pequena”, improvisando o texto de Fernando Pessoa.
Realmente a música destes dois músicos é gigante, inspirada, intensa, e a pulsação do coração de ambos, pode ser sentida em cada nota, em cada improviso.
“Daniel de Paula e a Irmandade”
Pode até parecer óbvio, mas o Jazz na cidade de São Paulo está recheado de boas atrações e excelentes músicos.
Para mim, divide o melhor da cena nacional com a cidade do Rio de Janeiro, que também é absurdamente qualificada no quesito música.
O baterista Daniel de Paula é um destes bons exemplos e sua experiência, em mais de 20 anos de carreira, lhe rendeu parcerias musicais com Cesar Camargo Mariano, Gal Costa, Claudio Zoli, Jair Rodrigues, Wilson Simoninha, Fernanda Porto, entre outros nomes importantes.
Teve formação musical desde pequeno e, além da bateria, estudou piano erudito, harmonização e arranjo, que lhe possibilitaram mais conteúdo e liberdade na hora de criar suas composições.
E o resultado disso podemos conferir neste primeiro trabalho como líder, que foi lançado este ano de forma independente, com oito composições autorais, que misturam o Jazz com a música brasileira.
Reuniu em estúdio alguns de seus grandes amigos, como Cássio Ferreira no sax alto, Josué dos Santos no sax tenor, Leandro Cabral no piano, Vinicius Gomes na guitarra e Sidiel Vieira no contrabaixo acústico.
E, de forma surpreendente, além da bateria, Daniel de Paula se arrisca com competência no violão e solta a voz no único tema cantado, que encerra o trabalho.
Destaco os temas “Primeira”, “Retratos da Alma”, “A Irmandade”, “Canto de Esperança” e “Boa Nova”.
Um trabalho muito bem equilibrado, com destaque para a grande sensibilidade e o trabalho cuidadoso do líder nos arranjos, em que ficam muito evidentes as suas influências das marcantes raízes do bom e tradicional Jazz.
O diálogo entre os saxofones alto e tenor é outro ponto marcante e os improvisos são bastante inspirados.
Está aí uma boa surpresa. Pode apostar, sem nenhuma dúvida.