Durante todas as segundas-feiras de julho acontece a apresentação do espetáculo de rua “Projeto Bispo – Tratados como bicho, comportam-se como um”. A produção percorre as ruas do Centro para mostrar os dramas de quem não se enquadra num padrão social da vida moderna. Em entrevista ao Jornal da Orla, um dos criadores do espetáculo, o ator santista Junior Brassalotti, conta os detalhes e os desafios do espetáculo, que fará parte do Festival de Barbacena (MG) neste mês.
Jornal da Orla – Do que se trata o “Tratados como bicho, comportam-se como um”? De onde veio a inspiração?
Junior Brassalotti – Projeto Bispo fala da loucura, de seres humanos à margem da sociedade, dos excluídos pela sua baixa condição social, cor de pele ou identidade sexual. A intenção original era pesquisar a obra do Bispo, Estamira, Stela do Patrocínio e outros. Então, fomos para as ruas ouvir e descobrir quem são os personagens do Centro de Santos. Foi quando os moradores de rua passaram a interagir com o elenco, nos dando histórias incríveis e terríveis de vida e de injustiça social que, em épocas passadas, teriam sido levados para reclusão em locais como a Casa de Saúde Anchieta.
Quais os desafios de encenar na rua, neste percurso em que o público deve acompanhar?
Brassalotti – A rua é o palco mais desafiador para o ator, pois, por mais que a dramaturgia tenha um roteiro a ser seguido, devemos estar preparados para tudo que pode acontecer. Os moradores de rua interagem de uma forma fantástica conosco, num ponto em que, às vezes, nem a plateia separa quem é quem. Os problemas que encontramos foi com o sistema que, em tese, deveria nos proteger. Já sofremos agressões verbais de guardas municipais, ameaças com arma de fogo de policiais que por mais de uma vez tentaram interromper as apresentações. Fazemos nosso teatro de forma gratuita e sentimos que somos tão marginalizados como nossos personagens.
O Projeto Bispo é premiado. Qual a expectativa para a participação no Festival de Barbacena?
Brassalotti – Será uma apresentação histórica para nós! Vamos nos apresentar no local em Minas Gerais, onde antigamente ficava o Hospital Colônia, atual Museu da Loucura, considerado o maior manicômio brasileiro onde foram mortos mais de 60 mil pessoas em histórias atrozes muito parecidas com as do Hospital Anchieta aqui em Santos. Será uma honra representar a cidade e ressignificar esse espaço, outrora de dor, com o teatro santista, sempre provocador e inquieto. Estamos articulando com o poder público e privado de Santos e Guarujá parcerias que viabilizem o traslado para uma equipe de 15 pessoas para Minas Gerais. Além disso, após cada apresentação passamos o chapéu, antiga tradição das artes públicas, para quem quiser contribuir.
Serviço: Projeto Bispo – “Tratados como bicho, comportam-se como um”.
Todas as segundas-feiras, às 20h. Saída da Praça Mauá e término na Casa da Frontaria Azulejada (Rua do Comércio, 96). Ingressos: uma lata de leite em pó ou um quilo de alimento não-perecível.